Petro em celebração da vitória: presidente eleito tomará posse em agosto (Ovidio Gonzalez/Getty Images)
AFP
Publicado em 20 de junho de 2022 às 10h23.
Última atualização em 20 de junho de 2022 às 11h07.
Gustavo Petro convenceu metade dos colombianos com suas promessas de mudança. Mas agora o primeiro presidente de esquerda eleito do país terá que formar maiorias e vencer a resistência de militares e empresários para governar um país dividido sobre seu mandato.
Para vencer o outsider milionário Rodolfo Hernández (47,3%), o ex-guerrilheiro e senador de 62 anos moderou muitas de suas antigas posições radicais. Depois de vencer o segundo turno com 50,4% dos votos, Petro tem a responsabilidade de governar um país marcado pela polarização após uma campanha agressiva.
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A seguir, os principais desafios que Petro enfrentará, segundo analistas:
Uma bancada importante, mas não majoritária, acompanhará as iniciativas do inédito governo de esquerda no Parlamento.
"Agora o problema é a governabilidade no Congresso. Petro deve tentar propor o que chamou de grande acordo nacional (...) porque claramente o país está bem fragmentado em dois setores", disse à AFP Alejo Vargas, professor do Direito da Universidade Nacional.
A opinião é compartilhada por Sergio Guzmán, da consultoria 'Colombia Risk Analysis': "Este resultado não dá um mandato claro para executar suas políticas sem ao menos tentar acalmar os questionamentos de seus opositores".
Durante o mandado como prefeito de Bogotá (2012-2015), Petro entrou em conflito com a Câmara Municipal, que barrou muitas de suas iniciativas. Agora ele chega à presidência cercado de políticos tradicionais, que podem servir de ponte com o Parlamento.
"Ele vai enfrentar uma oposição muito forte, porque a direita neste país é a principal ideologia. Apesar de estar espalhada por muitos partidos é fácil estabelecer uma associação e desafiar o governo de Petro", afirma Felipe Botero, professor de Ciências Políticas da Universidad de Los Andes.
Em seu primeiro discurso como presidente eleito, Petro enviou uma mensagem tranquilizadora ao empresariado, que durante a campanha o acusou de promover um socialismo fracassado.
"Foi uma campanha de mentiras e medo, que iríamos expropriar os colombianos, destruir a propriedade privada (...) Nós vamos desenvolver o capitalismo na Colômbia. Não porque o adoramos, mas porque primeiro temos que superar a pré-modernidade", disse à multidão que celebrava sua vitória.
Para Botero, esta foi uma "mensagem muito clara à direita, dizendo 'eu sou de esquerda, mas isto não quer dizer que vou transformar radicalmente o modelo econômico'".
O economista Jorge Restrepo, no entanto, alerta que o ex-guerrilheiro e senador ainda precisa construir "confiança" com o setor produtivo.
"Tem a ver com não considerar as empresas como rivais, e sim gestores de desenvolvimento e geração de empregos (...) É muito difícil porque não há antecedentes de um governo de esquerda a nível nacional", adverte o professor da Universidade Javeriana.
A julgar pelo primeiro discurso de Petro, o atrito não vai demorar: "Ele disse coisas que envolvem regulamentação, um dos principais medos dos mercados", disse Botero.
O empresário Mario Hernández, ativo opositor de Petro durante a campanha, se mostrou aberto ao diálogo.
"Chegou a oportunidade para Gustavo Petro demonstrar a 50% dos colombianos e a mim que estávamos equivocados", escreveu no Twitter o magnata do setor de vestuário.
Após a posse, os militares terão que jurar lealdade a um ex-membro das guerrilhas esquerdistas que combateram durante seis décadas de conflito.
No fim de abril, Petro acusou membros da cúpula militar de aliança com o Clã do Golfo, o maior grupo de narcotráfico do país.
Em resposta, o comandante do exército, general Eduardo Zapateiro, o acusou de "politicagem", em uma incomum intervenção política em um país onde a Constituição proíbe a força de segurança pública de participar no debate político e votar.
"A desconfiança entre o presidente e os militares é significativa", afirma Guzmán, antes de acrescentar que o esquerdista "terá que escolher um ministro da Defesa que tenha o respeito e a confiança dos membros das Forças Militares".
Em caso contrário, destaca, a transição será um "desastre".
"O que todos os presidentes fazem quando chegam ao poder é um expurgo dos altos postos militares (...) Petro tem que fazer isso com luva de pelica", explica Botero.
Neste sentido será fundamental o nome escolhido para o cargo de ministro da Defesa. Até o momento, o presidente eleito revelou apenas que nomeará para a pasta uma mulher especializada em Direitos Humanos.
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