O coordenador da ONU no combate ao vírus ebola, Dr. David Nabarro, alertou nesta segunda-feira que a luta contra a epidemia é uma "guerra que ainda não foi vencida" e que pode levar até seis meses.
Durante uma entrevista coletiva à imprensa em Freetown, capital de Serra Leoa, Nabarro também lamentou a suspensão das rotas de várias companhias aéreas nos países afetados, o que, segundo ele, torna a missão da ONU "muito mais difícil", até "impossível".
"Nós trabalhamos com medidas excepcionais em seis meses para controlar rapidamente a doença", disse o epidemiologista britânico, ressaltando que "a epidemia de ebola avança em muitas áreas do país".
O vírus ebola, uma febre hemorrágica que pode matar em questão de dias, infectou mais de 2.600 pessoas e matou 1.427 (624 na Libéria, 406 na Guiné, 392 em Serra Leoa e 5 na Nigéria), este ano, segundo o último balanço da OMS.
Na Nigéria, o país menos afetado da região, foram confirmados apenas 13 casos, 5 deles fatais.
"A luta para vencer o ebola não é uma batalha, é uma guerra, que exige que todos trabalhem juntos, de forma dura e eficaz. Espero que esta guerra termine em seis meses, mas devemos continuar até que chegue ao fim", declarou o Dr. Nabarro, acrescentando: "Nós ainda não vencemos".
Neste combate, uma nova frente se abriu, com a descoberta de um surto em uma área isolada da República Democrática do Congo (RDC), diferente daquele que assola o oeste africano, segundo autoridades de saúde congolesas e internacionais.
A epidemia que foi declarada no início do ano na Guiné, antes de se propagar para Libéria e Serra Leoa, e posteriormente Nigéria, é a mais grave da história desta febre hemorrágica, identificada em 1976 na RDC.
Na Libéria, país mais atingido, o governo anunciou a morte do médico Abraham Borbor, contaminado pelo vírus e que estava sendo tratado com o soro experimental americano ZMapp.
O Japão propôs nesta segunda-feira para o combate ao ebola o fornecimento de um outro tratamento experimental desenvolvido por uma companhia do país e homologado em março como um antiviral contra a gripe.
Quarentena em 100 km2
Um especialista da OMS em epidemiologia foi contaminado em Serra Leoa, o primeiro entre os quase 400 funcionários da área da saúde mobilizados nos países afetados.
De nacionalidade senegalesa, este especialista deve ser transferido de Freetown para a Europa, segundo o governo do Senegal.
A Europa recebeu no domingo um segundo caso de ebola, depois de um padre espanhol infectado na Libéria, falecido em 12 de agosto. Trata-se de William Pooley, de 29 anos, um enfermeiro voluntário britânico contaminado em Kenema, no leste de Serra Leoa, epicentro da epidemia.
Internado em uma unidade de isolamento no Royal Free Hospital de Londres, ele soube da infecção no sábado e "tem boas chances de recuperação", indicou Robert Garry, um médico americano que trabalhou com ele em Kenema.
O oeste africano já não é mais a única região afetada: o vírus ebola ressurgiu em uma zona remota no noroeste da RDC, o sétimo surto registrado no país, matando 13 pessoas.
A OMS concorda com as autoridades congolesas sobre a natureza isolada desta epidemia, "totalmente independente do surto no oeste africano", escreveu um funcionário da organização em Kinshasa sob condição de anonimato.
As autoridades congolesas lançaram sua resposta nesta segunda. O ministro do Interior, Richard Muyej, enviou a Kinshasa termômetros a laser para ajudar no controle da doença.
O ministro da Saúde congolês, Félix Kabange Numbi, pediu apoio financeiro à comunidade internacional. Segundo ele, o país tem precisa imediatamente de dois milhões de dólares (1,5 milhão de euros) para lutar contra a doença.
O setor, perto da cidade de Boende - cerca de 800 km a nordeste de Kinshasa -, foi colocado em quarentena em uma área de cem quilômetros quadrados.
No total, pelo menos 11 pacientes foram isolados e mais de 80 pessoas que tiveram contato com os pacientes são acompanhados "por uma equipe especializada."
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1. O que é ebola?
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1/13 (Tommy Trenchard/Reuters)
São Paulo -
Ebola é uma
doença viral aguda que causa febre hemorrágica. É causada por três das cinco espécies dentro do gênero. Duas espécies são capazes de infectar seres humanos, mas não parecem causar a doença. Os outros três podem causar graus variáveis de doença. O vírus Ebola Zaire é a estirpe mais mortal, e tem sido identificada como a causa do surto atual. Em epidemias anteriores, esta estirpe teve uma taxa de mortalidade de 90%.
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2. A origem
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2/13 (Frederick Murphy/CDC/Handout via Reuters)
A origem do vírus é incerta. Mas alguns especialistas acreditam que os morcegos podem abrigar o vírus em seu trato intestinal. Os primeiros seres humanos infectados e que espalharam a doença provavelmente caçaram e comeram um animal infectado.
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3. A epidemia atual
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3/13 (Tommy Trenchard/Reuters)
Este já é considerado o maior surto desde que o vírus ebola foi descoberto há quase 40 anos. O surto foi declarado em março, na Guiné. Desde então, a doença se espalhou para a Libéria, Serra Leoa e Nigéria e matou 60% dos infectados. São 1323 pessoas infectadas e 887 mortes, segundo o último balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS). Cerca de 60 mortes foram de trabalhadores de saúde que procuravam controlar a doença.
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4. Os sintomas
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4/13 (AFP)
Após o contágio, o paciente pode demorar até 21 dias antes de manifestar a doença. Os sinais são semelhantes aos da gripe, incluindo dores abdominais, febre, vômitos e diarreia. O quadro se agrava com a desidratação, insuficiência do fígado e dos rins, e hemorragia.
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5. Transmissão
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5/13 (Ahmed Jallanzo/Agência Lusa/Agência Brasil)
O vírus é transmitido diretamente pelo contato direto com sangue ou fluidos corporais dos infectados, inclusive dos mortos. O contágio é maior quando os pacientes já estão em estágios terminais, com hemorragia interna e externa, vômitos e diarreia, que contêm altas concentrações do vírus.
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6. O tratamento
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6/13 (Cellou Binani/AFP)
Não há um remédio específico para a doença. Os sintomas costumam ser tratados separadamente. Por exemplo, o soro intravenoso pode evitar a desidratação, enquanto um antitérmico diminui a febre. Já os analgésicos podem diminuir as dores. Aqueles que têm a doença identificada e recebem tratamento mais cedo têm mais chances de sobreviver à infecção. Infelizmente, como os sintomas são genéricos e parecidos com de outras doenças, o diagnóstico pode demorar.
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7. Como se proteger
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7/13 (AFP)
A melhor forma de se proteger da doença é evitar os locais onde há surto de ebola. Entre as recomendações do ministro da Saúde, Arthur Chioro, para quem tiver de viajar para estes países estão, por exemplo, seguir recomendações que serão dadas pelas autoridades sanitárias locais. Chioro aconselha os viajantes a não entrar em contato com secreções, vômitos e sangue das pessoas que são vítimas das doenças, que devem estar em isolamento e tratamento médico.
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8. Epidemia global
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8/13 (Tommy Trenchard / Reuters)
O risco de o vírus ser disseminado da África para a Europa, Ásia ou para as Américas é extremamente baixo, de acordo com especialistas em doenças infecciosas. O professor belga Peter Piot, um dos descobridores do vírus ebola, descartou uma epidemia fora do continente africano, em entrevista à AFP. Mesmo que um portador do ebola viaje até Europa, Estados Unidos ou outra região da África, o cientista não acredita que isto possa causar uma epidemia importante, pois a infecção requer um contato muito próximo. Mas Piot pediu que as vacinas e os tratamentos, promissores nos animais, sejam testados em humanos.
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9. Vacina experimental
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9/13 (sxc.hu)
Pesquisadores americanos planejam testar, em breve, uma vacina experimental contra o ebola. Se bem sucedida, poderá imunizar até 2015 trabalhadores de saúde, que estão na linha de fogo da epidemia. No próximo mês, os Institutos Nacionais da Saúde dos Estados Unidos começarão os testes em humanos da vacina, que já é promissora nas experiências em macacos.
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10. Fronteiras fechadas
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10/13 (Gary Cameron/Reuters)
Guiné, Libéria e Serra Leoa anunciaram na sexta-feira (2) que vão colocar em quarentena a região fronteiriça comum, onde surgiu o último surto do vírus ebola. O anúncio foi feito durante uma reunião de emergência para discutir a epidemia e depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertar que o ebola pode provocar uma perda catastrófica de vidas e prejuízos econômicos, caso a epidemia não seja controlada.
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11. Não há mercado para a vacina
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11/13 (AFP)
Segundo a AFP, até agora não se conseguiu convencer as companhias farmacêuticas a investir em uma vacina contra o ebola. Andrea Marzi e Heinz Feldmann, do instituto de virologia NIAID, disseram em artigo publicado em abril que, com surtos esporádicos que costumam afetar um pequeno número de pessoas na África, não existe um mercado comercial para uma vacina contra a doença.
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12. Medicação
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12/13 (Samaritans Purse/Divulgação via Reuters)
Herve Raoul, especialista em patógenos e pesquisador do Instituto Médico Francês de Saúde, disse à AFP que o ideal é desenvolver um antiviral que ajude os doentes a superar a fase mais aguda da doença. No entanto, essa medicação não existe hoje. Atualmente, os especialistas só podem aconselhar medidas preventivas, como isolar os infectados, tomar precauções para evitar o contato com fluidos corporais e enterrar os mortos com rapidez.
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13. Agora veja 10 países onde respirar faz mal à saúde
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13/13 (Reuters)