Quase 1 bilhão de dólares são necessários para combater o ebola no oeste africano, o dobro do valor pedido há menos de um mês, anunciou nesta terça-feira a Organização das Nações Unidas (ONU), que fala em 20.000 casos da doença até o fim do ano.
A capacidade dos três países mais afetados pela epidemia, Guiné, Libéria e Serra Leoa, de responder às necessidades básicas da população "chegou num ponto em que começa a afundar", alertou a diretora de operações humanitárias da ONU, Valérie Amos, em uma entrevista coletiva.
Dos 987,8 milhões de dólares pedidos pela ONU, quase a metade será destinada à Libéria.
A organização calcula que 22,3 milhões de pessoas vivem nas regiões onde o vírus se manifestou e precisam de ajuda.
As Nações Unidas também lançaram um apelo por uma mobilização internacional ainda "mais rápida", enquanto a comunidade internacional intensificou recentemente seus esforços, com a União Europeia (UE) querendo "recuperar o tempo perdido" e os Estados Unidos anunciando o envio de cerca de 3.000 militares americanos para o oeste africano.
Um anúncio recebido com esperança pela Libéria, país cuja existência é ameaçada pela epidemia, segundo as autoridades.
"O envio de soldados americanos na Libéria ocorre no momento em que mais precisamos. Olhem nosso país: não sabemos para onde iremos e perdemos a esperança", declarou à AFP em Monróvia um professor, Ebenezer Kollie.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que deve apresentar seu plano de ação contra o ebola durante uma visita ao Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) em Atlanta, pediu ao Congresso a aprovação de uma verba adicional de 88 milhões de dólares, o que eleva o montante total da ajuda dos Estados Unidos aos três países a 250 milhões de dólares.
Quanto à UE, pretende desbloquear cerca de 150 milhões de euros e pede a seus membros que aumentem suas contribuições até o final de setembro.
Por sua vez, a China anunciou o envio de 59 pessoas a Serra Leoa, elevando a 174 o número de trabalhadores da área da saúde neste país, onde 165 médicos e enfermeiras cubanos são esperados.
Em função da situação crítica, o Conselho de Segurança da ONU fará uma reunião de emergência na próxima quinta-feira com o objetivo de encontrar respostas em nível mundial para combater a epidemia de ebola.
A epidemia de ebola na África Ocidental, a mais grave da história desta febre hemorrágica identificada em 1976, matou mais de 2.461 pessoas dos 4.985 casos detectados, segundo o último registro desta terça-feira da OMS. Quase metade dos casos foram registrados nos últimos 21 dias.
A ONU espera que 20 mil pessoas sejam infectadas até o final do ano: 16% na Guiné, 40% na Libéria e 34% em Serra Leoa. A organização acredita que a contaminação diminuirá até o final do ano e irá parar em meados de 2015.
"Os números podem permanecer contidos na casa das dezenas de milhares de pessoas, mas isso requer uma resposta rápida", declarou o Dr. Bruce Aylward , vice-diretor-geral da OMS.
"Devemos evitar o colapso total dos sistemas de saúde dos principais países afetados", ressaltou Amos.
Enquanto a epidemia cresce exponencialmente, "não somos capazes de prever" como ela vai se espalhar, declarou a presidente da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), Joanne Liu, em Genebra.
Além disso, "enquanto milhares de pessoas morrem de ebola, muitas outras" morrem como resultado de outras doenças "porque os centros de saúde não estão mais operacionais", advertiu.
Nova reunião do comitê de emergência da OMS
Neste contexto, o Programa Alimentar Mundial (PAM) lançou uma intensificação de sua ajuda, a fim de apoiar 1,36 milhão de pessoas nas regiões mais afetadas pela crise de ebola.
Até o momento, apenas 148.000 pessoas receberam ajuda por falta de fundos para a sua distribuição.
Por sua vez, o comitê de emergência da OMS para o ebola foi encarregado nesta terça-feira de "reavaliar a situação e decidir quais medidas adicionais devem ser tomadas para reduzir a propagação internacional". Seus resultados são esperados este fim de semana.
A OMS declarou em 8 de agosto que o surto de ebola era uma "emergência de saúde pública de alcance mundial", e recomendou medidas de emergência em países afetados sem exigir uma restrição ao comércio e voos de companhias aéreas.
O presidente da CEDEAO (Comunidade Econômica dos Estados da África do Oeste), o presidente de Gana, John Mahama, pediu na segunda-feira, durante uma visita à Guiné, "a reabertura das fronteiras e retomada dos voos para os países afetados".
Não existe tratamento ou vacina contra o ebola. A segurança sanitária das duas primeiras vacinas será anunciada em novembro, após testes. Além disso, a OMS autorizou em 5 de setembro os tratamentos à base de sangue, como o soro de convalescentes.
-
1. O que é ebola?
zoom_out_map
1/13 (Tommy Trenchard/Reuters)
São Paulo -
Ebola é uma
doença viral aguda que causa febre hemorrágica. É causada por três das cinco espécies dentro do gênero. Duas espécies são capazes de infectar seres humanos, mas não parecem causar a doença. Os outros três podem causar graus variáveis de doença. O vírus Ebola Zaire é a estirpe mais mortal, e tem sido identificada como a causa do surto atual. Em epidemias anteriores, esta estirpe teve uma taxa de mortalidade de 90%.
-
2. A origem
zoom_out_map
2/13 (Frederick Murphy/CDC/Handout via Reuters)
A origem do vírus é incerta. Mas alguns especialistas acreditam que os morcegos podem abrigar o vírus em seu trato intestinal. Os primeiros seres humanos infectados e que espalharam a doença provavelmente caçaram e comeram um animal infectado.
-
3. A epidemia atual
zoom_out_map
3/13 (Tommy Trenchard/Reuters)
Este já é considerado o maior surto desde que o vírus ebola foi descoberto há quase 40 anos. O surto foi declarado em março, na Guiné. Desde então, a doença se espalhou para a Libéria, Serra Leoa e Nigéria e matou 60% dos infectados. São 1323 pessoas infectadas e 887 mortes, segundo o último balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS). Cerca de 60 mortes foram de trabalhadores de saúde que procuravam controlar a doença.
-
4. Os sintomas
zoom_out_map
4/13 (AFP)
Após o contágio, o paciente pode demorar até 21 dias antes de manifestar a doença. Os sinais são semelhantes aos da gripe, incluindo dores abdominais, febre, vômitos e diarreia. O quadro se agrava com a desidratação, insuficiência do fígado e dos rins, e hemorragia.
-
5. Transmissão
zoom_out_map
5/13 (Ahmed Jallanzo/Agência Lusa/Agência Brasil)
O vírus é transmitido diretamente pelo contato direto com sangue ou fluidos corporais dos infectados, inclusive dos mortos. O contágio é maior quando os pacientes já estão em estágios terminais, com hemorragia interna e externa, vômitos e diarreia, que contêm altas concentrações do vírus.
-
6. O tratamento
zoom_out_map
6/13 (Cellou Binani/AFP)
Não há um remédio específico para a doença. Os sintomas costumam ser tratados separadamente. Por exemplo, o soro intravenoso pode evitar a desidratação, enquanto um antitérmico diminui a febre. Já os analgésicos podem diminuir as dores. Aqueles que têm a doença identificada e recebem tratamento mais cedo têm mais chances de sobreviver à infecção. Infelizmente, como os sintomas são genéricos e parecidos com de outras doenças, o diagnóstico pode demorar.
-
7. Como se proteger
zoom_out_map
7/13 (AFP)
A melhor forma de se proteger da doença é evitar os locais onde há surto de ebola. Entre as recomendações do ministro da Saúde, Arthur Chioro, para quem tiver de viajar para estes países estão, por exemplo, seguir recomendações que serão dadas pelas autoridades sanitárias locais. Chioro aconselha os viajantes a não entrar em contato com secreções, vômitos e sangue das pessoas que são vítimas das doenças, que devem estar em isolamento e tratamento médico.
-
8. Epidemia global
zoom_out_map
8/13 (Tommy Trenchard / Reuters)
O risco de o vírus ser disseminado da África para a Europa, Ásia ou para as Américas é extremamente baixo, de acordo com especialistas em doenças infecciosas. O professor belga Peter Piot, um dos descobridores do vírus ebola, descartou uma epidemia fora do continente africano, em entrevista à AFP. Mesmo que um portador do ebola viaje até Europa, Estados Unidos ou outra região da África, o cientista não acredita que isto possa causar uma epidemia importante, pois a infecção requer um contato muito próximo. Mas Piot pediu que as vacinas e os tratamentos, promissores nos animais, sejam testados em humanos.
-
9. Vacina experimental
zoom_out_map
9/13 (sxc.hu)
Pesquisadores americanos planejam testar, em breve, uma vacina experimental contra o ebola. Se bem sucedida, poderá imunizar até 2015 trabalhadores de saúde, que estão na linha de fogo da epidemia. No próximo mês, os Institutos Nacionais da Saúde dos Estados Unidos começarão os testes em humanos da vacina, que já é promissora nas experiências em macacos.
-
10. Fronteiras fechadas
zoom_out_map
10/13 (Gary Cameron/Reuters)
Guiné, Libéria e Serra Leoa anunciaram na sexta-feira (2) que vão colocar em quarentena a região fronteiriça comum, onde surgiu o último surto do vírus ebola. O anúncio foi feito durante uma reunião de emergência para discutir a epidemia e depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertar que o ebola pode provocar uma perda catastrófica de vidas e prejuízos econômicos, caso a epidemia não seja controlada.
-
11. Não há mercado para a vacina
zoom_out_map
11/13 (AFP)
Segundo a AFP, até agora não se conseguiu convencer as companhias farmacêuticas a investir em uma vacina contra o ebola. Andrea Marzi e Heinz Feldmann, do instituto de virologia NIAID, disseram em artigo publicado em abril que, com surtos esporádicos que costumam afetar um pequeno número de pessoas na África, não existe um mercado comercial para uma vacina contra a doença.
-
12. Medicação
zoom_out_map
12/13 (Samaritans Purse/Divulgação via Reuters)
Herve Raoul, especialista em patógenos e pesquisador do Instituto Médico Francês de Saúde, disse à AFP que o ideal é desenvolver um antiviral que ajude os doentes a superar a fase mais aguda da doença. No entanto, essa medicação não existe hoje. Atualmente, os especialistas só podem aconselhar medidas preventivas, como isolar os infectados, tomar precauções para evitar o contato com fluidos corporais e enterrar os mortos com rapidez.
-
13. Agora veja 10 países onde respirar faz mal à saúde
zoom_out_map
13/13 (Reuters)