O governo dos Estados Unidos anunciou suspensão temporária do financiamento à agência; decisão também foi adotada por Austrália, Canadá, Itália, Reino Unido, Finlândia, Países Baixos e Alemanha (Ahmad Hasaballah/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 28 de janeiro de 2024 às 09h20.
O secretário-geral da ONU pediu garantias à continuidade das operações da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), depois que uma polêmica vinculada aos ataques do Hamas em 7 de outubro provocou a suspensão do financiamento por vários países.
Doze funcionários da UNRWA foram acusados de participação nos ataques de 7 de outubro contra o território de Israel que provocaram a guerra na Faixa de Gaza.
O governo dos Estados Unidos anunciou na sexta-feira a suspensão temporária do financiamento à agência, uma decisão que também foi adotada por Austrália, Canadá, Itália, Reino Unido, Finlândia, Países Baixos e Alemanha.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, fez um apelo no sábado aos "governos que suspenderam as contribuições para que, ao menos, assegurem a continuidade das operações da UNRWA".
"Dois milhões de civis de Gaza dependem da ajuda crítica da UNRWA para sua sobrevivência diária, mas o financiamento atual da UNRWA não permitirá cobrir todas as suas necessidades em fevereiro", insistiu.
Ao mesmo tempo, o Exército israelense informou neste domingo que os "combates intensos" prosseguiam no território palestino e que eliminou "terroristas", além de ter apreendido "grandes quantidades de armas"
A guerra começou quando o grupo islamista atacou o sul de Israel em 7 de outubro, matou quase 1.140 pessoas, a maioria civis, e sequestrou quase 250, segundo um balanço da AFP baseado nos dados divulgados palas autoridades israelenses. Entre os mortos estavam mais de 300 militares.
Em resposta, Israel efetua uma ofensiva aérea e terrestre em Gaza que deixou até o momento 26.422 mortos, a maioria mulheres, crianças e adolescentes, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
Guterres confirmou que as "acusações extremamente graves" sobre 12 funcionários da UNRWA estão sendo investigadas internamente pela ONU. A agência demitiu nove deles, um foi "confirmado morto" e as identidades de outros dois estavam sendo "determinadas", acrescentou o secretário-geral.
"Os supostos atos abjetos destes funcionários devem ter consequências, mas não devem penalizar dezenas de milhares de homens e mulheres que trabalham para a agência", destacou.
O embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, acusou Guterres de ignorar "as evidências" do envolvimento da UNRWA na "incitação e terrorismo".
O Hamas denunciou as "ameaças" israelenses contra a UNRWA e fez um apelo à ONU e outras organizações internacionais para que "não cedam às ameaças e à chantagem".
As relações tensas entre Israel e a UNRWA pioraram depois que a agência denunciou um ataque na quarta-feira (24) contra um abrigo de deslocado em Khan Yunis, principal cidade do sul de Gaza e epicentro da guerra.
Os hospitais Nasser e Al Amal de Khan Yunis estão quase sem condições de atender pacientes sob ataques intensos.
Segundo o Crescente Vermelho palestino, as cirurgias foram suspensas no hospital Al Amal por falta de oxigênio.
O Exército israelense acusa o Hamas de operar a partir de túneis construídos debaixo dos hospitais de Gaza, o que o grupo nega.
Os combates obrigam os palestinos a fugir para o sul, na direção de Rafah, perto da fronteira com o Egito, onde, segundo a ONU, estão concentrados 1,3 dos 1,7 milhão de deslocados em "condições de desespero".
As ruas por onde passa o esgoto estão lotadas com centenas de milhares de barracas, abrigos inúteis contra as chuvas torrenciais que caíram nos últimos dias, segundo correspondentes da AFP.
"Não encontrei refúgio, não encontrei uma tenda, não encontrei nada", lamentou Umm Imad, de 70 anos, deslocado do leste de Khan Yunis e que seguiu para Rafah.
Os combates prosseguem, assim como os esforços diplomáticos para tentar obter uma trégua.
O chefe do serviço de inteligência dos Estados Unidos, William Burns, se reunirá nos próximos dias em Paris com os homólogos de Israel e do Egito, assim como com o primeiro-ministro do Catar, para negociar um possível cessar-fogo, informou uma fonte do setor de Defesa à AFP.
O jornal New York Times informou no sábado que os negociadores se aproximaram de um acordo para que Israel suspenda a guerra em Gaza por dois meses em troca da libertação de mais de 100 reféns.
Com base em fontes do governo americano não identificadas, o jornal afirmou que um rascunho do acordo será discutido em Paris.
Segundo as autoridades israelenses, 132 sequestrados permanecem retidos no território palestino e o governo acredita que 28 estão mortos.
No sábado, Tel Aviv foi cenário de uma nova manifestação para exigir o retorno dos reféns.
Porém, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reiterou sua posição: "Se não eliminarmos os terroristas do Hamas (...) o próximo massacre será questão de tempo".