Acampamento de refugiados sírios: 12,2 milhões de sírios necessitam de ajuda, segundo a ONU, mas 40% deles (4,8 milhões) têm dificuldades para consegui-la (AFP/ Khalil Mazraawi)
Da Redação
Publicado em 18 de junho de 2015 às 09h23.
O número de deslocados e refugiados alcançou em 2014 um recorde de 59,5 milhões de pessoas, em consequência dos vários conflitos no mundo, afirma o relatório anual do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), que se declara cada vez mais sobrecarregado.
O Acnur constata um "assustador aumento" do número de pessoas obrigadas a fugir, "com 59,5 milhões de deslocados no fim de 2014, contra 51,2 milhões um ano ante".
Há uma década o número era de 37,5 milhões, recorda a agência da ONU, para a qual o aumento desde 2013 é o maior registrado em apenas um ano.
No ano passado, 42.500 pessoas viraram refugiados, deslocados internos ou solicitantes de asilo a cada dia, constata o documento.
"Não somos mais capazes de juntar os pedaços", afirmou o Alto Comissário para os Refugiados, António Guterres, que destacou a impotência das agências humanitárias na questão.
"Não temos a capacidade, os recursos para todas as vítimas dos conflitos", disse.
"Esperamos alcançar um teto no número de deslocados e refugiados no fim do ano", advertiu Guterres.
A alta do número de refugiados começou a registrar um avanço considerável a partir de 2011, com a guerra na Síria, que provocou o maior número de deslocamento de pessoas já registrado na história.
O Acnur registra pelo menos 15 conflitos nos últimos cinco anos: oito na África (Costa do Marfim, República Centro-Africana, Líbia, Mali, norte da Nigéria, República Democrática do Congo, Sudão do Sul e Burundi), três no Oriente Médio (Síria, Iraque e Iêmen), um na Europa (Ucrânia), três na Ásia (Quirguistão, várias regiões de Mianmar e Paquistão).
Os três países mais afetados são a Síria (7,6 milhões de deslocados internos e 3,88 milhões de refugiados no fim de 2014), Afeganistão (2,59 milhões de pessoas no total) e Somália (1,1 milhão de pessoas).
Em 2014, apenas 126.800 refugiados conseguiram retornar para suas regiões, o menor número em 31 anos.
Mais da metade dos refugiados são menores de idade.
Abrir as fronteiras na Europa
Quase 90% dos refugiados estão nos países considerados economicamente menos desenvolvidos. Guterres também lamenta as restrições para recebê-los, especialmente na Europa.
"Um dos problemas é a ausência de uma política migratória na União Europeia", declarou o Alto Comissário, que apelou aos países europeus para que mantenham as "fronteiras abertas".
"Precisamos de mais vias legais para que os refugiados cheguem à Europa", completou, antes de afirmar que Alemanha e Noruega realizam um "esforço considerável" para receber os refugiados sírios.
Assim como outros dirigentes da ONU, Guterres afirma que a melhor maneira de lutar contra os traficantes de seres humanos e outros traficantes é "encontrar meios legais para receber os refugiados".
No ano passado, 219.000 refugiados e migrantes atravessaram em perigosas condições o Mediterrâneo, três vezes mais que o recorde anterior, de 70.000, registrado em 2011, afirma o documento. Quase 3.500 homens, mulheres e crianças morreram ou desapareceram na tentativa.
A Turquia, com 1,59 milhão de refugiados sírios no fim de 2014, é o país que recebeu o maior número de pessoas.
O relatório do Acnur ressalta ainda a existência de uma nova forma de refugiados, "as vítimas de organizações criminosas", um fenômeno que afeta a América Central e o México.