Mundo

ONU inicia diálogo para evitar desastre nuclear na Ucrânia

Na reunião, Guterres alertou que qualquer ataque à usina seria "suicídio"

Na quarta-feira, 17, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, alertou que a tomada da usina pela Rússia "aumentou o risco de um acidente nuclear" (Anadolu Agency/Getty Images)

Na quarta-feira, 17, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, alertou que a tomada da usina pela Rússia "aumentou o risco de um acidente nuclear" (Anadolu Agency/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 19 de agosto de 2022 às 09h28.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, se reuniu nesta quinta-feira, 18, com os presidentes de Ucrânia, Volodmir Zelenski, e Turquia, Recep Tayyip Erdogan, para tentar evitar um acidente nuclear na usina de Zaporizhzia, que está no meio do fogo cruzado entre russos e ucranianos.

Na reunião, Guterres alertou que qualquer ataque à usina seria "suicídio" e voltou a falar em desmilitarização da região, proposta rechaçada pela Rússia. A Ucrânia, por outro lado, descarta um acordo de paz enquanto houver tropas em seu território.

Zelenski pediu à ONU que "garanta a segurança" de Zaporizhzia e a desmilitarização da área. O chanceler da Ucrânia, Dmitro Kuleba, disse que o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) aceitou o convite para liderar uma inspeção na usina, mas Moscou ainda não deu o sinal verde.

Guterres pediu que a usina não seja usada em operações militares. Rússia e Ucrânia se acusam mutuamente de ter bombardeado Zaporizhzia. Desde março, as forças russas ocupam as instalações, onde foram armazenadas armas pesadas, segundo os ucranianos.

Algumas autoridades ucranianas dizem que provocar o pânico pode ser precisamente o objetivo de Moscou, na esperança de que a pressão internacional force Kiev a capitular e fazer concessões territoriais.

A inteligência militar da Ucrânia teme que a Rússia esteja preparando uma simulação de ataque para culpar Kiev, semelhante à estratégia que usou para justificar a invasão, em fevereiro. A mídia estatal russa também acusa a Ucrânia de planejar uma "provocação" na usina para coincidir com a viagem de Guterres.

O fogo cruzado na usina aumenta os temores de um colapso nuclear nos moldes do ocorrido em Chernobyl, em 1986. Alguns países esperam que Guterres seja capaz de trabalhar com Kiev e Moscou para garantir inspeções da AIEA. No início do mês, o diretor da agência nuclear da ONU alertou que Zaporizhzia estava "completamente fora de controle".

Na quarta-feira, 17, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, alertou que a tomada da usina pela Rússia "aumentou o risco de um acidente nuclear" e acusou Moscou de ser "imprudente" ao usar a área como plataforma para lançar ataques de artilharia contra forças ucranianas.

Acordo de grãos

O encontro de ontem também serviu para revisar o progresso das exportações de grãos pelos portos ucranianos, que foram retomadas recentemente após um bloqueio da Rússia. Na sexta-feira, Guterres viajará para Odessa, o maior porto da Ucrânia, para observar os resultados do acordo que restabeleceu o fluxo das exportações.

A guerra agravou a crise alimentar global, porque Ucrânia e Rússia estão entre os principais produtores de grãos do mundo. Antes do conflito, os ucranianos colocavam 50 milhões de toneladas de grãos por ano no mercado mundial. ONU e Turquia intermediaram o acordo para retomar o fluxo de grãos, mas mesmo assim apenas uma pequena parcela das exportações conseguiu sair.

Enquanto isso, no campo de batalha, pelo menos 17 pessoas foram mortas e 42 ficaram feridas em ataques pesados com mísseis russos na região de Kharkiv, na Ucrânia, na noite de quarta-feira e na manhã de ontem, disseram autoridades ucranianas. Os militares russos alegaram que atacaram uma base de mercenários estrangeiros, matando 90.

Aumentando as tensões internacionais, a Rússia enviou aviões de guerra carregando mísseis hipersônicos de última geração para a região de Kaliningrado, um enclave cercado por dois países da Otan, Lituânia e Polônia. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

Guterres nomeia general brasileiro para apurar crimes de guerra

O secretário-geral da ONU, António Guterres, anunciou ontem em Lviv que escolheu o general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo de Jair Bolsonaro, para liderar uma missão de apuração de possíveis crimes de guerra na Ucrânia. Segundo Guterres, Santos Cruz é um "oficial respeitado com mais de 40 anos de experiência nacional e internacional em segurança pública e militar, até mesmo como comandante de operações de manutenção da paz da ONU - a Minustah no Haiti, e a Monusco, na República Democrática do Congo. Na Ucrânia, Santos Cruz será encarregado de investigar a explosão em um centro de detenção na região separatista de Donetsk que deixou dezenas de mortos no final de julho.

Veja também: 

Xi e Putin estarão em reunião do G-20, afirma presidente da Indonésia

Coreia do Norte rejeita oferta do Sul de ajuda em troca de desnuclearização

Acompanhe tudo sobre:Armas nuclearesONURússiaUcrâniaVolodymyr-Zelensky

Mais de Mundo

Yamandú Orsi, da coalizão de esquerda, vence eleições no Uruguai, segundo projeções

Mercosul precisa de "injeção de dinamismo", diz opositor Orsi após votar no Uruguai

Governista Álvaro Delgado diz querer unidade nacional no Uruguai: "Presidente de todos"

Equipe de Trump já quer começar a trabalhar em 'acordo' sobre a Ucrânia