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ONU adverte para possível crise de alimentos na África

A ONU alertou para a chance de que o mundo enfrente uma crise alimentar na África caso fundos não sejam alcançados em breve


	Fome na África: 800 mil refugiados no continente não recebem comida necessária
 (Christopher Furlong/Getty Images)

Fome na África: 800 mil refugiados no continente não recebem comida necessária (Christopher Furlong/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 1 de julho de 2014 às 13h23.

Genebra - A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou nesta terça-feira para a possibilidade de que o mundo enfrente uma crise de alimentos na África caso não sejam alcançados em breve os fundos para alimentar os 800 mil refugiados que não recebem a comida necessária, cuja número não para de crescer.

"A África é o continente esquecido e as crises de lá também são. Como é menos importante geoestrategicamente, a atenção se centra em crise como a da Síria, a da Ucrânia ou, agora, o Iraque, mas não devemos esquecer as centenas de milhares de africanos que mal sobrevivem diariamente", disse em entrevista coletiva António Guterres, o Alto Comissário da ONU para os Refugiados (Acnur).

Guterres definiu assim o problema da África, um continente com enormes desafios e que acolhe a uma imensa população refugiada que continua crescendo por causa de, entre outros fatores, os conflitos na República Centro-Africana e no Sudão do Sul.

Os problemas de segurança e a falta de fundos obrigaram às agências humanitárias da ONU a reduzir drasticamente as porções de alimentos que repartem, o que agravou a já alarmante situação de desnutrição de cerca de 800 mil pessoas.

Em todo o continente africano, aproximadamente, 2,4 milhões de refugiados em 200 lugares situados em 22 países dependem da ajuda do Programa Mundial de Alimentos (PAM) para sobreviver, e, atualmente, um terço deles sofre com cortes nas porções de alimentos que recebem.

"Simplesmente não temos os recursos para comprar comida", declarou Ertharin Cousin, diretora-executiva do PAM.

Guterres e Ertharin se reuniram hoje com representantes dos Estados-membros em Genebra e pediram doações extras para fazer frente a esta situação, que ameaça agravar os já "inaceitáveis níveis de desnutrição aguda, lentidão no desenvolvimento e anemia, especialmente entre as crianças", advertiram. O PAM considera que necessita de US$186 milhões extras de agora a dezembro e o Acnur solicita US$39 milhões.

Até o momento, já há diminuição de, pelo menos, 50% das porções distribuídas a 450 mil refugiados amparados em acampamentos da República Centro-Africana, Chade e Sudão do Sul. Outros refugiados na Libéria, Burkina Faso, Moçambique, Gana, Mauritânia e Uganda recebem porções que contêm 43% menos de comida.


Além disso, há mais de um ano, os refugiados de Uganda, Quênia, Etiópia, Congo, República Democrática do Congo e Camarões sofreram cortes esporádicos.

O caso mais dramático é o do Chade, onde os refugiados - a maioria sul-sudaneses e centro-africanos - sofrem reduções que chegam a 60%, o que os deixa com porções de 850 quilocalorias (kcal) diárias, quando, normalmente, o PAM distribui porções de 2.100 kcal.

Durante o encontro com os representantes dos Estados-membros, Guterres e Ertharin mencionaram um relatório que demonstra que a desnutrição durante os primeiros mil dias de vida pode ter consequências irreversíveis tanto físicas quanto cerebrais para as crianças.

Os dois responsáveis lembraram que, inclusive antes dos cortes atuais, o nível de desnutrição entre a população refugiada já era inaceitável, algo que prova um estudo realizado entre 2011 e 2013. O estudo mostrou que apenas um dos 92 acampamentos analisados cumpria a meta de que menos de 20% das crianças tivessem anemia.

Também revelou que apenas 15% dos lugares estudados tinham menos de 20% da população infantil com problemas de crescimento e que a desnutrição aguda entre os menores de cinco anos afetava residentes de mais de 60% dos acampamentos.

Esta situação de falta de alimentos obriga os refugiados a buscar alternativas, que muitas vezes implicam na prostituição de meninas e mulheres em troca de dinheiro ou alimentos tanto dentro quanto fora dos campos, correndo o risco de sofrerem violência ou contraírem doenças, ou a aceitar de casamentos não desejados.

Além disso, muitas crianças que, em uma situação mais favorável, iriam à escola, precisam abandoná-la e tentar buscar trabalho para ajudar as famílias a sobreviver.

É por isso que, além de pedir aos países doadores dinheiro suficiente para cobrir as necessidades, o PAM e o Acnur pedem aos Estados africanos que ofereçam aos refugiados terras para cultivar e permissões para trabalho.

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