Voluntários enterram o corpo de uma das vítimas do surto de ebola, em Kailahun (WHO/Tarik Jasarevic/Divulgação via Reuters)
Da Redação
Publicado em 11 de agosto de 2014 às 19h10.
Paris - Apesar do baixo risco de que uma epidemia de ebola chegue à Europa, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os maiores países do continente estão preparando suas estruturas de saúde pública para a eventualidade.
O Ministério da Saúde da França confirmou nesta segunda-feira, 11, ter ordenado que nove hospitais do país criem centros de acolhimento de emergência de potenciais pacientes. No Reino Unido, há suspeitos em "quarentena voluntária".
Os hospitais mobilizados na França estão nas cidades de Paris, Lille, Rennes, Bordeaux, Estrasburgo, Marselha e Lyon, além de uma base das Forças Armadas na cidade de Saint-Mandé.
A informação, até então mantida sob sigilo, foi revelada pelo jornal Le Parisien. De acordo com nota do Ministério da Saúde, o risco de importação do vírus é baixo, mas não pode ser excluído.
"Diante do caráter virulento dessa doença uma vigilância excepcional se impõe", justificou a autoridade sanitária.
Todos os hospitais disporão de um serviço de doenças infecciosas, de uma central de reanimação com quartos isolados, de um laboratório preparado para garantir o confinamento do vírus e também de helipontos para o transporte de passageiros.
As medidas foram tomadas sem que nenhum paciente infectado pelo vírus tenha sido identificado na Europa, além do padre Miguel Pajares, internado em Madri em estado estável após ter sofrido o contágio na Libéria.
O governo do Reino Unido, porém, confirmou na semana passada ter "várias pessoas" em "quarentena voluntária", suspeitos de terem entrado em contato com o vírus na África. Um paciente vem sendo "monitorado de perto" em Cardiff, no País de Gales.
"Há outras pessoas no Reino Unido que voltaram de países infectados e que estiveram em risco", afirmou Anna Humphries, porta-voz do Ministério da Saúde do País de Gales.
Em Londres, uma unidade, o Royal Free Hospital, foi preparado para a eventualidade de infecções em solo britânico. Como medida preventiva, a companhia aérea British Airways cancelou voos para Serra Leoa e para a Libéria.
Na sexta-feira a União Europeia elevou para 11,9 milhões os recursos doados à OMS e a organizações não-governamentais como Médicos Sem Fronteiras (MSF), Cruz Vermelha e Crescente Vermelho, que atuam na região.
A preocupação na Europa cresceu depois que a OMS decretou o ebola como "urgência de saúde pública mundial" na semana passada.
Uma das iniciativas de Bruxelas é instalar, provavelmente em Serra Leoa, um laboratório de análises clínicas especializado no vírus da doença.
"Salvar vidas e fornecer mais assistência à África Ocidental é mais do que nunca uma prioridade urgente", justificou o comissário europeu de Desenvolvimento, Andris Piebalgs.
Bruxelas, no entanto, vem frisando que o risco de contágio no continente é "extremamente baixo", de acordo com o comissário de Saúde, Tonio Borg. "O risco é extremamente baixo porque poucas pessoas que passam pela Europa são suscetíveis de estarem infectadas e porque a doença só se transmite pelo contato direto com fluidos corporais de um doente", explicou.
Nesta segunda, porém, um estudante alemão foi internado em isolamento em Kigali, em Ruanda, com suspeita de ebola após passagem pela Libéria. Um segundo caso da doença também foi confirmado na Nigéria, de uma enfermeira infectada na capital, Lagos.
Em compensação, houve um avanço no combate à doença.
De acordo com o jornal The Independent, pesquisadores britânicos encontraram o ponto de origem da epidemia, que teria começado a partir da contaminação de uma criança de dois anos no vilarejo de Gueckedu, no sudeste de Guiné, morta em 6 de dezembro após apresentar sintomas da doença, entre os quais febre alta, náuseas e diarreia.
O objetivo dos infectologistas é descobrir a causa do primeiro caso - possivelmente a ingestão de carne de morcego, comum na região.
A atual epidemia de ebola na África, a mais grave desde a descoberta da doença, em 1976, já teria deixado 960 mortos, segundo a OMS, entre os 1,8 mil pacientes infectados.