Mundo

Os motivos que estão fazendo mais brasileiros em Portugal pedirem para voltar ao Brasil

Número de solicitações de retorno foi recorde em 2022; desemprego, inflação e preço dos aluguéis estão por trás do fenômeno

Sem autorização de residência emitida pelo governo, o imigrante vive uma vida pela metade. (Leandro Fonseca/Exame)

Sem autorização de residência emitida pelo governo, o imigrante vive uma vida pela metade. (Leandro Fonseca/Exame)

Agência o Globo
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 11 de março de 2023 às 10h16.

Desemprego ou emprego precário, aluguéis caros e inflação de 30% da cesta básica em um ano e burocracia do governo português: uma combinação de fatores levou os brasileiros em Portugal a bater o recorde de pedidos para voltar ao país de origem em 2022.

Em 2022, 913 brasileiros se inscreveram no programa de retorno voluntário Árvore, da Organização Internacional para as Migrações. E 350 conseguiram apoio financeiro para voltar ao Brasil. São 17 a mais que em 2020, ano da explosão da pandemia de Covid-19.

Chefe da missão em Lisboa do programa Árvore, integrante do sistema da ONU, Vasco Malta enumerou os principais motivos dos pedidos para voltar. Segundo ele, os brasileiros incluíram na lista a dificuldade de obter uma autorização de residência.

— Há uma mistura entre falta de acesso ao emprego, dificuldade das condições econômicas e da regularização. No universo dos cidadãos brasileiros em Portugal, que é bastante grande, para nós, é um número significativo (o de inscritos no ano passado). Entre as pessoas que nos procuram, cerca de 80% são brasileiras — disse Malta.

Vida pela metade

Sem autorização de residência emitida pelo governo, o imigrante vive uma vida pela metade. Em tempos de inflação, especulação imobiliária e disputa acirrada de empregos, o brasileiro sem documentos dificilmente consegue arrumar um bom trabalho e alugar um imóvel decente no Porto ou e em Lisboa.

As condições de habitação dos imigrantes viraram discussão nacional após dois indianos morrerem em um incêndio num apartamento na Mouraria, no coração de Lisboa. O imóvel estava superlotado de imigrantes e não apresentava condições de segurança.

As estimativas do Ministério da Administração Interna, que controla o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), são de que há cerca de 150 mil imigrantes à espera da regularização. A maioria é de brasileiros que conseguiram algum trabalho, mesmo que autônomo, contribuem para a Previdência Social e pagam impostos. Mas têm direitos limitados e, sem documento, são vistos como potenciais problemas por proprietários de imóveis e empregadores, que até se recusam a recebê-los em uma entrevista.

Apesar de ser um número pequeno diante dos 555 mil brasileiros no país, os 350 brasileiros que voltaram com a ajuda do Árvore levaram Malta a disparar um alerta para os que planejam emigrar para Portugal.

— Venham informados. Isto significa que a pessoa ou família que decidir emigrar deverá preparar, estudar, procurar saber qual a realidade que vai encontrar. É fundamental que as famílias decidam sempre com base em fatos para que o processo migratório corra bem — afirmou.

Cerca de 9 mil brasileiros já fizeram cadastro no Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) para emigrar a Portugal com o novo visto e procurar trabalho. O visto é uma das medidas recentes do governo para ordenar a entrada de imigrantes no país, que vive uma crise de mão de obra.

Regularização

Nas últimas semanas, Portugal despertou para o problema da regularização e da dificuldade de obter um visto e criou medidas emergenciais. Mas algumas são paliativas, como a extensão por decreto até o fim do ano das autorizações vencidas desde 15 de dezembro.

Em janeiro, o governo abriu a renovação automática de 21,5 mil autorizações, a maioria de brasileiros, vencidas no primeiro trimestre. Nem todos que têm documentos expirados neste período foram abrangidos, no entanto.

Ontem, o governo apresentou a nova plataforma de regularização automática para brasileiros e africanos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Estará disponível segunda-feira pela manhã e atenderá, na primeira fase, aqueles com processo em andamento e têm contrato de trabalho.

Milhares de brasileiros aguardam na fila do agendamento do SEF para o reagrupamento familiar, autorização de residência a parentes de estrangeiros residentes e europeus. A última abertura de vagas foi há quatro meses. Superlotado de pedidos e sem estrutura, o SEF está perto do fim. O governo adiou duas vezes a medida, que deverá acontecer em três semanas. Dará lugar a uma nova agência de imigração.

Acompanhe tudo sobre:PortugalBrasil

Mais de Mundo

Votação antecipada para eleições presidenciais nos EUA começa em três estados do país

ONU repreende 'objetos inofensivos' sendo usados como explosivos após ataque no Líbano

EUA diz que guerra entre Israel e Hezbollah ainda pode ser evitada

Kamala Harris diz que tem arma de fogo e que quem invadir sua casa será baleado