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Papa Francisco diz que Martinho Lutero levou Bíblia às pessoas

O pontífice quer entrar para a história como um grande defensor do diálogo entre as religiões e mantém boas relações com judeus, protestantes e muçulmanos

Papa: a viagem de Francisco para celebrar um dos momentos mais difíceis da história católica suscita críticas entre os setores mais conservadores da Igreja (Tony Gentile/Reuters)

Papa: a viagem de Francisco para celebrar um dos momentos mais difíceis da história católica suscita críticas entre os setores mais conservadores da Igreja (Tony Gentile/Reuters)

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AFP

Publicado em 28 de outubro de 2016 às 16h00.

O papa Francisco vai iniciar na segunda-feira uma viagem de dois dias à Suécia, onde participará das comemorações organizadas com motivo dos 500 anos da Reforma de Martinho Lutero, que provocou um cisma na Igreja Católica, em um gesto histórico de reconciliação com os protestantes.

Um dos pontos centrais da visita do papa argentino será a sua presença em uma cerimônia conjunta na cidade de Lund, sul da Suécia, para comemorar o aniversário da reforma impulsada por Lutero, o fundador da igreja protestante, cujas críticas ao comércio de privilégios e indulgências lhe custaram a excomunhão em 1520.

A cisão gerada por Lutero, considerado um herege desde 1518, quando negou a autoridade papal, deu lugar a massacres e guerras atrozes e desenvolveu um ódio tenaz entre as duas comunidades cristãs que se estendeu por séculos.

Com a viagem de Francisco, as controvérsias doutrinárias são deixadas de lado, e os avanços alcançados graças ao diálogo iniciado no Concílio Vaticano II (1962-1965), que apelava ao respeito mútuo, são destacados.

"Não é todo dia que um papa celebra Lutero", comentou o porta-voz do Vaticano, Greg Burke, ao ressaltar a importância histórica da visita.

Diálogo entre religiões

O pontífice argentino, que quer entrar para a história como um grande defensor do diálogo entre as religiões, mantém boas relações com líderes judeus, protestantes e muçulmanos desde que era arcebispo de Buenos Aires.

Francisco falará em espanhol durante a sua breve permanência na Suécia, país com nove milhões de habitantes, dos quais apenas 1,2% é católico, sendo a maioria luterana ou ateia.

Sob o lema "Juntos na esperança", Francisco chegará à Suécia na segunda-feira (31) e regressará na terça-feira (1) à Roma.

Durante sua estadia, se reunirá com os membros da família real, com o primeiro-ministro e com os representantes da Federação Luterana Mundial.

"A participação do papa é um fato sensacional", comentou o pastor alemão Theodor Dieter, diretor do Instituto de Pesquisa Ecumênica, com sede em Estrasburgo, e especialista em teologia luterana.

"Não se deve esquecer que Lutero descreveu o papa como o anticristo e criticou muito severamente a igreja católica romana", lembra o renomado teólogo.

A viagem de Francisco para celebrar um dos momentos mais difíceis da história católica suscita críticas entre os setores mais conservadores da Igreja, que a consideram inadequada.

"Não vamos comemorar tanto os 500 anos da reforma protestante, senão principalmente os 50 anos do começo do diálogo entre luteranos e católicos", explicou o cardeal Kurt Koch à imprensa.

"Lutero não queria dividir a Igreja. Não queria criar duas igrejas. Queria reformar a Igreja Católica, mas naquele momento não era possível, e (isso) deu lugar à divisão dos cristãos e a terríveis guerras de religião", resumiu o purpurado.

Após quase cinco séculos de divisões, as duas igrejas evoluíram de formas diferentes, e na Suécia o pontífice estará rodeado por bispos mulheres, algo que a Igreja Católica rejeita contundentemente.

Paz e refugiados

Além do diálogo inter-religioso, Francisco aproveitará para lançar, no estádio Malmö, um novo pedido de solidariedade com os refugiados, e para fazer um apelo à paz - dois temas que unem católicos e protestantes.

Entre os convidados que se pronunciarão no estádio estão o religioso colombiano Hector Fabio Henao, que falará sobre o processo de paz na Colômbia, e o bispo de Aleppo, cidade síria que sofre bombardeios constantes.

"Acredito que o mundo precisa de um gesto de unidade dos cristãos. Um gesto que diga que os cristãos apostam na paz. Já não há guerras entre nós. O mundo precisa de um gesto que diga que a paz é possível", comentou Jens-Martin Kruse, pastor luterano residente em Roma.

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