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Papa defende "mudança" do sistema econômico mundial

"Digamos sem medo: queremos uma mudança", disse o Papa Francisco em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia


	"Vocês são os verdadeiros poetas sociais", disse o Papa ao se dirigir aos movimentos populares, que costumam ser "descartados pelos mercados"
 (Dado Ruvic/Reuters)

"Vocês são os verdadeiros poetas sociais", disse o Papa ao se dirigir aos movimentos populares, que costumam ser "descartados pelos mercados" (Dado Ruvic/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 10 de julho de 2015 às 06h38.

O Papa Francisco pediu nesta quinta-feira "uma mudança" no mundo para uma "economia a serviço dos povos", após condenar "o atual sistema", que "não se aguenta".

"Digamos sem medo: queremos uma mudança", disse o Papa em Santa Cruz de la Sierra, ao destacar que "quando o capital se converte em ídolo e dirige as opções dos seres humanos, e a avidez por dinheiro tutela todo o sistema socioeconômico", se condena o homem e a natureza.

"Reconhecemos que as coisas não andam bem em um mundo onde há tantos camponeses sem terra, tantas famílias sem teto, tantos trabalhadores sem direitos, tantas pessoas feridas em sua dignidade?" - perguntou o Papa durante um encontro com representantes e delegados de movimentos populares e de base, incluindo membros de comunidades carentes e sem-terras.

"Reconhecemos que as coisas não andam bem quando explodem tantas guerras sem sentido e a violência fratricida toma conta dos nossos bairros? Reconhecemos que as coisas não andam bem quando o solo, a água, o ar e todos os seres da criação estão sob ameaça permanente? Então, digamos sem medo: necessitamos e queremos uma mudança".

"Vocês são os verdadeiros poetas sociais", disse o Papa ao se dirigir aos movimentos populares, que costumam ser "descartados pelos mercados".

Francisco também condenou que, às vezes, sob a nobre roupagem da luta contra a corrupção, o tráfico de drogas e o terrorismo, "se impõe aos Estados medidas que pouco têm a ver com a solução destas problemáticas e, muitas vezes, agravam as coisas".

Primeiro Papa latino-americano da História, Francisco pediu ainda "perdão" em nome da Igreja pelos "crimes cometidos contra os povos originários da América" durante a conquista.

"Quero dizer-lhes, quero ser muito claro, como foi João Paulo II: peço humildemente perdão, não só pelas ofensas da própria Igreja, mas pelos crimes contra os povos originários durante a chamada conquista da América", clamou o Papa durante encontro com os movimentos de base e populares de todo o mundo.

Na mesma reunião, Francisco implorou pelo fim do "genocídio" contra os "irmãos por sua fé em Jesus" no Oriente Médio e em outras partes do mundo, no que chamou de "terceira guerra mundial em cotas".

"Hoje vemos com espanto como no Oriente Médio e em outros lugares do mundo se persegue, tortura e assassina muitos de nossos irmãos por sua fé em Jesus".

"Devemos denunciar isto: dentro desta terceira guerra mundial em cotas que vivemos, há uma espécie de genocídio em marcha que deve acabar", disse o Papa em um encontro com representantes dos movimentos sociais.

Horas antes, o Papa criticou as "castas dos diferentes" dentro da Igreja e aqueles que sentem que Jesus é só para os aptos, indiferentes à dor e que deixam de ser pastores para se tornar "capatazes".

"Pareceria lícito que encontrem espaço somente os autorizados, uma casta dos diferentes, que pouco a pouco se separa, diferenciando-se de seu povo. Fizeram da identidade uma questão de superioridade", disse o pontífice em uma mensagem a 4.000 religiosos em um anfiteatro de Santa Cruz.

Como ocorreu na véspera no Equador, o Papa argentino se reuniu com freiras, seminaristas e sacerdotes latino-americanos para adverti-los que correm o risco de cair na "indiferença ou de seguir as modas", sem "se envolverem" na dor do povo e de sua terra.

"Há sacerdotes que têm vergonha de falar sua língua original e então esquecem seu quéchua, seu guarani, seu aimara, porque agora falam bem", advertiu Francisco.

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