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OMS e regulador europeu discutem aval à vacina da AstraZeneca

França, Itália, Portugal e Alemanha paralisaram ontem aplicação da vacina enquanto se investiga a causa de coágulos em uma dezena de vacinados. Reguladores têm defendido que não há relação com a vacina

PEC prevê proibição de cobrança de tributos sobre vacinas contra covid-19 (Henry Nicholls/File Photo/Reuters)

PEC prevê proibição de cobrança de tributos sobre vacinas contra covid-19 (Henry Nicholls/File Photo/Reuters)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 16 de março de 2021 às 06h00.

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A discussão sobre os possíveis efeitos colaterais da vacina da AstraZeneca continua nesta terça-feira,16. A Organização Mundial da Saúde se reúne hoje para analisar os questionamentos de que a vacina possa ter sido a causa de coágulos em algumas pessoas vacinadas. Paralelamente, um grupo de especialistas da EMA, agência reguladora da União Europeia, também se reúne a partir desta manhã para discutir o caso.

Ontem, ambas as organizações defenderam a continuidade da aplicação da vacina mesmo com vários países paralisando a imunização. As reuniões de hoje podem mostrar se estão dispostas a mudar de ideia.

A EMA disse estar trabalhando com base em informações coletadas com diversos países e sobretudo no Reino Unido, que já aplicou 11 milhões de doses do imunizante — sem efeitos colaterais graves encontrados até agora e com os reguladores britânicos sendo os principais defensores da vacina. A EMA afirmou que deve divulgar os resultados da análise na quinta-feira, 18.

Portugal se tornou na noite de ontem o 14º país a pausar a aplicação da vacina. O país se juntou a Alemanha, França, Itália, que também suspenderam a aplicação na segunda-feira, 15, enquanto outras nações europeias que já haviam paralisado a imunização com a AstraZeneca dias antes.

Ontem, OMS e EMA divulgaram comunicados afirmando que coágulos são comuns e que não há evidência por ora de que há relação com a vacina da AstraZeneca. Foram vacinados com o imunizante mais de 17 milhões de pessoas na União Europeia e no Reino Unido, enquanto o número de casos encontrados de coágulos nos vacinados não passam de algumas dezenas.

As organizações dizem ainda que a covid-19, seus riscos de morte e potenciais efeitos colaterais permanentes para os sobreviventes são mais perigosos do que riscos não comprovados da vacina, e que os países não deveriam deixar de vacinar milhares de pessoas apenas pelas suspeitas.

A União Europeia registrou até agora 575.000 mortes por covid-19 e mais de 24 milhões de casos. Os países do bloco têm registrado cerca de 2.000 mortes por dia, segundo a média móvel dos últimos sete dias.

O número de novos casos e mortes por covid-19 caíram drasticamente na Europa Ocidental e no Reino Unido em meio ao avanço da vacinação.

"A EMA segue sendo da visão de que os benefícios da vacina da AstraZeneca em prevenir a covid-19, com seu risco associado de hospitalização e mortes, superam os riscos de efeitos colaterais", disse a reguladora europeia em comunicado nesta segunda-feira.

Em nota global, a AstraZeneca disse que não há evidência de que houve risco "aumentado" de problemas após pessoas tomarem a vacina. A empresa disse no comunicado que, até 8 de março, foram relatados 15 eventos de trombose venosa profunda (TVP) e 22 eventos de embolia pulmonar entre vacinados.

Segundo Ann Taylor, diretora médica da AstraZeneca, “o número de casos de eventos tromboembólicos relatados neste grupo [que recebeu a vacina] é menor do que as centenas de casos que seriam esperados na população geral".

"A natureza da pandemia levou maior atenção aos casos individuais e estamos indo além das práticas padrão para monitoramento de segurança de medicamentos aprovados ao relatar eventos vacinais, para garantir a segurança pública”, disse, em nota.

Há atenção especial ao lote de vacinas entregue aos membros da União Europeia, mas a AstraZeneca diz que testes de qualidade até agora não mostraram "problemas relacionados com qualquer lote da nossa vacina utilizada na Europa ou em qualquer outra parte do mundo". A empresa diz que testes adicionais estão sendo conduzidos.

A vacina do mesmo tipo usada no Brasil foi enviada não pela fábrica própria da AstraZeneca, mas pelo Instituto Serum, na Índia, o maior fabricante de vacinas do mundo e que tem acordo com a AstraZeneca para produzir e distribuir doses da vacina. Por ora, as 4 milhões de doses prontas que chegaram ao Brasil vieram todas do Serum. A fábrica da Fundação Oswaldo Cruz também começou neste mês as próprias doses com insumo (o chamado IFA) importado e entrega as primeiras doses nesta semana.

As suspensões acentuam ainda os embates recentes entre a União Europeia e a AstraZeneca e as questões políticas envolvendo as vacinas contra o coronavírus em todo o mundo.

A empresa, que é de origem britânica e sueca, anunciou nos últimos meses que atrasaria a entrega de parte das vacinas vendidas à UE, o que irritou as potências do bloco. Grande aposta europeia para vacinação em massa, a AstraZeneca anunciou em fevereiro que conseguiria entregar só metade das doses prometidas à União Europeia, que pagou por parte do desenvolvimento da vacina, feita em parceria com a Universidade de Oxford. Ao todo, a UE reservou 400 milhões de doses.

Outro ponto sensível para o bloco europeu é o fato de que as entregas para o Reino Unido — que deixou a UE oficialmente após o Brexit — têm sido feitas sem maiores atrasos.

O Reino Unido é um dos países que mais vacinaram no mundo até agora (foram 38 doses aplicadas a cada 100 habitantes). Os britânicos têm conseguido vacinar proporcionalmente com mais velocidade do que o bloco europeu (11 doses a cada 100 habitantes). Além da AstraZeneca, ambos usam as vacinas de Pfizer e Moderna, que têm tecnologia de RNA mensageiro.

A AstraZeneca afirma que não tem conseguido produzir as quantidades prometidas, e que o Reino Unido aprovou a vacina antes da UE, o que fez o país receber doses mais cedo. A EMA, a reguladora da União Europeia, só aprovou a vacina em 29 de janeiro, quase dois meses após os britânicos.


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