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OMS: indústria do cigarro sabota campanha antitabagista

"Temos um inimigo, um inimigo cruel e astucioso, contra o qual devemos nos unir"

Ainda de acordo com a organização, a taxa anual de mortos pelo tabagismo pode superar os oito milhões em 2030 (Stock Xchng)

Ainda de acordo com a organização, a taxa anual de mortos pelo tabagismo pode superar os oito milhões em 2030 (Stock Xchng)

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Da Redação

Publicado em 21 de março de 2012 às 13h04.

A chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margaret Chan, recriminou nesta terça-feira a indústria do tabaco, à qual chamou de um "inimigo cruel e astucioso" e pediu a governos e a grupos da sociedade civil que se unam contra as empresas fabricantes de cigarro.

Em discurso durante uma conferência sobre tabagismo e saúde em Cingapura, a diretora-geral da OMS criticou as companhias de cigarro por debilitar a campanha apoiada pela ONU contra o tabagismo e riscos à saúde associados ao hábito de fumar.

"Temos um inimigo, um inimigo cruel e astucioso, contra o qual devemos nos unir", declarou aos delegados.

"O inimigo, a indústria do tabaco, mudou sua face e sua tática. O lobo não veste mais pele de cordeiro e mostra seus dentes", acrescentou.

Chan afirmou que as manobras dos fabricantes de cigarro para contestar a legalidade de medidas governamentais para proteger a saúde pública correspondem a interferência nos assuntos internos dos países.

"Isto é interferência direta nas questões internas de um país. Nós não permitiremos que adotem este tipo de tática", afirmou, acusando as companhias de usar dinheiro para bloquear os esforços para conter o tabagismo.

"Grandes empresas de tabaco conseguem contratar os melhores advogados e firmas de relações públicas que o dinheiro pode comprar. Grandes somas de dinheiro podem falar mais alto do que qualquer argumento moral, ético ou de saúde pública e derrubar até mesmo com a evidência científica mais crítica", acrescentou.


As propostas das companhias de cigarro para formar "comitês conjuntos entre governo e indústrias" para supervisionar as campanhas antitabagistas em alguns países também foram condenadas por Chan.

Ela disse que as empresas de tabaco simplesmente usariam tais comitês "para vetar qualquer política e matérias legislativas relativas ao controle do tabagismo".

"Não caiam nesta armadilha. Fazer isto é como apontar um comitê de raposas para cuidar das suas galinhas", alertou.

Ex-chefe de saúde de Hong Kong, eleita para o mais alto cargo da OMS em novembro de 2006, Chan disse que as ações legais apresentadas pelas companhias de tabaco contra autoridades de Uruguai, Noruega, Austrália e Turquia foram concebidas para enfraquecer a decisão dos governos a controlar o tabagismo.

"O que a indústria quer é ver um efeito dominó", afirmou.

"Quando a resolução de um país titubeia sob a pressão de litígios custosos e prolongados, bem como às ameaças de acordos bilionários, outros com intenções similares são propensos a hesitar também", continuou.

Conclamando grupos da sociedade civil para assumir a dianteira quando os esforços oficiais se fragilizarem devido aos desafios legais da indústria do tabaco, ela afirmou: "Precisamos deste tipo de clamor, deste tipo de ira".

Segundo a OMS, o tabagismo mata perto de seis milhões de pessoas ao ano, inclusive mais de 600.000 fumantes passivos, que ficam expostos aos efeitos nocivos do tabaco mesmo sem colocar um cigarro na boca.

Ainda de acordo com a organização, a taxa anual de mortos pelo tabagismo pode superar os oito milhões em 2030.

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