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Onde está o urânio do Irã? País diz ter retirado o material antes de ataque e EUA buscam informações

Iranianos teriam 400 kg de material, que pode ser usado para fazer bombas e pode ser transportado em caixas pequenas, de carro

Reunião do comando do Exército do Irã, em Teerã, em 23 de junho (Exército do Irã/AFP)

Reunião do comando do Exército do Irã, em Teerã, em 23 de junho (Exército do Irã/AFP)

Publicado em 23 de junho de 2025 às 08h43.

Última atualização em 23 de junho de 2025 às 11h04.

No sábado, 21, os Estados Unidos fizeram um grande ataque contra as instalações nucleares do Irã. O presidente Donald Trump, disse que elas teriam sido "obliteradas". No entanto, o tamanho real dos danos ainda está sendo analisado, e uma questão importante segue em aberto: o que aconteceu com as reservas de urânio enriquecido do Irã.

Logo após o ataque, autoridades iranianas disseram à imprensa local que o material radioativo havia sido removido das instalações atacadas alguns dias antes, sem revelar para onde.

Segundo inspeções internacionais, o Irã teria conseguido obter cerca de 400 kg de urânio enriquecido a 60%. Para usar o material em uma bomba, é preciso chegar a cerca de 90%. Essa quantidade de material atômico pode ser suficiente para fazer cerca de dez bombas.

O urânio, no entanto, pode ser colocado em caixas especiais pequenas, capazes de serem levadas em carros comuns.

A questão é importante por várias razões. Além do risco de um eventual vazamento radioativo, Israel e EUA disseram que só vão parar a ofensiva contra o Irã quando conseguirem acabar com o programa nuclear do país, ou se os iranianos aceitarem um acordo para parar com as pesquisas na área. Manter o material escondido pode ajudar os iranianos a retomar o programa nuclear no futuro, mesmo que de forma secreta, ou tentar repassá-lo a outros países.

Carta do Irã

Rafael Grossi, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA), que monitora o programa nuclear do Irã, disse nesta segunda-feira, 23, que o chanceler do Irã, Abbas Araghci, enviou uma carta a ele, em 13 de junho, dizendo que o Irã adotaria "medidas especiais para proteger nosso equipamento nuclear e materiais". Ele afirmou que qualquer transferência de local de material nuclear deveria ser declarada à IAEA.

Grossi disse ainda que a extensão dos danos feitos pelos ataques dos EUA ainda está sendo analisada.

"Neste momento, ninguém – incluindo a AIEA – está em condições de avaliar completamente os danos subterrâneos em Fordow. Dada a carga explosiva utilizada e a extrema sensibilidade das centrífugas à vibração, espera-se que tenham ocorrido danos muito significativos", disse.

O diretor também confirmou os ataques às centrais de Esfahan e Natanz, e que a extensão dos danos nelas também está sob análise.

Ao longo do domingo, autoridades do governo Trump buscaram ponderar que os danos às centrais nucleares ainda precisavam ser confirmados. Perguntado sobre o estoque de urânio, o vice-presidente JD Vance disse buscar respostas sobre o tema.

O que as últimas guerras dos EUA indicam sobre os próximos passos do conflito com o Irã

“Vamos trabalhar nas próximas semanas para garantir que façamos algo com esse combustível e isso é uma das coisas sobre as quais vamos ter conversas com os iranianos”, disse o vice-presidente ao programa “This Week” da ABC, no domingo.

Como funciona o processo de enriquecimento do urânio?

O urânio encontrado na natureza tem concentração de 99% do isótopo U-238. Apenas 0,7% é do isótopo U-235, que é o que interessa para fins energéticos ou militares. O urânio natural, composto principalmente de U-238, é transformado em gás (UF6) e separado por métodos como centrífugas ou difusão gasosa. As centrífugas giram a alta velocidade para separar os isótopos com base em sua massa, concentrando o U-235.

"O processo de enriquecimento do urânio busca aumentar a concentração do isótopo U-235, em relação aos outros isótopos, que embora tenham o mesmo comportamento químico, são diferentes em relação ao comportamento físico, especialmente em relação à radiação,” afirma Pedro Côrtes, professor do Instituto de Energia e Ambiente da USP.

Para chegar em um urânio enriquecido, a concentração do U-235 tem que sair de 0,7% e atingir níveis, por exemplo, de 3% a 5%, para que ele possa ser utilizado para fins de geração de energia elétrica, afirma Côrtes.

“Esse isótopo é mais radioativo, e à medida que você aumenta a concentração, aumenta a emissão de radiação. No caso da geração de energia elétrica, isso aumenta o potencial de gerar calor, que é usado para aquecer a água e gerar vapor. Esse vapor movimenta, por exemplo, as turbinas que vão gerar energia elétrica", afirma.

À medida que a concentração do isótopo U-235 é aumentada, sobe o poder de radiação do urânio, que passa a ser utilizado para finalidades médicas. "É muito comum você fazer a irradiação a partir desses concentrados de urânio para matar as células cancerígenas", afirma o professor.

Quando a concentração do U-235 chega a níveis próximos de 90% ou superiores, o urânio se torna útil para a confecção de bombas atômicas. "O urânio enriquecido é perigoso à medida que você vai aumentando a concentração dele. Quanto mais concentrado, mais radioativo ele é", diz Côrtes.

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