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Da Redação
Publicado em 27 de janeiro de 2014 às 17h26.
Uma reunião sobre a grave crise que assola a Ucrânia estava sendo realizada nesta segunda-feira entre os três principais líderes da oposição e o governo do presidente Viktor Yanukovitch, que garantiu que não vai decretar estado de emergência no momento.
Com essas iniciativas, o governo ucraniano tenta acalmar os ânimos na véspera da abertura de uma sessão extraordinária do Parlamento dedicada a debater a situação política na Ucrânia, e de uma reunião de cúpula entre a União Europeia e a Rússia, que se acusam mutuamente de ingerência nos assuntos da Ucrânia.
O ex-boxeador Vitali Klitschko; Аrseni Yatseniuk, do partido da ex-primeira-ministra presa Yulia Timoshenko; e o nacionalista Oleg Тiagnybok participam do encontro na sede da Presidência, em Kiev, segundo um comunicado oficial.
Pouco antes, as formações políticas que eles lideram tinham anunciado em um comunicado comum que estavam "preparadas para manter as negociações".
Ressaltando que nos últimos dias a situação está mais calma na Praça da Independência, em Kiev, eles advertiram, contudo, que a "paciência das pessoas revoltadas com a surdez do poder pode chegar ao seu limite a qualquer momento". A praça é o símbolo do movimento de contestação, iniciado há mais de dois meses.
As autoridades não têm "a intenção hoje de decretar o estado de emergência", afirmou, por sua vez, o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Leonid Kojara, antes de pedir que os deputados votem na terça leis que podem permitir uma solução.
Enquanto isso, os manifestantes deixavam o Ministério da Justiça, situado em pleno centro da capital, que eles ocupavam desde domingo à noite, constatou a AFP.
As autoridades tinham ameaçado decretar estado de emergência e acabar com as negociações se essa ocupação se mantivesse, enquanto Vitali Klitschko pediu que os manifestantes deixassem o local.
Mas os opositores ergueram barricadas nas proximidades, ampliando um pouco mais a zona que controlam em torno da Praça da Independência, foco do movimento de contestação iniciado há mais de dois meses após a recusa do chefe de Estado em assinar um acordo de livre comércio com a União Europeia, no final de novembro. Yanukovitch optou por se aproximar da Rússia.
A UE pediu que as autoridades ucranianas "cumpram as promessas" feitas à oposição, exortando esta a "se dissociar claramente de todos aqueles que recorrem à violência". O comissário europeu encarregado da Política de Vizinhança, Stefan Füle, deve voltar a Kiev na segunda.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu nesta segunda que o presidente da Ucrânia mantenha um "diálogo construtivo" com a oposição.
O porta-voz da organização, Martin Nesirky, disse que Ban manifestou sua "profunda preocupação" com a crise nesse país, em uma conversa por telefone com Viktor Yanukovitch.
Ban convocou todas as partes a estabelecerem "um diálogo significativo, prolongado e inclusivo (...) para encontrar uma solução para a crise e evitar mais derramamento de sangue".
Yanukovitch fez no sábado uma série de concessões, propondo os cargos mais elevados do governo à oposição, dizendo-se disposto a discutir uma revisão da Constituição destinada a ceder parte de seus poderes ao governo, mas os líderes opositores querem uma eleição presidencial antecipada.
A única voz discordante é a de Yulia Timoshenko, que "pede de maneira categórica que os líderes da oposição não aceitem" as "condições humilhantes", segundo ela, impostas pelo governo para chegar a um acordo, sem explicar exatamente esse ponto.
Mas a influência daquela que foi a líder da Revolução Laranja, em 2004, está longe de ser tão grande quanto naquela época.
O movimento de contestação se radicalizou na última semana, dando lugar a uma guerrilha urbana que deixou pelo menos três mortos em Kiev.
Em outras regiões, a situação é cada vez mais tensa.
As sedes das administrações da maior parte das províncias do oeste, mais favoráveis à UE e opostas a Yanukovitch, estão há vários dias em poder dos manifestantes que exigem a saída dos governadores nomeados pelo chefe de Estado.
A administração regional está bloqueada em 14 das 25 províncias do país.
Os opositores ocupam as sedes administrativas dos governos em dez cidades e cercam outras quatro.Manifestações foram realizadas em quase todos os grandes centros regionais.
No entanto, as forças de segurança parecem retomar a iniciativa no leste, recorrendo à força contra os manifestantes em Dnipropetrovsk, Tcherkassy e Sumy, de acordo com a imprensa local.