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Os países mais mortais para quem defende a (sua) terra

O ano de 2015 foi o mais mortal para ativistas ambientais no mundo — e Brasil o país mais perigoso


	Terreno perigoso: 2015 foi o ano mais mortal para ativistas ambientais no mundo — e Brasil o país mais perigoso.
 (Thinkstock)

Terreno perigoso: 2015 foi o ano mais mortal para ativistas ambientais no mundo — e Brasil o país mais perigoso. (Thinkstock)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 21 de junho de 2016 às 16h34.

São Paulo - Historicamente, ambientalistas têm sido alvo de ataques por suas ações em defesa da natureza, das comunidades tradicionais e por denunciarem injustiças. Mas a violência está escalando: três pessoas foram assassinadas por defender suas terras, florestas e rios contra atividades danosas, por semana, em 2015, o ano mais mortal para ambientalistas. 

Um relatório da ONG Global Witness constatou que pelo menos 185 ativistas ambientais foram assassinados em todo o mundo em 2015 — um aumento de 59% em relação aos dados de 2014.

A maior parte das vítimas protestava contra atividades ligadas a empreendimentos de energia hidrelétrica, mineração e empresas do agronegócio. Quase três quartos destas mortes ocorreram na América Central e do Sul, enquanto que o Sudeste Asiático foi a segunda região mais afetada.

A entidade compilou as mortes de ambientalistas em 17 países no mundo. O Brasil lidera em número de mortes, com 50 casos em 2015 (o dobro do ano anterior), seguido das Filipinas (33) e Colombia (26). Veja abaixo:

//datawrapper.dwcdn.net/7oEFm/4/ A A Global Witness diz que os governos têm parte de culpa na violência, ao criminalizar ativistas que organizam protestos, especialmente no Congo, Etiópia e Madagascar. "Ao redor do mundo, o conluio entre estado e interesses corporativos funcionam como escudo para esses crimes", diz o texto.

Entre os casos bem documentados, 16 estão relacionados com grupos paramilitares, 13 com o exército, 11 policiais e 11 guardas de segurança privada.

Os dados mostram que 67 dos ativistas assassinados no ano passado pertenciam a comunidades indígenas, a taxa mais elevada já registrada.

A entidade destaca, ainda, que para cada assassinato documentado, "há outros que não podem ser verificados ou não são declarados" e que "para cada pessoa morta, muitas mais sofrem violência, ameaças e intimidação constante".

Violência sem precedentes

O relatório da Global Witness alertou para a crescente violência contra ativistas ambientais no Brasil, o país com maior número de mortes. A entidade destaca que o líder rural Isídio Antonio foi uma das últimas vítimas da Amazônia brasileira. Isídio desapareceu no 20 de dezembro de 2015 e foi encontrado morto quatro dias depois. 

"Isídio tinha sofrido vários ataques e recebeu ameaças de morte por defender a terra de sua comunidade contra um grupo de fazendeiros poderosos que exploram madeira. Seus pedidos às autoridades para dar-lhes proteção foram sistematicamente ignorados na pequena comunidade de Vergel, no estado do Maranhão", destaca a entidade. 

Segundo a Agência Brasil, em 2013, a Anistia Internacional já havia denunciado as ameaças sistemáticas que Antônio Izídio e outras famílias da comunidade vinham sofrendo. “O assassinato de Antônio Isídio revela uma falha sistêmica das autoridades no enfrentamento dos conflitos no campo e na garantia de proteção às comunidades rurais e quilombolas no país”, disse a entidade em nota.

Neste ano, um caso trágico na América do Sul foi a morte de Berta Cáceres, ativista ambiental e líder indígena, assassinada em sua cidade natal de La Esperanza, em Honduras, no dia 3 de março.

Em 2015, a ativista hondurenha recebeu o Prêmio Goldman, considerado o Nobel do meio ambiente, por sua militância contra a construção de uma represa hidrelétrica no Río Gualcarque. O empreendimento tinha como sócia a maior empresa construtora de represas do mundo, a chinesa Sinohydro, e ameaçava a permanência dos povos indígenas em seus territórios ancestrais.

A sina desses ambientalistas parece seguir aquelas que tiveram Chico Mendes (líder ambientalista assassinado em 1988), a irmã Dorothy Stang (missinária norte-americana assassinada no Pará em 2005) e o casal José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, assassinados em maio de 2011 após denúnciarem madeireiros e carvoeiros na Amazônia.

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