Com o propósito de aliviar as consequências de um crescimento descontrolado das comunidades pobres, o diretor-executivo do ONU-Habitat propôs a criação de uma política urbanística única para cada país (Vladimir Platonow/Abr)
Da Redação
Publicado em 24 de novembro de 2011 às 20h31.
Porto Alegre - As cidades sofrerão uma catástrofe que causará um aumento da insegurança e das desigualdades se não forem criadas políticas urbanísticas que diminuam a segregação dos bairros afastados, segundo destacaram nesta quinta-feira diversos palestrantes no 10º Congresso Mundial de Metrópoles.
"Se continuarmos assim, iremos direto ao desastre e em direção à perda da identidade cultural, ao aumento da insegurança cidadã e ao risco crescente de segregação e do surgimento de favelas verticais", disse o diretor-executivo do Programa ONU-Habitat, Joan Clos, na abertura do evento, que começou hoje em Porto Alegre.
Este encontro reúne até o próximo sábado cerca de 800 líderes procedentes de 150 cidades com o objetivo de propor um novo rumo de crescimento e suavizar os sintomas de esgotamento do atual sistema.
Segundo os dados apresentados por Clos, quase um bilhão de pessoas vivem em bairros pobres e 62% da população da África Subsaaariana habita em bairros marginais, contra 43% dos caribenhos e latino-americanos.
Com o propósito de aliviar as consequências de um crescimento descontrolado das comunidades pobres, o diretor-executivo do ONU-Habitat propôs a criação de uma política urbanística única para cada país e a dilatação das cidades a fim de baratear o preço da moradia.
Os programas de atuação urbanística são projetos planificados nas grandes cidades para se estender através de sua área metropolitana e dotar esses novos bairros de infraestruturas e equipamentos básicos.
"As dilatações devem estar planificadas com espaços orientados ao cidadão e sem fomentar a segregação", frisou Clos, prefeito de Barcelona, na Espanha, entre 1997 e 2006.
O presidente da Rede Metropolis, Jean-Paul Huchon, concordou em parte com Clos ao destacar que as cidades se encontram em processo de transição e ressaltou que 70% da população mundial viverá em cidades em 2050.
"Os planejamentos urbanos devem surgir do debate, da consulta e do consenso, mas para isso é necessário aumentar a democracia participativa e fomentar o transporte público para reduzir a poluição", afirmou Huchon à Efe.
O ex-prefeito de Bogotá, Antanas Mockus, opinou que a violência e o narcotráfico são dois dos principais problemas enfrentados pelas grandes cidades e apelou à legislação para controlá-los.
"As leis são como as recomendações médicas. Se forem cumpridas, a pessoa melhora, mas para isso também é necessário o apoio da família e da justiça", frisou Mockus, que participou da mesa-redonda "Governança e Qualidade de Vida".
Apesar de sua larga carreira política, Mockus, que foi prefeito da capital colombiana por dois mandatos e candidato à Presidência do país, sustentou que não é necessário depender de um cargo público para combater esses problemas e acrescentou que os eleitores sofrem atualmente de um "daltonismo político" que lhes impede de diferenciar ideologias e propostas.
O Congresso recebeu em sua jornada inaugural conferências e mesas-redondas nas quais foram analisados os desafios que as cidades do futuro terão pela frente.
"É nossa responsabilidade responder com firmeza, segurança e transparência às demandas e reivindicações dos cidadãos", considerou o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, antes de ressaltar que o evento está orientado ao fomento do desenvolvimento sustentável e ao respeito do meio ambiente.
O prefeito de Barcelona, Xavier Trias, participará de uma sessão do segundo dia do Congresso no qual discutirá soluções inovadoras aplicadas à mobilidade urbana e apresentará o processo de revitalização do porto catalão que a Prefeitura de Porto Alegre pretende aplicar na cidade.