Lixão: perda de alimentos acontece principalmente em fazendas, durante o processamento, o transporte e o armazenamento, e pela falta de regulação que também afeta a segurança alimentar (Jean-Christophe Verhaegen/AFP)
Da Redação
Publicado em 2 de abril de 2014 às 16h53.
Bucareste - A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) denunciou nesta quarta-feira que, em média, cada habitante da Terra desperdiça quase 300 quilos de alimentos por ano e, ao mesmo tempo, mais de 800 milhões de pessoas passam fome.
Durante uma conferência regional da FAO para Europa e Ásia Central, focada no desperdício de alimentos, o diretor-geral da organização, José Graziano da Silva, destacou que 1.300 milhões de toneladas de alimentos são perdidas a cada ano.
"Se os desperdícios e as perdas pudessem ser reduzido simplesmente à metade, o aumento produção de alimentos para suprir a população mundial em 2050 seria de só 25%, em vez dos 60% estimados atualmente", explicou Graziano à Agência Efe.
Segundo dados da FAO, cada habitante da Terra desperdiça em média 280 quilos de alimentos por ano, enquanto ao mesmo tempo 842 milhões de pessoas, mais de 10% da população do planeta, passam fome diariamente.
A perda de alimentos acontece principalmente "em fazendas, durante o processamento, o transporte e o armazenamento", e pela "falta de regulação" que afeta também a segurança alimentar.
A crise financeira e econômica, que impactou duramente muitos Estados europeus, reduziu o desperdício de alimentos, embora esta redução continue sendo insuficiente para a FAO, disse Graziano.
As perdas econômicas e ambientais desse desperdício, além de tudo, ultrapassam as centenas de bilhões de dólares.
"O custo anual do desperdício e das perdas de alimentos, expressado em preço ao produtor, é de US$ 750 bilhões. Se considerássemos os preços no varejo e os custos ambientais, este número seria muito maior", destacou.
A conferência de Bucareste reúne esta semana mais de 300 delegados de meia centena de países da Europa e da Ásia Central, que discutem como reduzir a perda de alimentos, como fomentar a agricultura familiar e como combater os efeitos da mudança climática sobre a produção agrária.
"Precisamos aumentar nossos esforços para diminuir (os efeitos), para nos adaptarmos e, principalmente, para mudar para um sistema sustentável de alimentos", manifestou Graziano em referência ao mais recente relatório do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudança Climática, o IPCC.
"Esta é uma de nossas principais responsabilidades. Os mais pobres do mundo são especialmente vulneráveis à mudança climática", discursou o diretor-geral no plenário.
Mas, por outro lado, relacionou a fome e os movimentos migratórios vindos da África com o corte dos fundos da cooperação internacional.
Nesse sentido Graziano pediu que os Estados europeus voltem a ajudar mais seus países vizinhos. "A Europa deve recuperar seu papel de importante doadora", afirmou o ex-ministro do governo Lula e um dos articuladores do programa Fome Zero.