Kadafi, ditador líbio: exército líbio já tentou, nos últimos dias, lançar uma contraofensiva para deter o avanço dos rebeldes (Mahmud Turkia/AFP)
Da Redação
Publicado em 9 de março de 2011 às 14h31.
Ras Lanuf - O regime líbio tentava neste domingo recuperar o controle com ataques aéreos contra os insurgentes e manifestações de "vitória" em Trípoli, e disse ter reconquistado várias cidades, o que foi negado pelos rebeldes, que, no entanto, perdem espaço.
No 20º dia de revolta, o coronel Muamar Kadhafi declarou ser favorável ao envio de uma comissão de investigação das "Nações Unidas ou da União Africana" para avaliar a situação. Também citou os fantasmas da Al-Qaeda e de uma migração massiva à Europa.
A revolta adquire agora os tons de uma guerra civil e a televisão estatal líbia anunciou que as forças fiéis ao coronel Kadhafi se dirigiam a Benghazi, reduto da oposição a cerca de mil km a leste de Trípoli.
O exército líbio já tentou, nos últimos dias, lançar uma contraofensiva para deter o avanço dos rebeldes, bombardeando Ajdabiya e Brega, a oeste de Benghazi.
Mas a insurgência, uma mistura de jovens sem verdadeira experiência de combate e de militares que se uniram à oposição, conseguiu, apesar de tudo, avançar até a cidade petroleira de Ras Lanuf, 300 km a sudoeste de Benghazi.
A rede de televisão estatal Al Libya assegurou que as forças de Kadhafi recuperaram Misrata, assim como Ras Lanuf e a cidade de Tobruk, todas entre Trípoli e a fronteira com o Egito.
A televisão mostrou imagens de milhares de pessoas que comemoravam a "vitória contra os terroristas" na Praça Verde de Trípoli, assim como em Sirte, a cidade natal do "Guia da Revolução", e em Sebha (sul).
Mas os rebeldes, que desde 15 de fevereiro lutam contra o regime de Kadhafi, negaram de maneira taxativa estas informações.
Em Ras Lanuf, correspondentes da AFP comprovaram que a cidade prosseguia sob controle dos rebeldes, que tomaram a localidade no sábado, apesar dos ataques aéreos deste domingo do governo. Os bombardeios não deixaram vítimas, segundo as primeiras informações, mas provocaram pânico entre a população, que correu pelas ruas em busca de refúgio.
No entanto, os intensos combates obrigaram os insurgentes a se retirar de Bin Jawad, a cerca de 30 km de Ras Lanuf, de onde esperavam avançar para Sirte, que se encontra a cerca de 160 km a oeste. Segundo fontes médicas, estes combates deixaram pelo menos dois mortos e 30 feridos, entre eles um jornalista francês.
Mas os rebeldes desmentiram que as forças de Kadhafi tenham retomado Tobruk, perto da fronteira com o Egito.
Em Misrata (150 km ao leste da capital), os tanques de Kadhafi bombardeavam a cidade, informaram moradores, mas o local seguia sob o controle dos rebeldes, segundo um deles e um habitante.
"Os tanques disparam em direção ao centro da cidade, perto da emissora de rádio. Os moradores não têm armas. Se a comunidade internacional não atuar rapidamente será uma carnificina", declarou um morador por telefone.
Em Trípoli, o regime realizou uma manifestação de apoio a Kadhafi para celebrar a "vitória". Soldados, policiais e milicianos dispararam para o ar para expressar sua alegria. "Vencemos, a Al-Qaeda se foi", afirmava um soldado. No centro, entre 4 e 5 mil partidários de Kadhafi se reuniram na Praça Verde.
Kadhafi, de 68 anos e no poder desde 1969, advertiu que a crise na Líbia poderia criar uma fuga em massa para a Europa de imigrantes africanos e asiáticos que trabalham em seu país.
Mais de 100 mil pessoas fugiram da Líbia pela fronteira com a Tunísia desde 20 de fevereiro, segundo a ONU. No total, 191 mil pessoas abandonaram o país e cerca de 10 mil se dirigiam à fronteira egípcia, segundo a mesma fonte.
No plano político, os rebeldes seguiam se organizando. O Conselho Nacional criado por eles em 27 de fevereiro se reuniu pela primeira vez no sábado e declarou ser o "único representante da Líbia".
O ministro francês das Relações Exteriores, Alain Juppé, afirmou no Cairo que a Europa e a França não podem "tolerar a loucura criminosa" do regime de Kadhafi, pouco antes de seu ministério emitir um comunicado que "saúda" a formação do Conselho opositor.
No entanto, o ministro disse que uma intervenção militar estrangeira teria "efeitos negativos" e se pronunciou a favor de uma zona de exclusão aérea para impedir os bombardeios.
Na ONU, os diplomatas anunciaram no domingo que a comissão de sanções sobre a Líbia realizará sua primeira reunião nos próximos dias e será presidida por Portugal.
Por sua vez, o papa Bento XVI expressou neste domingo sua preocupação com os confrontos, que "deixaram diversos mortos e uma crise humanitária crescente" na Líbia.