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Os campos de prisioneiros que Kim Jong-un vai herdar

Governo nega a existência dos campos, mas organizações de direitos humanos estimam que há cerca de 200 mil presos políticos no país

O filho mais novo do falecido líder, Kim Jong-un, pode endurecer a repressão, diz Anistia Internacional (AFP)

O filho mais novo do falecido líder, Kim Jong-un, pode endurecer a repressão, diz Anistia Internacional (AFP)

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Da Redação

Publicado em 19 de dezembro de 2011 às 16h46.

São Paulo – Entre os legados que Kim Jong-il, ditador da Coreia do Norte, que morreu neste final de semana, deixa para Kim Jong-un – o mais novo de seus filhos e seu sucessor no poder – administrar estão os campos de prisioneiros, que abrigam cerca de 200 mil dissidentes do governo, segundo estimam organizações de defesa dos direitos humanos.

Oficialmente, pouco se sabe sobre estes aparatos de repressão da ditadura norte-coreana, que o governo nega existirem.

Mas em maio deste ano, a Anistia Internacional, organização de defesa dos direitos humanos, divulgou imagens de satélite e relatos de ex-prisioneiros e ex-funcionários que permitem ter uma ideia de onde ficam e do que se passa nestes locais.

De acordo com a organização, há pelo menos seis campos deste tipo em atividade no país. Segundo os relatos, os presos políticos são forçados a trabalhar em condições próximas à escravidão e são frequentemente sujeitos a tortura e outras práticas “cruéis, desumanas e degradantes”, incluindo execuções públicas.

“Por décadas, as autoridades se negaram a admitir a existência de campos de prisioneiros políticos em massa”, disse Sam Zarifi, diretor para Ásia e Pacífico da Anistia Internacional. “A Coreia do Norte não pode mais negar o inegável”.

A organização acredita que os campos estejam em operação desde meados da década de 1950. No entanto, apenas três pessoas conseguiram escapar dessas áreas e deixar o país.

Segundo uma das testemunhas, sobrevivente de um campo em Yodok, cerca de 40% dos prisioneiros morreram de desnutrição entre 1999 e 2001.

Imagens de satélite obtidas pela organização mostram vastas áreas ocupadas por quatro dos seis campos, nas províncias de Pyongan do Sul, Hamkyung do Sul  e Hamkyung do Norte. Nesta área são produzidos bens que variam de pasta de feijão de soja e doces a cimento e carvão.


De acordo com a organização, uma comparação das imagens feitas em, 2001 com as atuais mostram que estes campos teriam crescido consideravelmente em escala.

Entre os presos políticos, há milhares que estão presos apenas por associação – ou seja, por serem parentes de ativistas políticos. A maioria dos presos fica confinada a uma área chamada de “Zona de Controle Total”, da qual nunca será libertada. Muitos dos prisioneiros sequer sabem sob qual acusação foram detidos, segundo a Anistia.

O ex-priosioneitro Jeong Kyoungil, que ficou detido em Yodok de 2000 a 2003, disse à organização que as celas eram apertadas e as jornadas de trabalho eram extremamente longas. A comida era escassa – há registros de prisioneiros comendo espigas de milho e fezes de animais para sobreviver - e “todos os dias morriam pessoas”. A organização também ouviu relatos de celas de tortura usadas para punir prisioneiros malcomportados.

Em comunicado, a organização alertou que Kim Jong-un pode intensificar ainda mais as políticas de repressão no país para consolidar seu poder durante a fase de transição.

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