Palestinos refugiados do campo de Ain Al-Helwehm, no Líbano, participam de protesto contra a violência no campo de refugiados de Yarmuk (Mahmoud Zayyat/AFP)
Da Redação
Publicado em 10 de abril de 2015 às 10h43.
Ramallah - A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) negou que vá participar na defesa do campo de refugiados de Yarmuk contra os jihadistas na Síria, ao contrário do que declarou na véspera um representante palestino após reunir-se com dirigentes do regime de Damasco.
A OLP afirmou, em um comunicado divulgado na quinta-feira, que "sua postura nunca mudou" e que se nega a levar seu povo para "o inferno do conflito que ocorre na aliada Síria".
"Rejeitamos de forma categórica virar uma das partes do conflito armado em Yarmuk", acrescenta o texto.
Milhares de refugiados palestinos estão estão sitiados neste campo situado na periferia de Damasco desde que o grupo Estado Islâmico (EI) lançou uma ofensiva em 1o. de abril passado.
Na quinta, Ahmed Majdalani, chefe da delegação da OLP em Damasco, havia declarado que as organizações palestinas iriam, pela primeira vez, apoiar uma operação militar conjunta com o governo sírio para expulsar os jihadistas de Yarmuk.
"O esforço palestino será complementar ao papel do Estado sírio para purificar de terroristas o campo Yarmuk", afirmou.
Esta declaração aconteceu no dia seguinte a uma reunião de Majdalani com todas as organizações palestinas, exceto a Aknaf Beit al-Maqdess, próxima do Hamas e hostil ao regime sírio.
Majdalani explicou que a ação militar contra o EI seria baseado nas seguintes condições: "levar em conta a vida dos cidadãos no campo de Yarmuk e evitar destruição em massa". "A operação deve ser efetuada de forma progressiva", acrescentou.
Também na quinta-feira, o ministro sírio da Reconciliação Nacional, Ali Haidar, declarou que "a prioridade é expulsar e vencer os homens armados e os terroristas no campo".
"Nas atuais circunstâncias, se impõe uma solução militar. Não foi o Estado que escolheu, e sim os que entraram no local", completou o ministro.
No dia 1o. de abril, jihadistas do grupo EI entraram em Yarmuk e assumiram o controle de várias áreas do campo de refugiados, que fica ao sul de Damasco.
A chegada do Estado Islâmico provocou a fuga de milhares de habitantes de Yarmuk para bairros de Damasco controlados pelo governo.
Yarmuk, o maior campo de refugiados palestinos da Síria, abrigava 160.000 pessoas antes da guerra, iniciada há quatro anos, mas atualmente conta com apenas 17.500, incluindo 12.000 palestinos e 5.000 sírios, antes do ataque jihadista. Até o momento, 2.000 palestinos foram evacuados do campo.
Em um comunicado divulgado na véspera, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) apelou a um "acesso imediato ao campo (...) para prestar assistência humanitária", considerando "alarmante a situação de milhares de civis, cujas vidas estão gravemente ameaçadas pelos combates ".
"Nenhuma ajuda externa tem entrado há muito tempo, e as necessidades humanitárias estão aumentando dia a dia", acrescentou a organização que pede "a todas as partes em conflito a respeitar as obrigações que lhes incumbem nos termos do direito humanitário internacional".
Já o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu que se evite um massacre no campo de Yarmuk.
"Não podemos ficar sem fazer nada e deixar que ocorra um massacre, a população de Yarmuk não deve ser abandonada", afirmou aos jornalistas.
"O que acontece em Yarmuk é inaceitável", afirmou o chefe da ONU. "Os habitantes de Yarmuk, entre eles 3.500 crianças, se transformaram em escudos humanos", enfatizou.
Desde 2012, Yarmuk está submetido a um cerco implacável do regime de Bashar al-Assad, que provocou a morte de cerca de 200 pessoas por má nutrição e falta de medicamentos.