Guterres: ONU vinha sendo criticada por apagamento em meio à guerra (Yves Herman - WPA Pool/Getty Images/Getty Images)
Carolina Riveira
Publicado em 28 de abril de 2022 às 06h00.
A passagem do diretor-geral das Nações Unidas (ONU) pelo leste europeu continua nesta quinta-feira, 28. O português António Guterres se encontra hoje com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, com o objetivo de negociar corredores humanitários em meio à guerra no país e avançar nas quase paralisadas negociações de paz com a Rússia.
A visita acontece menos de dois depois de Guterres se encontrar em Moscou com o presidente russo, Vladimir Putin, e com o número um da diplomacia do país, o ministro das Relações Exteriores, Sergey Lavrov.
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O diretor da ONU chegou ainda no começo de quarta-feira, 27 à Ucrânia, por meio da fronteira terrestre com a Polônia, no oeste do país. Ele viajou de carro até a capital Kiev, escoltado por seguranças, segundo reporta a agência EFE.
Guterres, aliás, diz que a ordem das visitas (primeiro em Moscou, depois em Kiev) foi uma "questão logística", porque a resposta da Rússia sobre a visita teria chegado primeiro. Mas a dinâmica não foi do agrado do governo ucraniano, com críticas públicas de Zelensky.
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Além de se encontrar com membros do governo ucraniano, a ONU informou que Guterres se reunirá com oficiais da organização que estão atuando em solo na Ucrânia, para discutir como "otimizar a assistência humanitária".
A ONU tem afirmado que não vem sendo capaz de alcançar áreas na frente de batalha ucraniana, como Mariupol (ao sul) e Kharkiv (leste), e pede que a Rússia concorde com a abertura de corredores humanitários.
Um cessar-fogo nas áreas mais afetadas para evacuação de civis e a entrada de ajuda humanitária nesses locais é um dos principais objetivos que a ONU espera alcançar nas visitas de Guterres.
No entanto, tentativas anteriores de trégua falharam sistematicamente, sobretudo em Mariupol, com ambos os lados acusando o outro de boicotar o cessar-fogo.
A ONU também vinha sendo criticada por seu relativo apagamento diplomático em meio à guerra. As negociações até o momento foram sobretudo intermediadas por outros países, da França à Turquia.
A organização, por sua vez, enfrenta desafios internos diante da participação da Rússia com poder de veto no Conselho de Segurança, o que impede ações mais amplas.
A guerra na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro, já supera dois meses sem sinais de um acordo.
As negociações de paz estão, na prática, travadas há semanas. O último avanço significativo ocorreu em 29 de março, quando as partes se reuniram na Turquia.
A Rússia saiu de lá prometendo parar os ataques no norte da Ucrânia, nos arredores de Kiev. Essa já era a região que as tropas de Moscou tinham mais dificuldade em conquistar.
Em meio às narrativas de ambos os lados da guerra, é difícil precisar se a Rússia desistiu mesmo do norte ucraniano ou se foi expulsa de lá — ou ambos.
Mas o fato é que abril marcou o início do que Moscou chamou de uma nova fase do conflito, com as tropas direcionadas para o leste, perto da fronteira com a Rússia e onde estão os territórios separatistas de Donetsk e Luhansk. É onde a guerra tem se concentrado neste momento.
Também há ataques no sul, no trajeto que liga o leste à Crimeia, área anexada em 2014. Perto da região está a estratégica cidade portuária de Mariupol, sitiada desde o começo da guerra e de onde milhares de civis ainda não conseguiram sair.