Síria: a comissão da ONU acusou repetidamente as diversas partes de uma série de crimes de guerra e, em alguns casos, de crimes contra a humanidade (Rami Zayat / Reuters)
Da Redação
Publicado em 6 de setembro de 2016 às 12h17.
Investigadores da ONU convocaram nesta terça-feira todas as partes envolvidas na sangrenta guerra na Síria a revitalizar um cessar-fogo hesitante, ainda que Washington e Moscou tenham falhado em alcançar um acordo para deter a violência.
A Comissão de Investigação da ONU sobre a Síria disse que o cessar-fogo acordado em fevereiro havia finalmente oferecido "um raio de esperança" para os civis que passaram por cinco anos e meio de uma violência terrível.
Mas salientou que, apenas um mês depois, combates e ataques indiscriminados contra áreas civis, incluindo numerosos hospitais, foram registrados.
"O acordo de cessação das hostilidades levou um alívio bem-vindo aos civis que durou muito pouco", disse a Comissão em seu 12º relatório, que abrange o período de janeiro a julho de 2016.
A equipe de três membros enfatizou a necessidade de restaurar o cessar-fogo, insistindo que "o sentimento de esperança engendrado no início deste ano deve ser revitalizado".
E pediu mais apoio ao enviado da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, que está lutando para colocar novamente em andamento as negociações paralisadas.
O relatório foi publicado depois que o presidente americano, Barack Obama, e seu colega russo, Vladimir Putin, se reuniram para conversar sobre a Síria, às margens da cúpula do G20 na China nesta semana, um encontro descrito como "produtivo".
Mas os dois líderes não conseguiram fechar um aguardado acordo para aliviar a violência na Síria, onde mais de 290.000 pessoas morreram e mais de metade da população foi deslocada desde março de 2011.
Torturas severas
A comissão da ONU, liderada pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, acusou repetidamente as diversas partes de uma série de crimes de guerra e, em alguns casos, de crimes contra a humanidade.
Os investigadores reiteraram nesta terça-feira seu apelo para que o Conselho de Segurança leve a situação da Síria ao Tribunal Penal Internacional.
No entanto, este continua sendo um cenário muito pouco provável, já que a Rússia, membro permanente do Conselho de Segurança, planeja continuar apoiando seu aliado em Damasco.
Em seu relatório, a Comissão informou que "mortes ilegais, incluindo mortes na prisão, e execuções sumárias continuam sendo uma característica marcante deste conflito sangrento".
Para as pessoas detidas pelas forças governamentais, especialmente, a tortura e os abusos sexuais parecem ser a regra, segundo ela.
"É extremamente raro encontrar um indivíduo detido pelo governo que não tenha sofrido torturas severas", disse.
A Comissão expressou uma preocupação particular com o número crescente de ataques a hospitais e a profissionais da área de saúde nos últimos seis meses, ressaltando o impacto terrível sobre o acesso aos cuidados médicos, desesperadamente necessários em muitos locais.
"A maioria dos ataques foram realizados pelas forças pró-governamentais", informou.
Fim dos cercos
Os investigadores também pediram o fim dos inúmeros cercos no país, que bloquearam 600.000 pessoas em condições muitas vezes terríveis.
Eles expressaram ainda uma profunda preocupação com o destino de "ao menos 300.000 civis" no leste de Aleppo, região controlada pelos rebeldes, que foi, mais uma vez, completamente cercada pelas tropas governamentais na segunda-feira.
A Comissão informou que está investigando alegações de que armas químicas foram usadas na cidade, dizendo ter recebido "informações confiáveis sobre o uso de gás de cloro" no dia 5 de abril, durante o bombardeio do bairro de Sheikh Maqsoud.
Quatro pessoas, incluindo dois civis, foram levadas ao hospital com sintomas de inalação de gás cloro, disse.
Um painel de investigação da ONU independente concluiu no mês passado que as forças do presidente Bashar al-Assad realizaram ao menos dois ataques químicos, um em 2014 e o outro em 2015.
Ele também descobriu que os extremistas do grupo Estado Islâmico utilizaram gás mostarda para atacar a cidade de Marea, na província de Aleppo, em agosto de 2015.