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Ofensiva jihadista volta a ameaçar unidade do Iraque

A ofensiva jihadista no Iraque, assolado por conflitos entre grupos étnicos e religiosos, colocava novamente em risco a estrutura centralizada criada em 1920

Xiitas contrários aos militantes jihadistas exibem suas armas no Iraque (Haidar Hamdani/AFP)

Xiitas contrários aos militantes jihadistas exibem suas armas no Iraque (Haidar Hamdani/AFP)

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Da Redação

Publicado em 18 de junho de 2014 às 14h37.

Beirute - A ofensiva jihadista no Iraque, país assolado por conflitos entre grupos étnicos e religiosos, colocava novamente em risco a estrutura centralizada criada em 1920 e, de acordo com analistas, o país só poderá sobreviver em forma de federação.

Em uma semana, este país nascido dos escombros do Império Otomano viu sua unidade territorial em xeque diante da insurreição sunita no oeste e no norte, da tomada de controle da região rica em petróleo de Kirkuk pelos curdos e dos apelos à guerra feitos por líderes xiitas.

"Do ponto de vista curdo, é um momento irreversível. O status de Kirkuk era uma questão espinhosa, mas foi resolvida em uma noite graças à ofensiva do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL)", explica Fanar Haddad, pesquisador do Instituto do Oriente Médio da Universidade de Cingapura.

Desde a invasão americana de 2003, os curdos pediam a anexação da província de Kirkuk à região autônoma curda do Iraque. Graças as suas reservas petrolíferas os curdos têm agora a independência econômica que Bagdá sempre negou.

O primeiro-ministro do Curdistão iraquiano, Nechirvan Barzani, foi muito claro a esse respeito e disse em uma entrevista à BBC que é impossível retornar à situação anterior à ofensiva sunita.

"Os últimos acontecimentos levam o país a uma divisão formal ou informal. Nunca até agora a possibilidade de divisão das zonas árabes do Iraque havia sido tão grande", afirma Haddad.

O Iraque atual, criado em 1920 e independente desde 1932, sempre teve instituições centralizadas, mesmo quando o poder passou em 2003 dos sunitas aos xiitas e apesar do status especial que o Curdistão iraquiano tem desde 1991.

"Um Iraque unificado não é impossível, embora muito improvável, porque as divisões são muito radicais. As fronteiras internas, que existiam de fato, mudaram e é provável que se transformem em fronteiras de direito nos próximos anos", explica John Drake, um analista de segurança do grupo Ake.

Pelo contrário, Arthur Quesnay, pesquisador do Instituto Francês do Oriente Médio, não está convencido de que o país vai se dividir.

"O Iraque pode existir como um país, mas com um sistema federal ou confederado, se forem feitas negociações e se for alcançado um consenso entre Bagdá e os diferentes atores envolvidos. A Constituição permite isso", afirma.

Segundo Quesnay, "a maioria de árabes sunitas, inclusive os insurgentes, é nacionalista" e só querem mais autonomia de suas regiões.

De qualquer forma, todos os especialistas concordam que a situação atual é consequência da invasão dos Estados Unidos em 2003, que derrubou o ditador sunita Saddam Hussein, embora o atual primeiro-ministro xiita, Nuri al-Maliki, também tenha sua parcela de responsabilidade.

"Os americanos desmantelaram as instituições, mas Maliki entrará para a história como o homem que perdeu zonas inteiras do Iraque. Foi durante seu governo que o Iraque perdeu sua integridade territorial", afirma Ruba Husari, editora do site Iraq Oil Forum.

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