Mundo

Oposição venezuelana cresce, mesmo com falta de projeto

A Mesa de Unidade Democrática (MUD), que reúne a oposição desde 2009, promoveu candidaturas únicas para enfrentar o rolo compressor chavista


	Leopoldo López: primeira reação da oposição veio de López, líder da Vontade Popular, ambicioso político de 42 anos educado em Harvard e figura dos radicais
 (Juan Barreto/AFP)

Leopoldo López: primeira reação da oposição veio de López, líder da Vontade Popular, ambicioso político de 42 anos educado em Harvard e figura dos radicais (Juan Barreto/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 27 de fevereiro de 2014 às 19h40.

A oposição venezuelana, após 15 anos combatendo o governante chavismo, enfrenta o desafio de apresentar um projeto além das divergências entre líderes radicais e moderados, que consiga consolidar uma alternativa em um país em crise e atingido por protestos estudantis, consideram analistas.

"Com um ano e meio sem eleições à vista, a oposição estava prestes a não encontrar rumo e os protestos (estudantis) das últimas semanas dão um ar de sobrevivência", explica à AFP a socióloga Maryclen Stelling, diretora do Observatório Global de Meios.

"O problema (dos opositores) é que não têm um projeto de país, trata-se de uma união que desaparece diante da ausência de conjunturas", acrescenta Stelling.

A Mesa de Unidade Democrática (MUD), que reúne a oposição desde 2009, promoveu candidaturas únicas para enfrentar o rolo compressor chavista, e reduziu a margem de diferença no momento de contar os votos a apenas 1,5%, quando Henrique Capriles perdeu as presidenciais de abril de 2013 para Nicolás Maduro.

Sem eleições à vista, e no âmbito das manifestações universitárias iniciadas em San Cristóbal (oeste) por estudantes que protestavam contra a insegurança, a primeira reação da oposição veio do líder da Vontade Popular Leopoldo López, um ambicioso político de 42 anos educado em Harvard e figura dos radicais.

López - hoje na prisão - convocou uma grande marcha para o dia 12 de fevereiro, que terminou acendendo o pavio dos distúrbios nas ruas de Caracas, como o lema "A Saída" do governo de Maduro, enquanto Capriles se distanciou advertindo que esta tática era uma ruptura da via constitucional e uma falsa esperança para os venezuelanos.

"Sem projeto de país, a MUD quase não tem razão de existir", acrescenta Stelling ao compará-la com o Partido Socialista Unido da Venezuela, sustentado em apenas um projeto ideológico representado pelo socialismo do falecido líder Hugo Chávez.


Um líder da conjuntura

"A oposição está experimentando um estancamento. Não há uma estratégia compartilhada de luta política e isso é um problema grave (...) Tal como está, não tem capacidade de garantir uma mudança política", analisa o cientista político John Magdaleno, diretor da consultora Polity.

Para Magdaleno, a ausência deste projeto comum de país na oposição fez com que as disputas de liderança tivessem um fundamento para além da "ambição de poder" de líderes como López ou a deputada María Corina Machado, que o apoiou em suas convocações para protestos nas ruas.

Embora Magaleno reconheça o desempenho de Capriles nas últimas presidenciais, quando perdeu pela menor margem que algum opositor já alcançou contra o chavismo, afirma que ele "parece um tanto errático".

"Outros líderes estão tentando se conectar com os crescentes problemas da base que dá apoio à oposição (...) Capriles deixou de se sintonizar com este mal-estar" após quatro derrotas eleitorais consecutivas (duas presidenciais, uma regional e uma municipal em pouco mais de um ano), acrescentou Magdaleno.

Já Stelling encara Capriles como um "líder da conjuntura" e explica que, "diante da espécie de vazio existencial e da distância de um mandato presidencial (que só pode começar em abril de 2016), sua liderança começou a ser redesenhada (...) e começaram a emergir as de López ou Machado".

Outros analistas, como o cientista político e professor da Universidade Simón Bolívar Ricardo Sucre, consideram que diante dos protestos estudantis, Capriles "foi coerente e conseguiu centralizar o grupo mais radical da oposição que não quer dialogar" com seus apelos para protestar pelos problemas do país, mas sem violência.

Para estes analistas, a média diária de 65 homicídios - segundo uma ONG -, a inflação anual de 56% e a escassez de 28% em janeiro no país com as maiores reservas petrolíferas mundiais podem capitalizar a incorporação de novos seguidores em suas fileiras, mas de nada servirá sem um projeto.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaCrise políticaOposição políticaProtestosProtestos no mundoVenezuela

Mais de Mundo

Os países com as maiores reservas de urânio do mundo

Os países com as maiores reservas de nióbio no mundo

Os 9 países com os maiores arsenais nucleares do mundo

Trump é questionado por nomear advogado pessoal para cargo no governo