Presidentes governaram de forma autoritária, sem se diferenciar dos antigos faraós (SXC.Hu)
Da Redação
Publicado em 3 de junho de 2012 às 16h46.
Cairo - 'Governar o Egito não é tarefa fácil', pronunciou o último rei do país, Farouk, antes de partir para o exílio em 1952, numa frase ainda vigente após a passagem de quatro militares pela Presidência, num país que, pela primeira vez, elege seu líder de forma democrática.
O monarca deposto fazia essa advertência àquele que pouco depois se transformaria no primeiro presidente da história do Egito, o general Mohammed Najib, que participou da chamada Revolução dos Oficiais Livres em 23 de julho daquele ano, na prática um golpe de Estado militar contra a monarquia.
Embora a era dos presidentes estivesse começando em 1952 no país do Nilo, berço das civilizações, ela não representou uma mudança efetiva em relação aos poderes absolutos que até então eram desfrutados pelos governantes egípcios, fossem eles faraós, califas ou reis.
Pelo contrário, os presidentes foram a réplica moderna dos antigos falcões egípcios: homens fortes que não duvidaram em aplicar mão de ferro como corretivo para governar o Estado mais populoso do Oriente Médio.
Até o momento, quatro generais, alguns deles heróis de guerra, ocuparam a Presidência egípcia: Najib, os carismáticos Gamal Abdel Nasser e Anwar el-Sadat, e Hosni Mubarak, derrubado em fevereiro de 2011 em uma revolta popular.
O general mais veterano dos 'oficiais livres', Najib, foi presidente apenas durante os 17 primeiros meses da então recém-inaugurada república do Egito em 1953.
Admirador de Napoleão Bonaparte, seu mandato foi frustrado pelas disputas internas do regime e inclusive teve um destino mais cruel que o do exilado rei Farouk, já que, após ser destituído por seus próprios companheiros, permaneceu em prisão domiciliar durante 18 anos.
Se há um presidente lembrado pelos egípcios com idolatria é o sucessor de Najib, Gamal Abdel Nasser (no poder entre 1954 e 1970), pai do pan-arabismo e modernizador do Estado egípcio.
Aqueles foram os anos da ainda venerada diva musical egípcia e árabe, Umm Kulthum, estandarte do nacionalismo e das derrotas perante Israel (1956 e 1967), embora Nasser sempre tenha aparecido como um herói diante do povo, num período em que o ufanismo pela pátria atingiu seu auge na história.
Nasser empreendeu ainda grandes projetos de infraestrutura, como a construção da represa de Assuã, e nacionalizou o Canal de Suez (1956), em uma afronta ao Estado de Israel e às antigas potências colonialistas no Oriente Médio, França e Reino Unido.
Após a morte de Nasser por ataque cardíaco em 1970, outro dos 'oficiais livres', Anwar al-Sadat, de ascendência sudanesa por parte de mãe, tomou as rédeas do país.
Os 11 anos de Presidência de Sadat foram marcados por bastante polêmica, já que se livrou de seus inimigos políticos e buscou no começo o apoio dos islamitas, ao contrário de Nasser.
Mas se a Presidência de Sadat passou para a História foi pelas relações com Israel. Após a guerra do Yom Kippur, em 1973, na qual o Egito conseguiu derrotar Israel durante alguns dias, Sadat fez inimigos dentro e fora do país ao assinar um tratado de paz com o Estado vizinho seis anos depois.
Com a assinatura do tratado, Sadat não só assinou a paz, mas também sua condenação de morte porque, em 6 de outubro de 1981, foi assassinado por radicais islamitas, contrários à paz com Israel, em um desfile militar que lembrava a guerra de 1973.
Junto a Sadat, na tribuna das autoridades, estava seu quase desconhecido vice-presidente, Hosni Mubarak, ex-comandante em chefe das Forças Armadas, que teve a incumbência de sucedê-lo.
Como governante militar, uma das primeiras disposições de Mubarak foi a promulgação de uma lei de emergência, vigente durante seus 30 anos de mandato, utilizada como instrumento de repressão contra os islamitas, seus principais adversários políticos. Em paralelo, empreendeu um processo de liberalização da economia e se apresentou como um aliado do Ocidente.
A corrupção, a falta de liberdade e o baixo reflexo do crescimento econômico nas vidas da maioria dos egípcios levou-os às ruas em 25 de janeiro de 2011 para pôr fim ao regime, em uma revolução de 18 dias que engrandeceu os movimentos da Primavera Árabe.
Agora, restam dois candidatos na corrida eleitoral em busca da Presidência egípcia, representantes dos dois polos do panorama político do país: o islamita Mohammed Mursi, da Irmandade Muçulmana, e o general Ahmed Shafiq, último primeiro-ministro do regime de Hosni Mubarak.
Se algo se pode presumir sobre o futuro presidente do Egito é que, diferente de seus antecessores, terá sido eleito de forma democrática.