Mundo

ONU denuncia superpopulação nas prisões latino-americanas

Segundo a organização, em média, os presídios abrigam 30% a mais de detentos do que deveriam, mas, em muitos casos, a porcentagem chega a até 100%

A ONU considerou que o incêndio que destruiu uma prisão hondurenha nesta semana nada mais é do que outra entre tantas tragédias que ocorreram na região na última década (Orlando Sierra/AFP)

A ONU considerou que o incêndio que destruiu uma prisão hondurenha nesta semana nada mais é do que outra entre tantas tragédias que ocorreram na região na última década (Orlando Sierra/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 17 de fevereiro de 2012 às 09h53.

Genebra - O escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) denunciou nesta sexta-feira o 'preocupante padrão de violência nas prisões da América Latina', devido ao 'problema endêmico' de superpopulação das cadeias da região.

'O maior problema das penitenciárias na América Latina é a superpopulação. Em média, as prisões abrigam 30% a mais de detentos do que deveriam, mas em muitos casos chega a até 100%, o que facilita as tragédias', explicou em entrevista coletiva o porta-voz do escritório, Rupert Colville.

O ACNUDH considerou que o incêndio que destruiu a prisão de Comayagua em Honduras nesta semana nada mais é do que outra entre tantas tragédias que ocorreram na região na última década.

'O escritório está preocupado porque os problemas que afetam as prisões não se limitam a Honduras. Há poucas semanas, houve uma onda de violência nas penitenciárias da América Latina, com mortes no Uruguai, Argentina, Venezuela e Chile', diz o comunicado divulgado pelo organismo.

'Em 2011, cinco jovens morreram e muitos outros ficaram feridos em um incêndio em um centro de detenção juvenil no Panamá', acrescenta a nota.

Para o Alto Comissariado, estes acontecimentos demonstram um 'padrão de violência na região, que é uma consequência direta de uma longa lista de problemas endêmicos que incluem cadeias saturadas de forma crônica, e a falta de acesso básico a condições de higiene mínimas', acrescenta.

Colville ressaltou que esta situação se agrava pela lentidão da Justiça e pelo 'abuso' do uso da prisão preventiva.

'Devido à saturação, falta comida, espaço e água e tudo isso gera violência, que leva a tragédias como a que ocorreu nesta semana', afirmou o porta-voz.


A nota cita casos de abusos e descumprimento dos padrões internacionais na Argentina, Brasil, Chile, El Salvador, Panamá, Uruguai e Venezuela.

Em relação à tragédia de Comayagua, o ACNUDH pede uma investigação independente que determine as causas do incêndio, e solicita às autoridades que tomem as medidas necessárias para evitar um novo desastre.

'O incêndio desta semana é o terceiro com as mesmas características a causar dezenas de mortes em uma prisão hondurenha em uma década', lembrou o organismo.

O porta-voz informou que a penitenciária era projetada para abrigar 250 detentos, mas contava com 800. No incêndio morreram 350 pessoas.

Para o escritório, esta situação é produto de 'deficiências estruturais conhecidas pelas autoridades, e que não foram corrigidas a tempo'.

Em relação às cadeias femininas, Colville disse não ter dados concretos, mas afirmou que enfrentam os mesmos problemas que as masculinas.

O comunicado também cita o caso de uma detenta do Brasil que deu à luz algemada, 'o que transgride as regras da lei humanitária internacional' e lamenta que 'nenhum país na América do Sul' tenha estabelecido um Mecanismo Nacional de Prevenção da Tortura.

Diante desta situação, o escritório de Direitos Humanos da ONU pediu a todos os países latino-americanos que estabeleçam mecanismos imparciais que possam fiscalizar as prisões e implementar os padrões internacionais de tratamento aos detentos. 

Acompanhe tudo sobre:América LatinaONUPrisões

Mais de Mundo

Votação antecipada para eleições presidenciais nos EUA começa em três estados do país

ONU repreende 'objetos inofensivos' sendo usados como explosivos após ataque no Líbano

EUA diz que guerra entre Israel e Hezbollah ainda pode ser evitada

Kamala Harris diz que tem arma de fogo e que quem invadir sua casa será baleado