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Onda de violência no Egito deixa mais de 600 mortos

Condenação mundial ao massacre promovido pelos apoiadores do presidente deposto ampliou, incluindo a resposta severa do presidente Obama

Um banner do presidente egípcio deposto, Mohamed Mursi, em prédio após ataque em acampamento de manifestantes no Cairo (Mohamed Abd El Ghany/Reuters)

Um banner do presidente egípcio deposto, Mohamed Mursi, em prédio após ataque em acampamento de manifestantes no Cairo (Mohamed Abd El Ghany/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 15 de agosto de 2013 às 20h56.

Cairo - O número de mortos contabilizados na violência ocorrida ontem na capital do Egito passou dos 600 e familiares buscam parentes desaparecidos entre os corpos alojados em uma mesquita. A condenação mundial ao massacre promovido pelos apoiadores do presidente deposto, Mohammed Morsi, ampliou, incluindo a resposta severa do presidente Barack Obama, que cancelou os exercícios militares conjuntos entre os EUA e o Egito.

Nesta quinta-feira, apoiadores de Morsi, invadiram e atearam fogo em dois edifícios do governo local em Gizé, uma cidade perto do Cairo, segundo uma emissora de televisão estatal. Repórteres da Associated Press viram os prédios em chamas e imagens mostram os funcionários deixando o prédio em meio a uma nuvem de fumaça.

A violência se espalhou pelo país e Ministério de Interior orientou a polícia a usar munição real para deter ataques a prédios do governo e instalações das forças de segurança

"O Ministério de Interior orientou todas as forças de segurança a usarem munição real para deter qualquer ataque a prédios ou às forças do governo", dizia uma nota divulgada pela pasta.

A Irmandade Muçulmana, tentando se agrupar após o ataque ao seus acampamentos e prisão de seu principais líderes, convocou para esta sexta-feira uma marcha no Cairo. O grupo afirmou que a marcha terá início na mesquita Al Iman e será um protesto "pela morte de parentes". A manifestação é um desafio ao estado de emergência e toque de recolher decretado ontem pelo governo.

O Ministério da Saúde do Egito atualizou para 638 o número de pessoas mortas nos conflitos ocorridos ontem entre policiais e simpatizantes do presidente deposto Mohammed Morsi. Um porta-voz do ministério, Khaled el-Khateeb, informou também que o total de feridos é de aproximadamente quatro mil.


A onda de violência teve início quando a polícia do Cairo tentou desfazer dois acampamentos de manifestantes a favor de Morsi, que foi derrubado do poder em 3 de julho, e logo se espalhou para outras partes da capital e outras cidades do país.

Segundo El-Khateeb, 288 pessoas foram mortas no maior dos dois campos, no distrito de Nasr City, na área leste do Cairo.

O governo Obama pediu um fim imediato da repressão militar no Egito e a retirada do estado de emergência, em um endurecimento significativo da posição americana sobre o país do norte da África.

Os EUA resolveram abandonar os planos para realizar exercícios militares com os egípcios que estavam previstos para começar em aproximadamente um mês, disseram altos funcionários americanos.

No mês passado, o Pentágono congelou um embarque de jatos de combate F-16 ao Egito, mas disse que o exercício iria adiante como planejado. A mudança reflete as crescentes preocupações sobre as medidas adotadas pelo poderoso chefe militar do Egito, o general Abdel Fattah Al Sisi, contra os protestos da Irmandade Muçulmana, que se tornaram sangrentos ontem.

Os EUA tinham se recusado até agora a congelar aproximadamente US$ 1,3 bilhão em ajuda militar aos generais do Egito. As autoridades dos EUA disseram que continuarão a revisar a ajuda futura, levando em consideração as ações do Exército egípcio que, se acredita, provocaram a morte de mais de 190 pessoas.

"Os eventos de hoje são deploráveis e contra as aspirações egípcias de paz, inclusão e democracia genuína", afirmou ontem o secretário de Estado americano John Kerry no Departamento de estado americano. "Nós nos opomos fortemente a um retorno do estado de emergência e pedimos ao governo para respeitar os direitos humanos básicos, incluindo liberdade de assembleia pacífica e processo legal adequado de acordo com a lei."

O novo presidente do Irã, Hasan Rouhani, conclamou o exército do Egito a parar com a repressão dos manifestantes que exigem a restauração da democracia e o retorno do presidente Mohammed Morsi, deposto em um golpe militar há pouco mais de um mês.


"Digo às Forças Armadas do Egito que os egípcios são uma grande nação em busca de liberdade. Não os reprimam", declarou Rouhani em discurso no Parlamento iraniano. Ele criticou o que qualificou como "brutalidade" do exército.

O primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, pediu uma reunião urgente do Conselho de Segurança das Nações Unidas para discutir a situação no Egito, onde aproximadamente 300 pessoas foram mortas em uma ação da polícia para desmontar acampamentos de protestos montados por partidários do presidente deposto Mohammed Morsi.

Erdogan disse também que os líderes do Egito deveriam realizar um julgamento de uma "maneira justa e transparente" da ação da polícia que, segundo ele, se transformou em um "massacre".

O líder turco também criticou as nações ocidentais e outros por não falarem contra a deposição de Morsi em 3 de julho, dizendo que eles "tinham o sangue de crianças inocentes em suas mãos". O governo de Erdogan com raízes islamitas, que forjou uma aliança com Morsi, é um critico da intervenção militar no Egito.

A alta comissária de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Navi Pillay, pediu hoje um amplo inquérito sobre a repressão das forças de segurança do Egito contra os apoiadores do presidente deposto Mohammed Morsi, que deixou pelo menos 343 mortos.

"O número de mortos e feridos, mesmo segundo os dados do governo, aponta para um uso excessivo, até mesmo extremo, da força contra os manifestantes", disse Pillay em comunicado. "É preciso que haja uma investigação independente, imparcial, efetiva e credível sobre a conduta das forças de segurança. Qualquer um considerado culpado de irregularidades precisa ser responsabilizado", acrescentou.


A onda de violência no Egito provocou reações em todas as principais lideranças mundiais. O papa Francisco pediu orações em prol "da paz, diálogo e reconciliação naquela querida terra". O Escritório de Relações Exteriores da Alemanha convocou o embaixador egípcio no país para cobrar explicações. Segundo o ministro Guido Westerwelle, o embaixador foi informado "que o banho de sangue no Egito precisa acabar".

O primeiro-ministro da Turquia, Recep Erdogan, acusou o Ocidente de ignorar a violência no Egito e pediu que o Conselho de Segurança da ONU marque uma reunião urgentemente para discutir a situação. Segundo ele, os líderes egípcios precisam ser julgados de maneira justa e transparente pelo "massacre" cometido.

Já os Emirados Árabes Unidos defenderam a repressão aos protestos. "O lamentável é que grupos religiosos extremistas insistam na retórica da violência, prejudicando os interesses públicos e afetando a economia", diz o governo em comunicado.

O Egito retirou seu embaixador da Turquia em mais um sinal da rápida deterioração das relações entre os dois países desde o golpe militar que depôs Mohammed Morsi no início de julho.

A convocação do embaixador egípcio em Ancara foi anunciada por meio de uma lacônica nota divulgada hoje pelo Ministério das Relações Exteriores do Egito.

Antes da decisão, o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, havia criticado as potências ocidentais por ignorarem a gravidade da situação no Egito e pedido uma reunião urgente do Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o assunto.

Egito e Turquia mantiveram boas relações durante o período em que Morsi, primeiro presidente democraticamente eleito da história de seu país, esteve no poder.

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