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Da Redação
Publicado em 7 de abril de 2014 às 09h57.
Nairóbi - O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou nesta segunda-feira que as Nações Unidas "poderiam" e "deveriam" ter feito "muito mais" em Ruanda para impedir as 800 mil mortes no genocídio de 1994.
"Muitos membros da ONU mostraram uma coragem extraordinária, mas poderíamos ter feito muito mais. Deveríamos ter feito muito mais", admitiu Ban, na cerimônia realizada hoje em Kigali em memória das vítimas para comemorar o vigésimo aniversário do massacre.
O secretário-geral se felicitou, no entanto, de que Ruanda tenha "demonstrado ao mundo que a transformação é possível", em seu discurso a milhares de ruandeses reunidos no Tutsi Amahoro Stadium da capital ruandesa, onde 12 mil pessoas se refugiaram durante o massacre ocorrido há 20 anos.
"Quando virem pessoas em risco e vítimas de atrocidades, não esperem instruções de longe", disse Ban, em alusão aos funcionários da ONU.
O genocídio de Ruanda segue pesando, 20 anos depois, a consciência da ONU, que admitiu repetidamente seu fracasso na gestão da tragédia e que baseou nessa traumática experiência grande parte de suas políticas posteriores.
O total de 800 mil vítimas que o massacre deixou é considerado de forma quase unânime como uma das grandes manchas na história das Nações Unidas e da comunidade internacional.
Antes do ato no estádio, o presidente de Ruanda, Paul Kagame, acendeu hoje em Kigali a Chama do Luto Nacional que lembrará durante os próximos 100 dias as vítimas do genocídio de 1994, diante de milhares de ruandeses que lembram a tragédia.
O dia de luto nacional começou com o acendimento da tocha no Centro de Comemoração do Genocídio da capital ruandesa, na presença de vários chefes de Estado e de governo, além do secretário-geral das Nações Unidas.
Kagame e líderes mundiais convidados puseram coroas, antes que o presidente ruandês prendesse a chama, por volta das 10h30 locais (6h30 de Brasília), com a ajuda de Ban Ki-moon.
O conflito explodiu em 6 de abril de 1994 com o assassinato do então presidente ruandês, Juvenal Habyarimana, embora existissem indícios claros da situação que se estava gestando desde meses antes.
No dia seguinte, dez "boinas azuis" belgas que protegiam a primeira-ministra, Agathe Uwilingiyimana, foram assassinados junto com o dirigente, o que levou a Bruxelas a ordenar a retirada de seu contingente.
O massacre que se seguiu ceifaria a vida de cerca de 800 mil pessoas em pouco mais de três meses, a maioria delas da etnia tutsi assassinadas a facadas por extremistas da etnia hutu.