Mundo

ONU e UE lamentam eleição em regiões separatistas da Ucrânia

Eleições ameaçam acentuar o conflito que já deixou mais de 3.700 mortos e provocou a pior crise entre Rússia e Ocidente desde o fim da Guerra Fria


	Rebelde pró-Rússia em posto de controle de Donetsk: região é um dos bastiões separatistas
 (Bulent Kilic/AFP)

Rebelde pró-Rússia em posto de controle de Donetsk: região é um dos bastiões separatistas (Bulent Kilic/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 29 de outubro de 2014 às 20h16.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e a União Europeia (UE) lamentaram nesta quarta-feira a decisão dos separatistas do leste da Ucrânia de organizar eleições, assim como a promessa feita por Moscou de reconhecer o resultado das urnas.

Previstas para acontecer em 2 de novembro, uma semana depois das legislativas ucranianas marcadas pela vitória do grupo pró-Ocidente, essas eleições ameaçam acentuar o conflito que já deixou mais de 3.700 mortos e provocou a pior crise entre Rússia e Ocidente desde o fim da Guerra Fria.

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) anunciou nesta quarta que, em dois dias, interceptou quatro grupos de aviões militares russos.

Ao todo, 26 aparelhos sobrevoavam o espaço aéreo internacional do mar Norte, mar Báltico, Oceano Atlântico e mar Negro. Entre as aeronaves, quatro bombardeiros estratégicos Tu-95 foram identificados.

Foi nesse ambiente de tensão que representantes de Ucrânia, Rússia e UE começaram uma nova rodada de negociações para buscar um acordo sobre o fornecimento de gás para a Europa e para a Ucrânia.

Enquanto as autoridades das três partes se reuniam, a UE lamentou a intenção da Rússia de reconhecer as eleições "das autoproclamadas repúblicas de Lugansk e de Donetsk".

Na véspera, a mesma crítica foi feita pelo governo dos Estados Unidos.

As eleições também foram criticadas pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Em nota, ele afirmou que "minam seriamente o Protocolo e o Memorando de Minsk, que deve ser urgentemente implementado em sua plenitude".

O chanceler russo, Serguei Lavrov, deu seu apoio explícito ao novo pleito eleitoral. Segundo ele, trata-se de "legitimar as autoridades rebeldes" no âmbito dos acordos de Minsk, concluídos entre Kiev e os rebeldes, com participação russa, em setembro passado.

Em maio, o governo russo não reconheceu o referendo de independência organizado pelas regiões pró-Moscou, ao contrário do que aconteceu na Crimeia.

A guerra será longa

No terreno, Kiev denunciou vários ataques com morteiro e lança-foguetes contra seus soldados. Os rebeldes entrevistados pela AFP disseram que "a guerra será longa".

"Se Kiev tivesse optado pela paz, tudo estaria resolvido há muito tempo", afirmou um comandante rebelde em Lukov, pequeno povoado do leste da Ucrânia.

O "primeiro-ministro" da república autoproclamada de Donetsk, Alexander Zakhartchenko, acusou Kiev de não respeitar seus compromissos e anunciou que seu grupo "se prepara para a guerra".

Donetsk é um dos bastiões separatistas.

A prefeitura de Donetsk informou que um civil morreu nos bombardeios nos bairros próximos ao aeroporto, um dos focos dos incessantes combates desde o início da trégua em 5 de setembro.

Porta-vozes militares ucranianos relataram que as forças ucranianas sofreram seis ataques no setor do aeroporto, assim como em Mariupol, ao sul, um porto estratégico do mar de Azov.

Negociações sobre o gás

Hoje, Kiev, Moscou e UE discutiam em Bruxelas como retomar a entrega de gás russo para a Ucrânia.

"A conclusão está em aberto", disse o comissário europeu Gunther Oettinger à imprensa antes do início da reunião.

"Nosso objetivo é conseguir um acordo provisório para um pacote de inverno que garanta a segurança do trânsito, pela Ucrânia, do gás russo comprado pela UE, até o final de março de 2015", acrescentou.

Em junho, a Gazprom suspendeu o envio de gás para a Ucrânia por falta de pagamento e decidiu adotar um sistema pré-pago com nova tarifa. Segundo a empresa russa, Kiev deve US$ 5,3 bilhões.

Embora Kiev e Moscou tenham chegado a um entendimento sobre uma tarifa provisória, o pagamento da dívida ucraniana segue em suspenso, por enquanto.

Para retomar as entregas, a Rússia exige US$ 1,45 bilhão pelos pagamentos atrasados e US$ 1,6 bilhão antecipado pelo fornecimento de novembro e dezembro próximos.

A Comissão Europeia está examinando o pedido de Kiev de um empréstimo adicional de 2 bilhões de euros, enquanto a Rússia espera garantias financeiras antes de reiniciar as exportações.

"A Ucrânia tem graves problemas de pagamento. É quase insolvente", comentou Oettinger nesta quarta de manhã.

As três partes ficaram reunidas durante toda a tarde de hoje, e as negociações continuarão até a noite, informou a Comissão.

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaDiplomaciaEleiçõesEuropaONURússiaUcrâniaUnião Europeia

Mais de Mundo

Incêndios devastam quase 95 mil hectares em Portugal em 5 dias

Relatório da ONU e ONGs venezuelanas denunciam intensificação de torturas nas prisões do país

Edmundo González, líder opositor venezuelano nega ter sido coagido pela Espanha a se exilar

A nova fase da guerra e a possível volta do horário de verão: o que você precisa saber hoje