Nicolás Maduro: "Há uma enorme preocupação mundial com o tema venezuelano (...) lamentavelmente se vê que não há a sensatez necessária" (Juan Barreto/AFP)
Da Redação
Publicado em 19 de maio de 2016 às 17h14.
A oposição venezuelana redobrou nesta quinta-feira a pressão internacional para abrir caminho a um referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro, que prepara as forças militares para iniciar exercícios de defesa sob o estado de exceção.
O líder da oposição Henrique Capriles e o presidente do Parlamento - de maioria opositora -, Henry Ramos Allup, e outros deputados se reuniram com o ex-presidente do governo espanhol José Luis Rodríguez Zapatero e com o ex-presidente panamenho Martín Torrijos.
"Foram revisados todos os problemas do país, o referendo, a economia. Há uma enorme preocupação mundial com o tema venezuelano (...) lamentavelmente se vê que não há a sensatez necessária", declarou o chefe da bancada opositora, Julio Borges.
Maduro se reuniu na noite de quarta-feira com Torrijos e Zapatero, que informou nesta quinta que uma comissão da Unasul iniciará gestões para alcançar um diálogo entre o governo e a oposição.
"Pedirei à comunidade internacional que apoie este objetivo de um grande diálogo nacional e que possamos ter em um prazo razoável uma agenda", declarou Zapatero, que lidera a missão, em uma coletiva de imprensa.
Na quarta-feira, os opositores exigiram o revogatório em protestos em 23 cidades, que deixaram trinta detidos e sete policiais feridos. Durante a noite foram ouvidos panelaços em vários setores de Caracas.
A oposição, reunida na Mesa da Unidade Democrática (MUD), exige que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), acusado de ser aliado do regime, acelere a revisão de um mínimo de 200.000 assinaturas - exigidas por lei - de um total de 1,8 milhão entregues no dia 2 de maio como requisito para ativar o referendo revogatório.
A MUD pressiona para que o revogatório ocorra em 2016 e sejam realizadas eleições, já que, se ele for realizado após 10 de janeiro de 2017 - quando são completados quatro anos do atual mandato - e Maduro perder, os dois anos restantes ficariam a cargo do vice-presidente, designado pelo presidente.
De acordo com a empresa de pesquisas Datanálisis, 70% dos venezuelanos apoiam uma mudança de governo. Para revogar Maduro, a oposição precisa de uma votação de mais de 7,5 milhões de pessoas, número com o qual o governante foi eleito em abril de 2013.
Militares preparados
Sob estado de exceção, 519.000 militares e milicianos farão exercícios de defesa na sexta-feira e no sábado, classificados pelo ministro da Defesa, general Vladimir Padrino, de "sem precedentes" por seu "alcance e natureza".
"Este exercício não é para causar nenhum alarme no país", manifestou o ministro, justificando-no no fato de que a "Venezuela neste momento está ameaçada".
O cientista político Benigno Alarcón, da Universidade Católica Andrés Bello, estimou que estas "grandes mobilizações militares" buscam gerar temor no povo: "Realizá-las com a desculpa das ameaças externas é uma boa maneira de demonstrar que está" a postos, afirmou.
Após os protestos, Maduro advertiu ter preparado um decreto de "comoção interna" que será utilizado se forem desencadeados atos "golpistas violentos", o que implicaria restrições às liberdades civis.
Embora os protestos não tenham atraído multidões, nas ruas aumenta o mal-estar diante da dramática escassez de comida e do alto custo da vida, já que a Venezuela tem a inflação mais alta do mundo (180,9% em 2015 e projetada pelo FMI em 700% para 2016).
"Esta situação é muito crítica, parece que não tem solução, isso demora a se acomodar. Eu assinei (para pedir o referendo), mas não fui ao protesto, prefiro ficar protegida", afirmou uma empregada doméstica de 55 anos que pediu para ter sua identidade preservada.
Ainda estão frescas na memória as manifestações de 2014 - quando 43 pessoas morreram - convocadas pelo líder opositor radical, Leopoldo López, condenado a 14 anos de prisão.
No foco internacional
Maduro sustenta que a oposição busca justificar uma intervenção dos Estados Unidos, e para isso pretende gerar violência, propagar a ideia de que na Venezuela há uma crise humanitária e faz lobby no exterior.
Uma comissão de deputados pediu nesta quinta-feira em Washington ao secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, que invoque com urgência a Carta Democrática Interamericana, mecanismo que a entidade pode ativar em caso de ruptura do marco democrático em algum Estado membro.
Em uma forte troca de declarações, Almagro disse na quarta-feira que Maduro será um "ditadorzinho" se bloquear o referendo, levando o líder venezuelano a chamá-lo de "lixo".
Ao reagir a esta polêmica, o ex-presidente do Uruguai (2010-2015) José Mujica, que foi muito próximo ao chavismo, disse que Maduro está "louco como uma cabra".