Rohingyas: uma das exigências feitas pela ONU, era o reconhecimento de membros do grupo como cidadãos, ação que o governo birmano rejeitava fortemente (Clodagh Kilcoyne/Reuters)
Da Redação
Publicado em 2 de julho de 2018 às 04h08.
Última atualização em 2 de julho de 2018 às 07h24.
O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Antonio Guterres, visita um campo de refugiados para a minoria étnica rohingyas, em Cox’s Bazar, Bangladesh, nesta segunda-feira, para pedir mais atenção financeira à comunidade internacional.
Embora o grupo tenha saído das manchetes da imprensa internacional, a situação dos muçulmanos minoritários está longe de ser resolvida. Os rohingyas deixaram Mianmar, país de origem, em agosto do ano passado, e deram origem a uma das maiores crises migratórias da história.
Estima-se que mais de 750.000 pessoas tenham fugido do país, e se instalado na fronteira com Bangladesh. Na época da migração, o cenário era de desespero: crianças em condições de subnutrição, violência na região, e completo desamparo. Os governos de Bangladesh e Mianmar se reuniram, em janeiro deste ano, e decidiram criar um plano de retorno voluntários dos rohingyas. A volta aconteceria em dois anos.
Acontece que o país não se preparou devidamente para o retorno do grupo, em um pano de fundo mais complexo do que o acordo previa. Em abril, um grupo de investigadores da ONU foram aos campos em Mianmar, e afirmaram que as condições de habitação eram muito “pobres”, e que o país não estava preparado para receber sequer algumas centenas de rohingyas. Além disso, imagens via satélite, obtidos pela agência de notícias Reuters, mostravam que as antigas habitações dos rohingyas tinham sido queimadas, e a região se transformara em uma zona militar.
O contexto de recepção do grupo minoritária era o mesmo que causou sua fuga em massa. Mianmar é um país majoritariamente budista, mas composto por diversas etnias. Os rohingyas foram, desde sempre, rejeitados e maltratados pelo governo e pelas tropas militares do país. Uma das exigências feitas pela ONU, era o reconhecimento de membros do grupo como cidadãos, ação que o governo birmano rejeitava fortemente. A histórica rejeição e os casos de violenta repressão – em agosto do ano passado, uma ataque militar tinha deixado mais de 9.000 rohingyas mortos – fez com o grupo migrasse em massa para Bangladesh e, agora, temesse retornar à Mianmar.
Como a situação não será resolvida tão rapidamente, a comunidade internacional passou a financiar a permanência dos rohingyas nos campos de Bangladesh. Na semana passada, por exemplo, o Banco Mundial anunciou que doaria 480 milhões de dólares para os campos de refúgio. Além do Banco, os governos do Canadá e dos Estados Unidos também têm financiado os campos. A viagem de Guterres, portanto, está marcada mais para avisar ao mundo que os refugiados precisam de ajuda financeira do que para resolver o conflito étnico na região, e a situação dos rohingyas.