A oposição boicotou a última eleição legislativa na Venezuela e ficou sem representantes na Assembléia Nacional (Arquivo)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.
Caracas - A oposição venezuelana vai às eleições parlamentares do próximo domingo com o desafio de estabelecer seu peso no tabuleiro político do país e retornar à Assembleia Nacional (AN), de onde está ausente desde 2005 ao boicotar o último pleito.
"Aquilo (o boicote) foi um grande erro e não voltará a ocorrer", declarou à Agência Efe Juan Carlos Caldera, candidato a deputado pela oposição.
Nestas eleições legislativas, os partidos de oposição ao presidente Hugo Chávez participam da disputa reunidos na "Mesa da Unidade Democrática" (MUD), que reúne várias legendas e associações civis contrárias ao "processo revolucionário" do governante.
O objetivo é fazer frente à maquinaria "chavista" do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e conseguir uma representação de peso na unicameral Assembleia, controlada pelo Governo há cinco anos, quando a oposição decidiu retirar-se por supostas "irregularidades" no processo eleitoral.
Para a MUD, é fundamental conseguir equilibrar forças no Parlamento e evitar que siga sendo uma "jaula de focas, que só servem para aplaudir, obedecer e ser submissas", nas palavras do ex-ministro Teodoro Petkoff.
"Todas as aventuras que o Governo quer fazer são legalizadas em uma Assembleia que perdeu toda a legitimidade da sociedade venezuelana", disse Ismael García, deputado pelo Podemos, partido que fazia parte da coalizão governante.
Caldera expressou a necessidade de recuperar uma Assembleia "plural" para "resolver os problemas" da Venezuela.
"Não vamos mudar o Governo, mas sim a maneira de fazer o Governo", afirmou Caldera, que se mostrou convencido do resultado "positivo" para a oposição nas eleições do próximo domingo, às quais estão convocados mais de 17 milhões de venezuelanos para renovar a Câmara.
Todos os analistas coincidem em que o número de 110 deputados é chave neste pleito, já que constitui os dois terços das 165 cadeiras da Assembleia, maioria necessária para ter o controle parlamentar, e que permitiria a Chávez seguir governando com comodidade.
O problema da insegurança foi utilizado como eixo da campanha opositora, especialmente após a publicação em agosto de um relatório oficial que situa a taxa de homicídios em 75 para cada 100.000 habitantes em 2009, e coloca a Venezuela como um dos países mais violentos do mundo.
Segundo todas as pesquisas, a violência é a maior preocupação dos venezuelanos, acima da crise econômica, os casos de corrupção e os problemas no fornecimento de serviços básicos como eletricidade e água, também alvo das críticas da oposição sobre a "ineficaz política do Governo".
No último pleito realizado na Venezuela, o referendo de fevereiro de 2009, uma maioria de 54,36% dos eleitores aprovou a proposta de Chávez de emendar a Constituição para permitir a reeleição ilimitada do presidente da República.
No entanto, o resultado das urnas mostrou também um aumento dos que eram contrários aos planos do governante, que alcançou 45,63%, número que, segundo especialistas, indicava um aumento da rejeição ao "chavismo" que não se traduzia em apoio aos partidos da oposição tradicional.
Em suas análise, os especialistas destacaram que a oposição ao projeto de Chávez conseguiu superar então o número de 5 milhões de eleitores, enquanto o setor governante não alcançou os 7 milhões que esperava.
Consideraram, além disso, que as forças "antichavistas" deviam escolher uma direção política para enfrentar futuras batalhas eleitorais no polarizado cenário venezuelano.
Um ano e meio depois, os partidos da oposição tradicional ressurgem unidos, embora com algumas divergências, para o pleito que todos os lados consideram vitais para o futuro político do país.
A oposição, pela necessidade de reconduzir o equilíbrio de forças no Parlamento, e o Governo, para continuar aprofundando em seu "socialismo do século XXI".
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