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OMS assume culpa por fracasso na operação contra ebola

Documentos confidenciais da entidade ainda revelaram como o escritório africano da OMS dificultou o trabalho dos especialistas internacionais


	Profissionais britânicos transferem um recém-internado paciente com ebola para maca, em Freetown
 (Baz Ratner/Reuters)

Profissionais britânicos transferem um recém-internado paciente com ebola para maca, em Freetown (Baz Ratner/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 20 de abril de 2015 às 12h23.

Genebra - Dezesseis meses depois da eclosão do pior surto de ebola da história, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apresenta uma espécie de desculpas ao mundo pela desastrosa resposta à doença, reconhece que falhou e promete promover uma ampla reforma da entidade que hoje vive um sério golpe em sua credibilidade.

Para os críticos, o mea-culpa vem tarde demais para milhares que perderam suas vidas e países que foram colocados de joelhos.

10,6 mil pessoas morreram por causa do vírus e 25,7 mil pessoas foram contaminadas no oeste da África. O Produto Interno Bruto (PIB) de Serra Leoa, Guiné e Libéria desabaram e a reconstrução dessas economias pode levar uma década.

Os primeiros sinais do ebola surgiram em dezembro de 2013. Mas não foi até março que a OMS decidiu reconhecer que o problema existia. Documentos confidenciais da entidade ainda revelaram como o escritório africano da OMS dificultou o trabalho dos especialistas internacionais e como, em maio de 2014, a entidade chegou a declarar aos jornalistas que o surto estava praticamente controlado.

A OMS ainda levou cinco meses e esperou por mil mortos antes de declarar o ebola como uma emergência de saúde internacional, em agosto de 2014.

Agora, em um comunicado atípico, a entidade apresenta seu "mea-culpa" à comunidade internacional. Para ela, o surto "serviu de recado de que o mundo, inclusive a OMS, não estão preparados". "Aprendemos lições de humildade", admitiu a OMS.

"Fomos lentos e ineficientes ao não alertar de forma mais agressiva o mundo", indicou o comunicado. "Aprendemos a importância da comunicação", reconheceu. "Nossa capacidade era limitada, não agimos de forma coordenada e houve confusão nos papéis e responsabilidades."

Reconhecendo que a OMS aprendeu "lições de fragilidade", a entidade indicou que uma das conclusões dessa crise foi a de que o importante não é apenas "passar mensagens". "Precisamos aprender a lição de ouvir se queremos ser ouvidos", destacou a OMS.

Em sua avaliação, a crise do ebola provou que apenas um sistema global de respostas a surtos pode dar uma solução. "Uma ameaça a um país é uma ameaça a todos", indicou.

A OMS também alertou que deixar o sistema de saúde apenas às forças do mercado não funciona. Prova disso é que, apesar da doença ser conhecida há 40 anos, não existia uma vacina diante da falta de interesse econômico das empresas.

A entidade também se comprometeu em passar por uma ampla reforma. "Estamos comprometidos a garantir que a OMS será reformada", indicou. "Alguns dizem que o mundo precisa que uma nova entidade seja criada. Concordamos com isso e queremos que a OMS seja essa organização", concluiu.

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