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Os muros invisíveis da ocupação israelense na Cisjordânia

Muros formados por centenas de oliveiras que rodeiam aldeia na Cisjordânia oprimem seu desenvolvimento e isolam os cidadãos


	Cisjordânia: barreiras não protegem cidadãos das colônias judias que os cercam
 (flickr.com/photos/mk30/)

Cisjordânia: barreiras não protegem cidadãos das colônias judias que os cercam (flickr.com/photos/mk30/)

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Da Redação

Publicado em 31 de outubro de 2014 às 13h02.

Burqa - "Muros invisíveis" formados por centenas de oliveiras que rodeiam a aldeia de Burqa, na Cisjordânia, oprimem seu desenvolvimento e isolam os cidadãos sem protegê-los das colônias judias que os cercam.

A expressão "Os muros invisíveis da ocupação" foi escolhida como título pela ONG israelense B"tselem para um relatório apresentado nesta semana que denuncia como as barreiras, mesmo as abstratas, são capazes de restringir milhares de palestinos a pequenos povoados pulverizados pela Cisjordânia, tal como a aldeia de Burqa.

"Antigamente muita gente vivia por aqui, as pessoas iam todos os dias até a cidade de Ramallah, onde trabalhavam. A vida era mais prazerosa e tranquila, além de barata", recordou Amjad Mohatan, gerente de um dos poucos supermercados da cidade.

"No entanto, desde a Segunda Intifada (2000-2005), quando a estrada de acesso à Ramallah foi fechada, muitas pessoas se mudaram definitivamente para a cidade", afirmou o gerente, em uma estrada que já não leva a lugar nenhum.

Esta estrada é paralela à via principal, que liga Nablus a Jerusalém, acessada depois de passar por um túnel e várias aldeias com casas deslumbrantes pertencentes aos palestinos em diáspora, particularmente nos Estados Unidos, que durante os verões retornam às suas raízes.

No total, os três quilômetros que separam a cidade da capital administrativa da Cisjordânia se transformam em uma viagem de mais de 40 minutos, feita diariamente por muitos moradores, em veículos privados, ônibus ou táxis compartilhados.

Em função disso o acesso a serviços básicos, como hospitais e também o ritmo de vida dos cidadãos é dificultado.

"Caso alguém adoeça é necessário esperar quase uma hora para chegar até o hospital mais próximo, além do valor desembolsado para que o levem até lá", disse Amjad Mohatan, ao falar sobre mais uma consequência gerada pelas paredes erguidas pelo sistema administrativo-legal israelense.

De acordo com o gerente, membro de uma das maiores famílias de Burqa, "quase 70% das terras" pertencentes à sua família estão inacessíveis, e "isto afeta gravemente a economia da região", declarou.

Enquanto isso, ele percorre um olival cujo final é determinado por um "posto avançado", como são conhecidos os grupos de caravanas que dão origem aos assentamentos judaicos - considerados ilegais de acordo com as leis internacionais e até mesmo pelo próprio Estado de Israel.

"É muito difícil trabalhar nas colheitas sob ameaças, onde antes havia três caravanas, agora há sete. Na temporada passada, quatro pessoas foram agredidas enquanto colhiam as azeitonas", continuou, enquanto caminhava entre a terra parcialmente carbonizada -"obra dos extremistas", garantiu.

A pesquisa feita pela ONG atribui o impacto econômico sofrido por 2.700 habitantes -50% estão na linha de pobreza ou à beira dela - às limitações de deslocamento, confisco de terras e às dificuldades de desenvolvimento urbano da cidade, que depende de permissões israelenses.

"A esperança criada pelos moradores das áreas B (sob controle administrativo e militar israelense da Palestina) quando os poderes foram transferidos para a autoridade Palestina, se dissolveu pelo fato de o controle total de Israel sob a área C representar um alto poder de influência em diversos aspectos das áreas A e B", criticou a B"tslem.

Said Ismail, de 16 anos, acompanha com o olhar alguns de seus cinco irmãos que brincam no pátio de casa. Às suas costas está Migrón e na varanda pode-se avistar Kochav Yaakov, dois dos quatro assentamentos judaicos, construídos nas proximidades das terras palestinas da cidade desde os anos 60.

"Recebemos um aviso dizendo que nossa casa será demolida. Há oito meses encontramos um documento escrito em hebraico em nossa porta com uma ordem de despejo, embora não saibamos quando", contou à Agência Efe.

Em uma casa perto dali é possível perceber os olhares das crianças, elas se escondem atrás das cortinas ao avistarem o pai descendo de um táxi compartilhado, após passar o dia trabalhando na construção.

"Nossa casa tem 25 anos e nunca tivemos problemas", contou, ressaltando a arbitrariedade das decisões.

"Burqa deve ser visitada na primavera", recomendou Mohatan, afirmando que os campos divididos, dos quais é proprietário através de herança familiar, adquirem lindas tonalidades.

"Esperamos que as autoridades e organizações façam pressão para que os assentamentos ilegais sejam removidos, porque eles transformam a nossa vida em um verdadeiro inferno e roubam nossas terras, nas quais antigamente podíamos trabalhar e colher os frutos, que nos garantiam renda e alimentação", desejou o gerente antes de voltar às prateleiras da loja vazia.

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