Um homem passa por uma barricada em chamas durante um protesto pedindo a renúncia do primeiro-ministro haitiano, em uma rua de Porto Príncipe, em 10 de outubro de 2022 (AFP/Divulgação)
AFP
Publicado em 14 de outubro de 2022 às 15h15.
Última atualização em 14 de outubro de 2022 às 15h42.
Pela primeira vez no Haiti, pelo menos 19 mil pessoas atingiram o nível mais alto de insegurança alimentar, o que significa comer apenas uma vez por dia com alimentos de má qualidade — alertou a Organização das Nações Unidas nesta sexta-feira, 14.
"O Haiti está enfrentando uma catástrofe humanitária (...) e o relatório publicado hoje mostra que a gravidade e a extensão da insegurança alimentar no Haiti estão piorando", disse o diretor do Programa Mundial de Alimentos (PMA) para o país, Jean-Martin Bauer, em videoconferência.
O relatório a que se refere, publicado nesta sexta-feira, revela que 4,7 milhões de haitianos, cerca de metade da população, sofrem de níveis de insegurança alimentar aguda.
Desse total, 19,2 mil estão na fase de "catástrofe" (fase 5 da classificação de segurança alimentar, o nível mais alto), e 1,8 milhão, na fase de "urgência" (fase 4).
Todas as famílias classificadas na fase 5 vivem em Cité Soleil, o bairro mais pobre e violento da capital, e representam 0,3% da população desta localidade situada na periferia de Porto Príncipe, segundo a análise do PMA.
É "a primeira vez no Haiti" que há pessoas que estão na fase 5 da classificação, ressaltou Bauer, insistindo em que essas pessoas não têm os nutrientes essenciais necessários "para sobreviver".
Para a ONU falar em "fome", é preciso que grandes setores da população sejam afetados.
O PMA prevê que a situação alimentar piore a cada ano nesse país, um dos mais pobres e vulneráveis a desastres naturais na região.
O Haiti, onde o cólera ressurgiu quase três anos após o fim da última epidemia, também é um país atormentado por anos de instabilidade política e pela ação de gangues criminosas.
Além disso, sofre com a alta inflação, que desencadeou distúrbios, saques e manifestações contra o primeiro-ministro Ariel Henry depois que ele anunciou um aumento no preço da gasolina.
Em nota, o PMA destaca que a insegurança e a falta de combustível dificultam as operações humanitárias e que a ONU está comprometida com "a importância de respeitar os princípios humanitários de humanidade, neutralidade, imparcialidade e independência para que a ajuda chegue aos haitianos".
Em 2022, o PMA entregou auxílio emergencial a mais de 100 mil pessoas na região metropolitana de Porto Príncipe.
"Temos que ajudar os haitianos a produzir alimentos de melhor qualidade e mais nutritivos para preservar seus meios de subsistência e seu futuro", disse o representante local da ONU para Agricultura e Alimentação, José Luis Fernández Filgueiras, citado no comunicado.
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