Refugiados rohingya: "Para nós está claro que essas operações foram organizadas e planejadas", disse autoridade da ONU (Mohammad Ponir Hossain/Reuters)
AFP
Publicado em 18 de dezembro de 2017 às 16h13.
Última atualização em 18 de dezembro de 2017 às 17h42.
O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein, disse nesta segunda-feira (18) à AFP que Mianmar planejou a perseguição da minoria muçulmana rohingya, provocando um êxodo em massa, o que parece um possível genocídio.
"Para nós está claro que essas operações foram organizadas e planejadas", afirmou em uma entrevista sobre a perseguição desta minoria, que teria deixado milhares de mortos e obrigado 655 mil rohingyas a fugir para Bangladesh desde agosto.
"Não se pode excluir a possibilidade de atos de genocídio", enfatizou.
A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) disse na quinta-feira que ao menos 6.700 rohingyas morreram no primeiro mês da ofensiva do Exército birmanês contra rebeldes do oeste desse país.
Desde o início da campanha do Exército, mais de 655 mil membros desta minoria muçulmana fugiram cruzando a fronteira com Bangladesh para se refugiar no distrito de Cox's Bazar.
O governo birmanês negou as acusações e declarou que a ação do Exército foi uma resposta proporcional aos ataques de militares rohingyas contra postos policiais em agosto, nos quais morreram 25 pessoas, entre elas uma dúzia de agentes.
Mas, segundo Zeid, as provas não sustentam essa hipótese, assinalando que no ano passado já havia sido registrado um aumento da violência que obrigou 300 mil rohingyas a fugir para Bangladesh.
O escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos, a quem foi negado em várias ocasiões o acesso à região do oeste de Mianmar, publicou em fevereiro um relatório das denúncias de refugiados de Cox's Bazar que falavam de "crimes horrendos, de crianças perseguidas e degoladas", disse Zeid.
"Suspeito que a primeira operação fosse um ensaio para a segunda", considerou.
Zeid não dá crédito à tese da repressão dos rebeldes e destacou que os civis foram claramente o alvo. "Por que se deter em uma criança se o seu objetivo é um rebelde?", perguntou.
Não obstante, o alto comissário destacou que serão os tribunais que irão determinar se houve, ou não, genocídio, mas "não acreditamos que se possa excluir e descartar essa possibilidade".