O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu nesta quinta-feira que todos os países contenham imediatamente a epidemia de ebola, em uma reunião especial na qual o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, alertou que os esforços ainda são insuficientes.
"Chegou o momento de um esforço poderoso e unificado para conter esta epidemia. O mundo pode e deve deter o ebola agora mesmo", disse Ban ao inaugurar uma reunião especial à margem da 69ª Assembleia Geral da ONU para discutir respostas à crise.
A epidemia, afirmou Ban, "está se expandindo; mata mais de 200 pessoas por dia, dois terços delas, mulheres". Guiné, Libéria e Serra Leoa, acrescentou, enfrentam "a maior e mais letal epidemia de ebola que o mundo já viu".
A febre hemorrágica altamente contagiosa já matou 2.917 pessoas de 6.263 casos na África Ocidental, de acordo com o último balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 21 de setembro.
O secretário-geral destacou que vários países e organismos internacionais já se mobilizaram para dar ajuda aos países afetados pela epidemia, mas destacou que a situação é tão grave que será necessário organizar a escala e a modalidade dessa intervenção.
Alguns países, disse Ban, "têm tentado conter o vírus fechando suas fronteiras. Companhias aéreas interromperam seus serviços. Diminuiu drasticamente o número de barcos em seus portos. Mas esta abordagem só piora a situação, isolando países que precisam de ajuda".
Obama exige mais esforços
Em seu discurso antes da reunião, Obama reafirmou que seu país disponibilizará enormes recursos em ajuda material e técnica, mas advertiu que todo esforço mobilizado ainda não é suficiente.
"Quero que sejamos claros: não estamos nos movimentando suficientemente rápido. Não estamos fazendo o suficiente", alertou Obama. Ele disse ainda que se a epidemia não for controlada, "poderá matar centenas de milhares de pessoas nos próximos meses".
A epidemia fez com que os sistemas de saúde pública nos países assolados entrassem em colapso e, se a crise não for controlada, vai se transformar em uma "catástrofe humanitária em toda a região", afirmou Obama.
Entretanto, o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim - um médico com experiência em epidemiologia -, destacou que "uma epidemia da magnitude e complexidade desta não se parece em nada com o que já foi visto até agora".
Jim relatou o caso da Nigéria, que recebeu uma pessoa doente vinda do exterior e conseguiu controlar a epidemia.
"Mas este caso único exigiu milhares de pessoas, de trabalhadores de saúde, de entrevistas e de visitas a domicílios. Estamos diante de uma escala inédita. Podemos parar a epidemia, mas não basta querer ajudar. Será fundamental planejar a ajuda", explicou.
O presidente de Serra Leoa, Ernest Bai Koroma, participou da reunião especial por videoconferência, e fez um apelo dramático por uma cooperação internacional para conter a epidemia.
Koroma disse que Serra Leoa é "o campo de batalha de um dos maiores desafios de vida ou morte que a comunidade global enfrenta (...) O ebola não é apenas uma doença de Serra Leoa e seus vizinhos: é uma doença de todo o mundo".
Controlar a epidemia, disse Koroma, "é uma luta para todos nós. Devemos provar que a Humanidade está pronta para este novo desafio à nossa existência coletiva".
Na reunião, o chanceler cubano, Bruno Rodríguez, alertou que falta ajuda "em recursos humanos e materiais". Um grupo de 165 médicos cubanos faz parte da linha de frente de combate ao ebola em Serra Leoa.
Em 18 de setembro, o Conselho de Segurança da ONU classificou a epidemia de "ameaça para a paz e a segurança internacionais", algo inédito para uma emergência sanitária.
A OMS advertiu na terça-feira que a epidemia seguia um crescimento "explosivo" e que 20.000 pessoas podiam ser contaminadas até novembro, a menos que haja um reforço espetacular nos meios para combatê-la.
-
1. O que é ebola?
zoom_out_map
1/13 (Tommy Trenchard/Reuters)
São Paulo -
Ebola é uma
doença viral aguda que causa febre hemorrágica. É causada por três das cinco espécies dentro do gênero. Duas espécies são capazes de infectar seres humanos, mas não parecem causar a doença. Os outros três podem causar graus variáveis de doença. O vírus Ebola Zaire é a estirpe mais mortal, e tem sido identificada como a causa do surto atual. Em epidemias anteriores, esta estirpe teve uma taxa de mortalidade de 90%.
-
2. A origem
zoom_out_map
2/13 (Frederick Murphy/CDC/Handout via Reuters)
A origem do vírus é incerta. Mas alguns especialistas acreditam que os morcegos podem abrigar o vírus em seu trato intestinal. Os primeiros seres humanos infectados e que espalharam a doença provavelmente caçaram e comeram um animal infectado.
-
3. A epidemia atual
zoom_out_map
3/13 (Tommy Trenchard/Reuters)
Este já é considerado o maior surto desde que o vírus ebola foi descoberto há quase 40 anos. O surto foi declarado em março, na Guiné. Desde então, a doença se espalhou para a Libéria, Serra Leoa e Nigéria e matou 60% dos infectados. São 1323 pessoas infectadas e 887 mortes, segundo o último balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS). Cerca de 60 mortes foram de trabalhadores de saúde que procuravam controlar a doença.
-
4. Os sintomas
zoom_out_map
4/13 (AFP)
Após o contágio, o paciente pode demorar até 21 dias antes de manifestar a doença. Os sinais são semelhantes aos da gripe, incluindo dores abdominais, febre, vômitos e diarreia. O quadro se agrava com a desidratação, insuficiência do fígado e dos rins, e hemorragia.
-
5. Transmissão
zoom_out_map
5/13 (Ahmed Jallanzo/Agência Lusa/Agência Brasil)
O vírus é transmitido diretamente pelo contato direto com sangue ou fluidos corporais dos infectados, inclusive dos mortos. O contágio é maior quando os pacientes já estão em estágios terminais, com hemorragia interna e externa, vômitos e diarreia, que contêm altas concentrações do vírus.
-
6. O tratamento
zoom_out_map
6/13 (Cellou Binani/AFP)
Não há um remédio específico para a doença. Os sintomas costumam ser tratados separadamente. Por exemplo, o soro intravenoso pode evitar a desidratação, enquanto um antitérmico diminui a febre. Já os analgésicos podem diminuir as dores. Aqueles que têm a doença identificada e recebem tratamento mais cedo têm mais chances de sobreviver à infecção. Infelizmente, como os sintomas são genéricos e parecidos com de outras doenças, o diagnóstico pode demorar.
-
7. Como se proteger
zoom_out_map
7/13 (AFP)
A melhor forma de se proteger da doença é evitar os locais onde há surto de ebola. Entre as recomendações do ministro da Saúde, Arthur Chioro, para quem tiver de viajar para estes países estão, por exemplo, seguir recomendações que serão dadas pelas autoridades sanitárias locais. Chioro aconselha os viajantes a não entrar em contato com secreções, vômitos e sangue das pessoas que são vítimas das doenças, que devem estar em isolamento e tratamento médico.
-
8. Epidemia global
zoom_out_map
8/13 (Tommy Trenchard / Reuters)
O risco de o vírus ser disseminado da África para a Europa, Ásia ou para as Américas é extremamente baixo, de acordo com especialistas em doenças infecciosas. O professor belga Peter Piot, um dos descobridores do vírus ebola, descartou uma epidemia fora do continente africano, em entrevista à AFP. Mesmo que um portador do ebola viaje até Europa, Estados Unidos ou outra região da África, o cientista não acredita que isto possa causar uma epidemia importante, pois a infecção requer um contato muito próximo. Mas Piot pediu que as vacinas e os tratamentos, promissores nos animais, sejam testados em humanos.
-
9. Vacina experimental
zoom_out_map
9/13 (sxc.hu)
Pesquisadores americanos planejam testar, em breve, uma vacina experimental contra o ebola. Se bem sucedida, poderá imunizar até 2015 trabalhadores de saúde, que estão na linha de fogo da epidemia. No próximo mês, os Institutos Nacionais da Saúde dos Estados Unidos começarão os testes em humanos da vacina, que já é promissora nas experiências em macacos.
-
10. Fronteiras fechadas
zoom_out_map
10/13 (Gary Cameron/Reuters)
Guiné, Libéria e Serra Leoa anunciaram na sexta-feira (2) que vão colocar em quarentena a região fronteiriça comum, onde surgiu o último surto do vírus ebola. O anúncio foi feito durante uma reunião de emergência para discutir a epidemia e depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertar que o ebola pode provocar uma perda catastrófica de vidas e prejuízos econômicos, caso a epidemia não seja controlada.
-
11. Não há mercado para a vacina
zoom_out_map
11/13 (AFP)
Segundo a AFP, até agora não se conseguiu convencer as companhias farmacêuticas a investir em uma vacina contra o ebola. Andrea Marzi e Heinz Feldmann, do instituto de virologia NIAID, disseram em artigo publicado em abril que, com surtos esporádicos que costumam afetar um pequeno número de pessoas na África, não existe um mercado comercial para uma vacina contra a doença.
-
12. Medicação
zoom_out_map
12/13 (Samaritans Purse/Divulgação via Reuters)
Herve Raoul, especialista em patógenos e pesquisador do Instituto Médico Francês de Saúde, disse à AFP que o ideal é desenvolver um antiviral que ajude os doentes a superar a fase mais aguda da doença. No entanto, essa medicação não existe hoje. Atualmente, os especialistas só podem aconselhar medidas preventivas, como isolar os infectados, tomar precauções para evitar o contato com fluidos corporais e enterrar os mortos com rapidez.
-
13. Agora veja 10 países onde respirar faz mal à saúde
zoom_out_map
13/13 (Reuters)