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Oposição desmente diálogo com governo egípcio

Segundo o dirigente do partido opositor Ghad, "não haverá diálogo com o sangue nem com os coquetéis molotov"

Protestos no Cairo: principais grupos opositores negam diálogo com o governo (Peter Macdiarmid/Getty Images)

Protestos no Cairo: principais grupos opositores negam diálogo com o governo (Peter Macdiarmid/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 3 de fevereiro de 2011 às 08h23.

Cairo - Representantes dos partidos da oposição desmentiram nesta quinta-feira o anúncio oficial realizado pelo Governo egípcio sobre o início do diálogo com o vice-presidente do país, Omar Suleiman.

O dirigente do partido Ghad, Ayman Nour, disse à Agência Efe que "as informações são falsas" e que eles não "participaram de nenhum diálogo. Não haverá diálogo com o sangue, nem com coquetéis molotov".

Nour, um dos principais líderes tradicionais da oposição egípcia, assinalou que "o sangue ainda está derramado no solo da praça Tahrir" e pediu as autoridades "punição aos responsáveis pelos crimes da véspera" antes do início do diálogo.

Enquanto isso, o guia espiritual da Irmandade Muçulmana, Mohammed Badia, confirmou em comunicado que seu grupo rejeita negociar com "qualquer símbolo ou dirigente do atual regime governante, de acordo com a vontade do povo, que anunciou a ilegitimidade deste regime".

Garantiu que "não há nenhum representante da Irmandade em negociação com o regime", e acrescentou que só ele e os membros de seu gabinete estão autorizados a dialogar com o poder.

A televisão egípcia havia anunciado previamente o início do diálogo entre o vice-presidente do Egito, Omar Suleiman, e 18 partidos políticos.

A rede de televisão citou o primeiro-ministro, Ahmed Shafiq, quem confirmou que o diálogo inclui representantes dos manifestantes, que há dez dias pedem a renúncia do presidente Hosni Mubarak na praça Tahrir.


Shafiq explicou que o diálogo tem o objetivo de encontrar uma saída para situação atual e as manifestações para que os diferentes órgãos do Estado possam começar suas atividades, já que segundo o primeiro-ministro, a economia está danificada em consequência dos incidentes.

"Basta de perdas, porque o que está ocorrendo agora o cidadão egípcio não aceita", disse Shafiq e instou a todas as partes a proteger Egito até que saia desta crise.

"Aprendemos com estes incidentes a organizar para proteger nossas propriedades diante dos ladrões e dos delinquentes, que roubaram as armas e agora ameaçam nossa segurança nacional", acrescentou.

Shafiq também disse à televisão que "tudo o que ocorreu na véspera será investigado pelas autoridades", em referência aos confrontos entre os simpatizantes de Mubarak e os contrários, que acabou com ao menos sete mortos e 1,2 mil feridos.

Outro dirigente do partido opositor Tagamu, Hussein Abdel Raseq, também desmentiu à Agência Efe que os partidos tenham começado diálogo com Suleiman.

"Os partidos aceitaram o diálogo depois que Mubarak dissesse em seu discurso que não concorreria a outro mandato presidencial, mas depois do crime contra os manifestantes em Tahrir, todos os partidos nacionais disseram que é impossível negociar com um poder que tem pistoleiros", assegurou.

Em seu discurso de dois dias atrás, Mubarak, no poder desde 1981, reiterou que havia pedido a Suleiman, recém-nominado, "que dialogasse com todas as forças políticas".

Raseq garantiu que os principais partidos opositores, entre eles o Wafd e o Ghad, além de seu grupo Tagamu, estão em contato e que todos rejeitam dialogar com o Governo.

Além disso, Raseq insistiu em que os grupos políticos querem a dissolução do Parlamento, uma nova lei de direitos políticos e a reforma da Constituição.

"Com a Constituição atual qualquer pessoa que for escolhida como presidente, embora seja um profeta, se transformará em um ditador", garantiu Raseq, quem deixou clara sua posição: "não ao diálogo com assassinos".

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