Estádio Olímpico de Londres, em construção: cidade é exemplo de sustentabilidade (Shaun Botterill/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 19 de fevereiro de 2011 às 10h09.
Londres - A Olimpíada de Londres, no ano que vem, será a mais sustentável da história, segundo afirmou o diretor de Sustentabilidade da Autoridade Olímpica Britânica (ODA, na sigla em inglês), Dan Epstein. Ele esteve em São Paulo nesta semana para divulgar o documentário "Going for Green - Britain's 2012 Dream" (A Caminho do Verde - O Sonho Britânico para 2012, em tradução livre).
O filme mostra os novos conceitos e soluções de engenharia adotados para diminuir o impacto ambiental das obras para os jogos, além dos desafios de garantir benefícios reais para a população local após o evento.
O carro-chefe do projeto, que está em andamento, é a revitalização do distrito de Stratford, na zona leste de Londres onde está sendo construído o Parque Olímpico. A região era uma antiga zona industrial, com áreas abandonadas e terrenos contaminados por metais pesados e outros resíduos tóxicos deixados por empresas que se instalaram no local a partir do século 19.
Hoje o cenário é outro. Stratford recebeu investimentos de 88 milhões de libras (R$ 236,9 milhões) e 2 milhões de toneladas de solo foram limpos. Segundo o documentário, esta foi a maior operação de descontaminação já feita no Reino Unido. No processo a terra foi levada em caminhões para uma estação de tratamento, purificada e recolocada no local de origem.
No Parque Olímpico, foram plantadas 4 mil árvores e 60 mil bulbos, além de 300 mil plantas aquáticas. A área total do complexo, de 2,5 quilômetros quadrados, é igual à do Hyde Park, parque central de Londres.
Os avanços no Complexo Olímpico são fruto de um planejamento de ao menos dois anos, após a escolha de Londres para sede dos jogos. "A preocupação ambiental foi nossa proposta desde o início", lembrou Epstein.
Rio 2016
Autoridades de Londres e do Rio de Janeiro, sede dos jogos de 2016, já têm acordos firmados para troca de experiências sobre a condução dos projetos olímpicos e das práticas sustentáveis. "O Brasil pode e quer realizar jogos sustentáveis", afirmou Gilberto Schweder, consultor do Ministério do Esporte para infraestrutura.
Segundo ele, o Brasil deve ter a preocupação com o meio ambiente e com o legado dos jogos para a população. "Como o País tem escassez de recursos, é preciso pensar muito bem como desenvolver a infraestrutura e o uso posterior dos complexos esportivos", alertou.
Ao contrário do Reino Unido, o Brasil terá outros obstáculos. "O Rio não tem áreas contaminadas como Londres, mas terá que lidar com o desafio de obter as licenças ambientais no prazo certo", disse o consultor. Além disso, os jogos no Rio estarão espalhados pela cidade, enquanto em Londres metade dos eventos ocorrerão no Parque Olímpico. "É uma chance de propor melhorias para a cidade toda", acrescentou.
O principal conselho dos britânicos para os brasileiros é que os organizadores planejem as ações e tenham metas claras. "É necessário planejamento desde o começo. Não dá para colocar a sustentabilidade depois", disse o embaixador do Reino Unido no Brasil, Alan Charlton.
Custos
Mesmo com o planejamento britânico, os custos previstos para a Olimpíada de 2012 mais que dobraram desde que Londres se apresentou como candidata, em 2003. Desde então, o orçamento saltou de 4 bilhões de libras para 9,3 bilhões de libras (R$ 25 bilhões).
Apesar do salto, o valor é quase três vezes menor que o gasto pela China com a Olimpíada de Pequim em 2008 (R$ 71,6 bilhões) e está abaixo do previsto para o Rio (R$ 30 bilhões). A justificativa da Autoridade Olímpica Britânica para a dilatação do orçamento é que foram aprofundados os investimentos em infraestrutura.
"A projeção inicial de custos era para 19 dias de competições. Já o orçamento atual considera o legado de infraestrutura que vai ficar para as pessoas nos próximos 50, 80 anos", afirmou Dan Epstein, ao citar melhorias no transporte público, nos hospitais e na área de habitação, além de empreendimentos privados e novos empregos.
Segundo ele, a cada 1 libra investida, 0,75 corresponde ao "legado". Um exemplo seria o da Vila Olímpica. Dos 2.800 apartamentos construídos ali, ao menos metade - segundo determina a lei - irá para a população de baixa renda.
As ações ligadas ao meio ambiente não encareceram os jogos, na opinião do diretor de sustentabilidade. Ele citou como exemplo o projeto de revitalização de Stratford, onde cerca de 220 imóveis foram demolidos e 97% dos entulhos foram reciclados ou reaproveitados. Neste caso, segundo ele, o projeto inicial foi mais caro, pois exigiu maior planejamento. Na sequência, porém, o gasto com materiais foi menor. "Em geral, o custo é maior no começo, mas a economia vem depois", disse.
Sustentabilidade
Um dos sonhos britânicos mais ambiciosos é ampliar as linhas de trens de Londres, para que 100% dos espectadores cheguem até o Parque Olímpico por meio de transporte público, bicicleta ou à pé - com exceção de autoridades, celebridades, atletas e jornalistas. Segundo a organização dos jogos, haveria ainda carrinhos de golfe para idosos e deficientes físicos.
Conforme mostra o documentário "Going for Green", cerca de 60% dos suprimentos para as obras em Stratford chegaram ao local por meio de trens ou embarcações, reduzindo a emissão de poluentes por caminhões. Esse foi um dos maiores desafios, porque exigiu adaptação de uma ferrovia e uma hidrovia na capital britânica, além da mudança na cultura dos fornecedores, acostumados com a logística do transporte rodoviário, segundo um dos diretores do projeto.
Os novos espaços esportivos do Parque Olímpico, como o estádio principal e o centro aquático, utilizarão cerca de 40% menos água na comparação com outros complexos equivalentes, segundo os organizadores do projeto. A economia se deve à coleta de água da chuva nos telhados para utilização na limpeza.
Outro destaque é o sistema de energia e aquecimento do parque, que deve ser usado pela comunidade local após os jogos e é movido a gás natural e biomassa. Segundo os organizadores, esse mecanismo deverá cortar pela metade as emissões de gases causadore