Leopoldo López: o líder opositor cumpre uma pena de quase 14 anos acusado de incitar a violência nos protestos de 2014 (Juan Barreto/AFP/AFP)
AFP
Publicado em 28 de abril de 2017 às 15h32.
Centenas de venzuelanos se dirigiam nesta sexta-feira para às prisões onde estão detidos Leopoldo López e outros políticos para reclamar sua liberdade, ao completar um mês de intensos protestos que exigem a saída do presidente Nicolás Maduro.
"Liberdade, liberdade!", gritavam os manifestantes, usando camisetas com o rosto de López, enquanto avançavam a caminho de Ramo Verde, periferia de Caracas, onde o líder opositor cumpre uma pena de quase 14 anos acusado de incitar a violência nos protestos de 2014.
Milhares elementos da Guarda Nacional bloqueavam as vias com caminhões e uma barreira metálica.
"Não queremos confronto, violência, disparos. Queremos solidariedade para com pessoas que, como Leopoldo, estão resistindo; queremos um país sem ditadura e sem repressão", afirmou Lilian Tintori, esposa do opositor, ao convocar a mobilização.
Perto do bloqueio, o deputado opositor Henry Ramos Allup afirmou que as forças de segurança têm ordem de não deixar os opositores passarem.
Grupos de opositores se concentraram em distintos pontos de Caracas para se dirigir a Ramo Verde e ao centro de reclusão do serviço de inteligência El Helicoide, na capital, onde se encontram vários opositores presos.
Também há mobilizações em outras cidades do país.
"Ou conseguimos chegar ou nos reprimirão, mas não vão nos deter", declarou à imprensa Freddy Guevara, vice-presidente do Parlamento, único poder público que a oposição controla.
A oposição afirma que, com as prisões na onda de protestos contra Maduro que tiveram início em 1o de abril, subiu de cem para 170 o número de presos políticos, a quem o governo trata como autores de atos de violência e conspiração.
Os enfrentamentos entre as forças de segurança e os manifestantes, os distúrbios, os saques e tiroteiods que ocorreram neste mês deixaram até agora 28 mortos e dezenas de feridos, e as prisões superaram as mil pessoas, a maioria temporária.
A mobilização junto às prisões faz parte de uma ofensiva da oposição para exigir eleições gerais, respeito à autonomia do Parlamento, a liberação de seus ativistas presos e um canal humanitário que alivie a escassez de alimentos e medicamentos sofrida pelo país.
Em plena tempestade política, o governo da Venezuela começou na quinta-feira o processo de sua retirada da Organização de Estados Americanos (OEA), um fato sem precedentes na história do fórum regional.
"Tenho orgulho de dizer que tomei a decisão de retirar nossa pátria da OEA, de libertar nossa pátria do intervencionismo (...). Estamos livres da OEA e jamais voltaremos!" - afirmou o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, chamado de ditador pelo secretário-geral da OEA, Luis Almagro.
"Não reconhecemos qualquer reunião, qualquer decisão da OEA. A OEA, o caralho! Luis Almagro, o caralho! Fora OEA da Venezuela! A Venezuela se respeita e vamos nos fazer respeitar" - afirmou Maduro diante de uma concentração de mulheres chavistas em torno do palácio presidencial de Miraflores.
A Venezuela pediu à Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) uma reunião para o dia 2 de maio para, segundo o governo, combater o "bullying diplomático" da OEA.
Maduro enfrenta há um mês uma onda de protestos que exige eleições-gerais e que provocou violentos confrontos entre as forças de segurança e manifestantes, que já deixaram quase 30 mortos e centenas de feridos e detidos.
Maduro afirma que a "direita venezuelana faz terrorismo para provocar o caos", como parte de um plano com os Estados Unidos para derrubá-lo e propiciar uma intervenção estrangeira.
A oposição realizou na quinta uma sessão extraordinária do Parlamento em um estádio de Caracas, na qual pediu à comunidade internacional que exija do governo Maduro a antecipação da eleição presidencial, prevista para dezembro de 2018.
Para o dia 1º de Maio, sempre marcado por protestos chavistas, a oposição convocou uma "grande passeata", exatamente um mês após o início dos protestos.
Mais de 70% dos venezuelanos, segundo pesquisas privadas, reprovam a gestão de Maduro, cansados da escassez de alimentos e remédios, e de uma inflação que segundo o FMI chegará a 720,5% neste ano, a mais alta do mundo.