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Os lugares que estão prontos para uma crise em 2015

Enquanto especialistas discutiam possíveis surpresas ruins para o próximo ano, certas localidades, como Ilhas Spratly, Narva e Fezã, eram recorrentes

Vista do mar a partir de praia das Ilhas Spratly, no mar do sul da China (Wikimedia Commons)

Vista do mar a partir de praia das Ilhas Spratly, no mar do sul da China (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 17 de dezembro de 2014 às 21h20.

Paris/Washington - Ilhas Spratly. Narva. Fezã. Esses lugares correm o risco de se tornar muito conhecidos em 2015. Você não sabe em que parte do mapa eles estão? Muita gente também não sabia onde Donetsk, na Ucrânia, e Raqqa, na Síria, ficavam quando 2014 estava começando.

Enquanto os especialistas discutiam as possíveis surpresas ruins de 2015, certas situações eram recorrentes: um incidente naval entre a China e um dos seus vizinhos por diversas ilhas pouco habitadas. Uma nova investida dos rebeldes islâmicos do sul sem lei da Líbia contra a África Ocidental. Uma implosão da Coreia do Norte.

Outras possibilidades incluem uma investida russa contra os países bálticos, uma terceira intifada palestina, um ataque israelense contra o Irã e a persistência da queda dos preços do petróleo, que poderia desestabilizar países como a Rússia e a Venezuela.

“Não dá para prever a próxima crise, mas dá para ver que algumas regiões já estão prontas para disparar”, disse Michael Clarke, diretor geral do grupo de pesquisa Royal United Services Institute (RUSI) em Londres. “Não sabemos de onde o rato vai sair, mas sabemos onde as ratoeiras estão montadas”.

Poucos analistas previram que a rejeição de um pacto comercial entre a Ucrânia e a União Europeia desencadearia o impasse mais tenso com a Rússia desde o fim da Guerra Fria. E o poder do Estado Islâmico foi subestimado em muitos lugares do mundo antes do violento e bem-sucedido ataque ao Iraque.

“O risco geopolítico vai prevalecer no próximo ano: nenhum dos conflitos deste ano – seja o da Ucrânia, o do Oriente Médio ou as disputas entre a China e o Japão – foi reconciliado”, disse Russ Koesterich, diretor de estratégias de investimento da BlackRock Inc., com sede em Nova York. “Esses conflitos congelados vão estar conosco por um tempo e vão continuar aparecendo, como em 2014”.

Moedas em quebra

A agitação também poderia surgir das eleições programadas em lugares como Israel, Grécia e Reino Unido, onde partidos extremistas ameaçam perturbar as agrupações estabelecidas. A queda dos preços do petróleo já fez com que o rublo, da Rússia, caísse 52 por cento neste ano e que o bolívar, da Venezuela, despencasse 65 por cento no mercado negro. Operadores de swaps estão apostando esmagadoramente que a Venezuela vai dar calote.

A China está disputando a soberania do Mar da China Oriental com o Japão e a Coreia. Usando um mapa publicado pela primeira vez na década de 1940, a China também reivindica cerca de 90 por cento do Mar da China Meridional, inclusive as ilhas Spratly e Paracel. Taiwan, Vietnã, Filipinas, Malásia e Brunei têm reivindicações conflitantes.

“As agressivas reivindicações marítimas da China poderiam acabar mal”, disse Philippe Moreau-Defarges, do Instituto Francês de Relações Internacionais em Paris. “A China está decidida a expandir seu domínio marítimo e sempre existe o risco de que algum incidente com um navio de guerra do Japão, do Vietnã ou das Filipinas fuja do controle”.

Nacionalismo japonês

As reivindicações marítimas conflitantes são exacerbadas pela crescente retórica nacionalista do Japão. O primeiro-ministro Shinzo Abe irritou a Coreia e a China com sua visita, em dezembro de 2013, ao santuário Yasukuni – a primeira realizada por um primeiro-ministro em exercício desde 2006 –, onde diversos criminosos de guerra são homenageados.


“Há riscos provenientes das tensões entre a China e o Japão, disse Claudia Panseri, estrategista de ações internacionais no SG Private Banking em Paris. “Ninguém está falando sobre isso, mas, se as empresas chinesas pararem de importar produtos do Japão, até as injeções de dinheiro de flexibilização quantitativa do banco central poderiam durar pouco”.

As crises de anos anteriores não foram resolvidas. Donetsk e grande parte do leste da Ucrânia continuam sob o comando de separatistas russos desde que o país se dividiu quanto a vincular seu futuro à UE ou à Rússia do presidente Vladimir Putin.

Pressão báltica

“A Ucrânia pode não piorar mais, mas o risco é que a Rússia comece a pressionar outros países, sejam os países da OTAN no Mar Báltico ou os países da Ásia central que têm dúvidas em relação à União Econômica Eurasiática”, disse Stefano Silvestri, presidente do Instituto de Relações Exteriores, com sede em Roma.

O secretário geral da OTAN, Jens Stoltenberg, disse no dia 2 de dezembro que aviões da OTAN interceptaram 400 aviões de guerra russos neste ano às margens do espaço aéreo da aliança. Estônia, Letônia, Moldávia e Cazaquistão possuem regiões com grande população de minorias étnicas russas, como Narva, na Estônia.

A situação entre a Rússia e a Ucrânia foi considerada, de longe, o maior risco geopolítico de 2015, pelos 84 economistas que participaram de uma pesquisa da Bloomberg News na semana passada. Cinquenta e um por cento a escolheram como o principal risco. O segundo, entre os 14 principais, foi a categoria Oriente Médio/Estado Islâmico.

Para os produtores de petróleo, como a Rússia, o Irã e a Nigéria, a queda dos preços pode levar os governos a tomarem medidas heterodoxas para reforçar a economia ou conservar o apoio público. Os preços de referência em Nova York caíram cerca de 44 por cento neste ano, para cerca de US$ 57 por barril. O Irã precisa que o barril de petróleo custe US$ 143 para manter o orçamento equilibrado, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Para a Rússia, o valor é de US$ 100, disse o ministro das Finanças, Anton Siluanov, no mês passado. Ele acrescentou que o valor cairá para US$ 90 em 2015.

Consequências negativas do petróleo

As quedas dos preços do petróleo também não vão ajudar a Nigéria, que já está lutando para conter o movimento islâmico Boko Haram. O maior produtor de petróleo bruto da África está particularmente vulnerável agora, disse Peter Pham, diretor do Centro Africano do Atlantic Council, grupo de políticas de Washington.

Em outro lugar da África, a fronteira sul do Saara poderia gerar uma surpresa desagradável. Depois que a França enviou tropas a Mali em janeiro de 2013 para repelir um ataque das milícias radicais islâmicas, muitos dos militantes se reagruparam na região sem lei de Fezã, na Líbia.

De lá, eles ameaçam toda a região e, possivelmente, também a Europa.

Chegada de refugiados

Um dos países mais frágeis do Oriente Médio é o Líbano, cujo governo reúne xiitas, sunitas e cristãos. O equilíbrio está ameaçado agora que os libaneses estão participando de todos os lados do conflito da Síria e que um influxo de refugiados sírios constitui um quarto da população do Líbano.

Israel está ameaçado por suas próprias divisões e a opinião pública palestina está fervendo por causa da falta de avanços para acabar com a ocupação israelense na Cisjordânia. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu demitiu os ministros mais favoráveis a um acordo com os palestinos e marcou novas eleições para março.

Em meio às trevas, há possibilidades de que cheguem notícias boas em 2015. O Irã poderia dar fim ao impasse de três décadas com os EUA e chegar a um acordo em relação ao seu programa nuclear. “Acho que é possível fechar um acordo”, disse Clarke, do RUSI. “Ambos os lados têm interesse”. E os líderes da Rússia e da China provavelmente saibam o suficiente de xadrez para perceber quando se distanciar de confrontos em suas fronteiras.

Eleições europeias

As possíveis faíscas são exacerbadas pela debilidade dos poderes ocidentais, com um cansaço pelas intervenções nos EUA e a fragilidade econômica da Europa. Um partido contrário à participação britânica na EU deve avançar nas eleições que serão realizadas até o fim de 2015 e um partido grego que pretende reescrever os acordos de dívida do país poderia vencer as eleições no país mais endividado e marcado pela recessão da Europa.

A capacidade dos EUA para enfrentar os riscos internacionais encontrará dificuldades se a campanha presidencial de 2016, que ganha força no próximo ano, apelar para o crescente cansaço público com as responsabilidades internacionais do país”, disse Mathew Burrows, diretor da Iniciativa de Previsão Estratégica do Atlantic Council. “Há muitos curingas em um mundo cada vez mais desordenado”.

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