Farc: segundo Antonio Guterres, secretário da ONU, desde que o acordo foi firmado em 2016, 124 ex-combatentes do grupo foram assassinados (John Vizcaino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 11 de julho de 2019 às 06h55.
Última atualização em 11 de julho de 2019 às 07h11.
A Organização das Nações Unidas (ONU) acompanha de perto o conturbado processo de pacificação da Colômbia. No último dia 26 de junho, o Conselho de Segurança da ONU anunciou que aceitaria o convite do chanceler colombiano, Carlos Holmes Trujillo, para enviar uma delegação para visitar o país entre esta quinta-feira, 11, e próximo domingo, 14, para acompanhar a etapa final de implementação do acordo de paz entre o governo do país e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).
O governo do país e as FARC assinaram um acordo de paz em agosto de 2016, depois de quatro anos de negociações em Cuba, terminando (na teoria, pelo menos) com cinco décadas de conflito interno. A Missão de Verificação da ONU, sob comando do Conselho de Segurança, acompanha como está o processo de reintegração dos antigos guerrilheiros à vida civil no país.
O embaixador peruano Gustavo Meza-Cuadra, que acompanha a delegação, afirmou que além de apoiar a fase final do acordo, a delegação do Conselho de Segurança também quer verificar como está a missão de paz da ONU no país, entender melhor as preocupações de cada uma das partes envolvidas no acordo e saber quais são os outros atores envolvidos no processo.
Para a visita, irão representantes dos 15 países membros do Conselho: Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, China, Alemanha, Bélgica, Costa do Marfim, Guiné Equatorial, Indonesia, Kuwait, Peru, Polônia, República Dominicana e África do Sul. Os delegados enviados terão reuniões com o presidente colombiano Iván Duque, com ministros do país, conselheiros e outros funcionários de alto escalão do governo. Também falarão com parlamentares, representantes de organizações não governamentais, membros da Jurisdição Especial pela Paz, da Comissão da Verdade, da Unidade de Busca de Pessoas Desaparecidas e representantes do partido das FARC.
“Desde o primeiro dia de governo, o presidente Iván Duque demonstrou seu compromisso com a implementação do Acordo Final através da política de Paz com Legalidade, cumprindo ações para garantir a reincorporação dos ex-membros das FARC que decidiram permanecer dentro da legalidade”, afirmou Trujillo ao confirmar a visita da ONU. O ministro ainda acrescentou que o governo recebe os representantes da entidade com grande satisfação e que essa será uma oportunidade para que “os representantes de outros países vejam, em primeira mão, os avanços que conseguimos graças ao impulso dado para a implementação do acordo nos últimos 11 meses”.
As considerações do Conselho de Segurança sobre o que foi visto durante a visita à Colômbia serão proferidas no próximo dia 19 de julho, em Nova York, quando acontecerá a apresentação do informe da missão verificação da organização. Até hoje, desde quando o tratado de paz foi firmado, registraram-se 124 casos de homicídios de ex-combatentes das FARC, hoje integrantes do partido homônimo que faz oposição ao governo de Duque.
Antes da visita, o Secretário-Geral da ONU, Antonio Guterres, divulgou a cifra de ex-combatentes mortos e disse estar desapontado com a “polarização e divisão” que aconteceu na Colômbia desde o acordo de paz. Ele pediu ao governo que continue garantindo os termos acordados para a entrega das armas.
Segundo Guterres, o aumento nos ataques acontece devido à maior presença de grupos armados de economia ilegal em áreas antes ocupadas pela guerrilha, onde o governo falhou em estabelecer um controle efetivo. “É necessário implementar com urgência garantias abrangentes de segurança e redobrar os esforços para desmantelar grupos ilegais e estruturas criminais” disse o secretário.
No lado positivo, Guterres citou o grande comprometimento dos membros do governo e das FARC em manter os termos do acordo. Com a decisão dos ex-guerrilheiros de participar das últimas eleições, o debate democrático do país ganhou força. Ele também afirmou que, segundo verificou a ONU, a grande parte dos antigos membros do grupo estão cumprindo o acordo.