Bomba Nuclear (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 27 de janeiro de 2012 às 15h21.
São Paulo – Um estudo inédito elaborado pela Iniciativa de Ameaça Nuclear (Nuclear Threat Initiative, em inglês), um grupo privado de Washington, em parceria com a Economist Intelligence Unit (unidade de pesquisa da revista britânica The Economist), avaliou pela primeira vez a capacidade e a segurança dos países que armazenam materiais nucleares, como plutônio e urânio enriquecido, utilizados na fabricação de bombas e armamentos.
A pesquisa, que foi financiada pela Fundação MacArthur e pela Carnegie Corporation de Nova York, apontou grandes riscos e falhas em nações até então consideradas “seguras”, como Estados Unidos e Japão, e mostrou pontos cruciais que devem ser superados por estes países para que as armas nucleares não caiam em mãos erradas, ou seja, cheguem até os terroristas.
O levantamento classificou 32 países com base em 18 critérios, incluindo a quantidade de material nuclear armazenado, as proteções físicas, os métodos de contabilidade e segurança de transporte, bem como fatores sociais de cada nação – considerando até estabilidade política e casos de corrupção.
A Austrália figurou na primeira posição do ranking após ter reduzido consideravelmente a quantidade de materiais nucleares presentes em seu território, para um nível considerado “pequeno”. O país ainda se saiu bem nos critérios de normas globais, recebendo no geral 94 pontos de 100 (pontuação máxima do levantamento).
A grande surpresa da lista é o Irã, que figurou na 30ª posição. Apesar de o país alegar que seu programa nuclear possui fins pacíficos, a equipe responsável pelo estudo acredita que o país já detém urânio altamente enriquecido.
O Paquistão, que ficou em 31º lugar, foi acusado de possuir um sistema de transporte de material nuclear sem segurança. Outro fator que também prejudicou o país foi a instabilidade política e a presença de grupos terroristas ansiosos para colocar as mãos em bombas produzidas na nação mulçumana. No último lugar (32º) está a Coreia do Norte que, por sua vez, apresenta um sistema de segurança nuclear deficiente.
Bom desempenho
Apesar de seguir fortemente os compromissos e normas globais de segurança já firmados no passado, o Reino Unido ficou na 10ª posição do no ranking, prejudicado pela grande quantidade de locais onde são armazenados os materiais nucleares.
Heni Ozi Cukier
“O mesmo ocorreu com os Estados Unidos, que ficou em 13º lugar. O fato de ter um grande número de locais de armazenamento eleva a probabilidade de incidentes ocorrerem, por mais blindada que a segurança do país possa ser”, opina o cientista político Heni Ozi Cukier, professor de Relações Internacionais da ESPM e que trabalhou no Conselho de Segurança da ONU.
O Japão figurou na 23ª posição, afetado principalmente pela sua vasta reserva de plutônio, além de medidas de segurança e controle inferiores às visto nos Estados Unidos e no Reino Unido, por exemplo. Outro fator que também colaborou para o mau desempenho nipônico foi a falta de uma agência reguladora local que possa fiscalizar a produção de ingredientes nucleares.
O Brasil não integrou a lista dos 32 países que armazenam material nuclear. Por outro lado, o país nunca deixou de lado seu interesse por enriquecer urânio. “Apesar de não admitir esta intenção categoricamente, o país possui sim esta ambição”, avalia Cukier.
Relevância
“Este estudo é muito importante. É a primeira pesquisa deste tipo que estabelece uma lista de fatores que podem servir de parâmetro para que os países possam futuramente desenvolver melhorias para tornar mais seguro o armazenamento de armas nucleares”, diz o cientista político da ESPM.
A visão de Cukier também é compartilhada por quem é responsável pela pesquisa. Deepti Choubey, diretor da Iniciativa de Ameaça Nuclear, prevê que o levantamento deverá agitar o debate sobre como promover a segurança de materiais nucleares, restringindo ainda mais o acesso por parte de terroristas. “Nós nunca vamos concluir este trabalho caso continuemos a operar sobre portas fechadas”, disse ele em entrevista concedida ao jornal americano The New York Times.
As informações coletadas pelo grupo de defesa privado, em parceria com a Economist Intelligence Unit, são todas públicas e muitas vezes pouco conhecidas, destacou Leo Abruzzese, diretor de previsões globais da revista The Economist, citado pelo periódico americano.
“Não houve nenhuma espionagem”, afirmou o executivo, após revelar que “uma riqueza de dados obscuros foram reunidos, resultando no levantamento”. Segundo Abruzzese, entre as informações coletadas, por exemplos, estavam números sobre procedimentos gerais de treinamento para guardas e dados sobre a proteção de lugares onde estão armazenados os materiais nucleares.
Cautela é necessária
A preocupação com o armazenamento de materiais nucleares já foi levantada pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em 2010, quando ele realizou uma cúpula sobre segurança em Washington, chamando a atenção para o perigo.
O temor é de que terroristas possam adquirir ou roubar ingredientes de armas nucleares armazenadas em diversas localidades ao redor do mundo, principalmente diante das tensões recentes que envolvem os países do Oriente Médio e nações do ocidente.
“Não podemos esquecer que até Osama bin Laden tinha interesse em adquirir uma bomba nuclear. Várias agências de inteligência ao redor do mundo têm acompanhado os terroristas e sabem do desejo deles em ter acesso a ingredientes como urânio enriquecido”, lembra Heni Ozi Cukier, da ESPM.
“Isso é muito preocupante. O pior dos cenários seria um ataque atômico promovido por terroristas. E isso não pode acontecer. É com este intuito que o relatório aponta as fragilidades de cada nação e serve de alerta para que os países mantenham seus materiais nucleares protegidos”, acrescenta.
O próximo encontro de líderes para discutir a segurança nuclear mundial está agendado para março deste ano em Seul, capital da Coreia do Sul.