Recompensa brilhante: governo de Dubai ofereceu para quem perder peso um grama de ouro por cada quilo perdido (Duncan Chard/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 19 de fevereiro de 2014 às 17h47.
Dubai - A demanda por cirurgias de redução de peso está se expandindo junto com as cinturas no Golfo Pérsico, depois que a riqueza gerada com o petróleo transformou cidadezinhas e povoados árabes em grandes cidades onde as pessoas andam menos e comem mais.
O Al Noor Hospitals Group realizou mais de 500 das cirurgias bariátricas nos Emirados Árabes Unidos no ano passado, o dobro de cinco anos atrás, disse ontem o diretor de estratégia, Sami Alom, em uma entrevista. Ele vê mais demanda porque “a obesidade e a diabetes são dois tsunamis caindo em cima de nós”. O governo de Dubai está tão preocupado que ofereceu para quem perder peso um grama de ouro por cada quilo perdido.
O chefe e pai de Alom, Kassem Alom, lembra que Abu Dhabi tinha um único hospital quando ele chegou lá em 1978, um ano antes da abertura do primeiro restaurante americano de comida rápida. Desde então, ele viu como os habitantes dos Emirados passaram “de uma vida ativa para uma vida sedentária. De repente, há riqueza. Eles usam carros, comem junk food”.
Menos de quatro décadas depois da sua chegada, 100.000 pessoas nos Emirados fazem refeições todos os dias nos 19 restaurantes de comida rápida, o maior número entre 34 países em um ranking da Bloomberg de 2012. Os dados enfatizam como hábitos de consumo que evoluíram em períodos mais prolongados no Ocidente mudaram mais rapidamente no Golfo. Um dos resultados é uma iminente crise sanitária, outro é um boom de investimentos em hospitais.
As doenças ligadas à obesidade poderiam custar ao Conselho de Cooperação do Golfo (GCC), de seis países, US$ 68 bilhões por ano até 2022 em produção perdida e custos de tratamento, quase o dobro da cifra de 2013, diz a Booz Co em um estudo de dezembro. Isso é equivalente a cerca de 4,5 por cento do atual PIB. Cinco desses países estão entre os dez com maiores taxas de ocorrência de diabetes, segundo os consultores Frost Sullivan.
Mudança nos estilos de vida
A Al Noor é uma das empresas de atendimento médico que estão recorrendo aos mercados acionários para satisfazer o aumento da demanda. A empresa arrecadou 221 milhões de libras esterlinas (US$ 369 milhões) em uma abertura de capital em Londres em junho. Desde então, as ações subiram cerca de 50 por cento.
É a mudança nos estilos de vida do Golfo que está ajudando a criar oportunidades para investimentos, disse Sobhi Batterjee, CEO do Saudi German Hospital Group, como sede em Jeddah, em uma conferência de investimentos em Dubai.
“No Oriente Médio, somos fascinados por tudo o que for ocidental”, disse Nael Mustafa, CEO da Magnolia Restaurant Management, com sede em Dubai. Quando um novo restaurante chega ao Golfo, disse ele, possui um atrativo que vai além da “atração de novos conceitos na Europa ou nos EUA. Lá as pessoas estão mais acostumadas com marcas”. Mustafa disse que sua companhia se foca em trazer marcas de comida rápida mais saudável.
Taxas de obesidade
O resultado são algumas das taxas de obesidade em adultos mais altas do mundo: 43 por cento no Kuwait, 34 por cento nos Emirados e 35 por cento na Arábia Saudita, segundo dados da ONU. Em comparação, a média em países desenvolvidos é de 22 por cento e a maior taxa entre esses países é a dos EUA, de 32 por cento.
Os governos estão tentando incentivar a adoção de estilos de vida mais saudáveis para reduzir os custos cada vez mais caros dos tratamentos. No Qatar, milhares de pessoas participaram de atividades esportivas ao ar livre como jogos de futebol, escalada de paredes e artes marciais no dia 11 de fevereiro, declarado feriado esportivo nacional pelo segundo ano consecutivo.
Em julho Dubai ofereceu aos competidores um grama de ouro por cada quilo perdido em um mês, dado que eles percam pelo menos dois quilos. Como parte do programa, que se chama “Your Weight in Gold” (Seu peso em ouro), as autoridades organizaram campos de exercícios ao ar livre para os participantes, onde eles poderiam consultar médicos e se exercitar.
Nos Emirados, as autoridades também começaram a avaliar programas para diagnosticar doenças como a diabetes. A Al Noor faz parte desse programa, disse Sami Alom.
“Estamos muito interessados no atendimento preventivo”, disse Alom. “Reverterá as tendências que citamos no curto prazo, isto é, nos próximos cinco anos? De jeito nenhum”.
“Vai demorar muito tempo para a educação sanitária e os bons hábitos que vêm com ela recuperarem o atraso com a riqueza”, disse Alom.