Síria: "Seja quem for o autor desses ataques, a Rússia é em última instância responsável", disse o chefe da diplomacia dos EUA (Bassam Khabieh/Reuters)
AFP
Publicado em 23 de janeiro de 2018 às 18h59.
Representantes de mais de vinte países decidiram nesta terça-feira (24) pressionar pela imposição de sanções contra o uso de armas químicas na Síria, em um encontro em Paris no qual o Secretário de Estado americano, Rex Tillerson, denunciou a "responsabilidade" da Rússia nesses ataques.
"Ontem novamente mais de vinte civis, a maioria crianças, foram vítimas de um ataque supostamente com cloro", disse Tillerson, referindo-se a novas acusações contra o regime sírio por um suposto ataque químico em uma cidade de Guta Oriental, um enclave rebelde a leste de Damasco, no qual se registraram pelo menos 21 casos de asfixia.
"Seja quem for o autor desses ataques, a Rússia é em última instância responsável", disse o chefe da diplomacia americana durante esta conferência na qual foi lançada essa nova iniciativa internacional em resposta ao recente veto russo na ONU sobre o tema.
"Simplesmente não se pode negar que a Rússia, ao proteger seu aliado sírio, descumpriu seus compromissos com os Estados Unidos como garantidora do marco" que supervisiona a destruição das reservas de armas químicas da Síria, segundo o acordado em setembro de 2013, acrescentou.
Tillerson e seu colega francês, Jean-Yves Le Drian, também vão liderar um encontro de ministros para lançar as bases de uma iniciativa do presidente francês, Emmanuel Macron, que quer criar um grupo de contato sobre a Síria que reúna os cinco membros do Conselho de Segurança de a ONU e os países da região.
Também participaram dela seu contraparte britânico, Boris Johnson, vários ministros europeus e do Oriente Médio.
Na reunião desta terça-feira, 24 países se comprometeram a compartilhar informações e a estabelecer uma lista de pessoas envolvidas no uso de armas químicas na Síria, onde a guerra deixou mais de 340 mil mortos.
Essa iniciativa acontece depois de um duplo veto russo ao projeto de resolução para renovar o mandato dos especialistas que investigam o uso de armas químicas na Síria.
"Cloro, sarin, gás mostarda, VX, esses nomes da morte voltaram ao cenário internacional e com eles as terríveis imagens das vítimas dessas armas de terror", declarou Le Drian.
"A situação atual não pode continuar", sentenciou.
A França anunciou antes da reunião que congelou os ativos de 25 empresas e executivos sírios, franceses, libaneses e chineses acusados de ajudar o regime sírio a desenvolver o uso de armas químicas.
Trata-se principalmente de importadores e distribuidores de metais, eletrônicos e sistemas de iluminação domiciliados em Beirute, Damasco ou Paris.
No entanto, a lista não inclui autoridades do regime sírio. "Não temos elementos hoje que nos permitam iniciar esses procedimentos ao nível das autoridades políticas sírias", admitiu o Ministério das Relações Exteriores francês.
Apesar de sua promessa de destruir as armas, o regime sírio foi acusado em várias ocasiões de ter utilizado armas químicas contra seu próprio povo.
Desde 2012 foram registrados pelo menos 130 ataques com armas químicas na Síria, segundo estimativas francesas.
Os investigadores da ONU estabeleceram a responsabilidade do regime sírio em pelo menos quatro desses ataques, incluindo um com sarin que matou pelo menos 80 pessoas em 2017.
As negociações sobre a Síria sob o auspício da ONU serão retomadas nesta quinta-feira em Viena. A Rússia também busca, juntamente com o Irã e a Turquia, construir uma saída para este conflito que já custou mais de 340 mil vidas desde 2011. Espera concretizar uma iniciativa de paz durante uma cúpula em Sochi, a ser realizada nos dias 29 e 30 de janeiro.
Os Estados Unidos anunciaram no dia 17 de janeiro que suas tropas permanecerão na Síria até a derrota total do grupo radical Estado Islâmico.