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Palestinos buscam na ONU terra prometida há 64 anos

O mesmo fórum das Nações Unidas que assistiu a divisão da Palestina irá assistir a tentativa de reconhecimento do país

Com mais de seis décadas de atraso, o Conselho de Segurança da ONU escutará Abbas reivindicar o cumprimento de uma das duas partes do plano de partilha da Palestina (Uriel Sinai/Getty Images)

Com mais de seis décadas de atraso, o Conselho de Segurança da ONU escutará Abbas reivindicar o cumprimento de uma das duas partes do plano de partilha da Palestina (Uriel Sinai/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 21 de setembro de 2011 às 20h19.

Nova York - Sessenta e quatro anos depois que a ONU dividiu a Palestina histórica em duas, o presidente Mahmoud Abbas buscará no mesmo fórum o reconhecimento de um Estado palestino de pleno direito, uma "terra prometida" que Israel já conseguiu em 1949.

Com mais de seis décadas de atraso, o Conselho de Segurança da ONU escutará Abbas reivindicar o cumprimento de uma das duas partes do plano de partilha da Palestina feito sob mandato britânico em 27 de novembro de 1947, que estipulava a criação de dois Estados, um judeu ao lado de outro árabe, tendo Jerusalém como capital internacional.

Este plano foi votado pelos 56 países-membros que integravam o organismo internacional na ocasião e recebeu 33 votos a favor, 13 contra e 10 abstenções.

No entanto, apenas os israelenses alcançaram um status de independência imediato depois que, em 14 de maio de 1948, David Ben-Gurion proclamou o Estado de Israel.

Esta declaração foi rejeitada pelos habitantes da Palestina e dos países árabes. Sete deles, Egito, Síria, Jordânia, Líbano, Iraque, Arábia Saudita e Iêmen, se envolveram na primeira guerra árabe-israelense, que Israel ganhou, mas com a qual foi iniciada uma sucessão de conflitos sangrentos perpetuados até hoje.

Sessenta e três anos depois da "Nakba", quando os palestinos foram exilados em decorrência da criação do Estado de Israel, Abbas pedirá o reconhecimento de uma terra para seu povo, com as fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias de 1967, o que inclui Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental.

Também se passaram quase 23 anos desde que o já falecido líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) Yasser Arafat leu em Argel, em 15 de novembro de 1988, a Declaração de Independência do novo Estado palestino, algo que ficou apenas no papel.


Esta declaração reconhecia, pela primeira vez, o direito à existência do Estado de Israel com fronteiras seguras e pedia sua retirada das fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias.

Na sexta-feira, Abbas falará a uma ONU que atualmente é três vezes superior em número de membros à de 1947 e que conta com 193 Estados. O último país a se incorporar à lista foi o Sudão do Sul, admitido em 14 de julho, cinco dias após proclamar sua independência.

Abbas, um dirigente moderado da velha-guarda palestina, se dirigirá à Assembleia Geral quase 37 anos após seu antecessor no cargo, o histórico Arafat, que chegou ao fórum internacional com uma pistola presa ao cinto e usando o "kufiya" ( o tradicional lenço beduíno usado na cabeça).

Arafat deixou para a história a frase: "Hoje eu estou segurando um ramo de oliveira e a arma de um lutador pela liberdade. Não deixem o ramo de oliveira cair de minhas mãos". A declaração foi dada quando a OLP era admitida como membro observador da ONU, status que agora seu sucessor quer elevar.

A vida de Abbas, de 76 anos, pode ser considerada símbolo do conflito. O governante nasceu no povoado de Safed, que estava sob o mandato britânico e que hoje faz parte de Israel. Sua família teve que se exilar na Síria em 1948. O líder foi um dos principais incentivadores dos Acordos de Oslo de 1993, após terem fracassado todas as guerras árabes-israelenses (1948, 1956, 1967 e 1973).

O dirigente palestino comparecerá sem grandes expectativas ao Conselho de Segurança, onde são necessários nove votos dos 15 membros não-permanentes e nenhum veto dos permanentes, algo que parece impensável, visto que os Estados Unidos já anunciaram seu bloqueio.

Caso fracasse, restará uma segunda opção: recorrer à Assembleia Geral, onde uma simples maioria de votos elevaria seu atual status.

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