Obrador assume a presidência apenas no dia 1º de dezembro e ele anunciou que fará um giro por municípios antes de tomar posse, o que ajudará sua equipe na elaboração do que ele chamou de "projeto de nação" (Alexandre Meneghini/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 3 de julho de 2018 às 10h28.
Cidade do México - Andrés Manuel López Obrador teve uma noite de domingo (1º) triunfante: foi eleito presidente do México, seu partido venceu quatro das oito eleições para governador, fez a prefeita da capital e obteve maioria no Congresso. Nesta segunda-feira, 2, adotou um tom conciliador em duas frentes importantes: tranquilizou os mercados e quebrou o gelo com o presidente dos EUA, Donald Trump. Em conversa por telefone, eles discutiram segurança e redução da imigração.
Recibí llamada de Donald Trump y conversamos durante media hora. Le propuse explorar un acuerdo integral; de proyectos de desarrollo que generen empleos en México, y con ello, reducir la migración y mejorar la seguridad. Hubo trato respetuoso y dialogarán nuestros representantes.
— Andrés Manuel (@lopezobrador_) July 2, 2018
Trump e Obrador conversaram sobre imigração, comércio e questões de segurança. "Recebi um telefonema de Trump e conversamos durante meia hora. Eu lhe pedi que discutíssemos um acordo integral e projetos de desenvolvimento que criem empregos no México. Com isso, podemos reduzir a imigração e melhorar a segurança", escreveu Obrador no Twitter.
O presidente americano também comentou o diálogo. "Acho que o nosso relacionamento será muito bom e acredito que isso vai nos ajudar na fronteira", disse Trump, em declarações à imprensa na Casa Branca. "Tivemos uma grande conversa, de cerca de meia hora, e falamos sobre a segurança das fronteiras, comércio e Nafta (Tratado de Livre Comércio da América do Norte), com a possibilidade de um acordo em separado, apenas entre México e EUA."
Foi a primeira de muitas conversas. O mandato de Obrador é de seis anos. Trump buscará a reeleição em 2020, o que lhe permitiria ocupar a Casa Branca até 2024. O México tem uma grande dependência comercial dos EUA - 80% de suas exportações cruzam a fronteira americana. Mas Obrador tem algumas armas, principalmente a imigração e o narcotráfico, problemas que exigem cooperação bilateral.
Outra força de Obrador nas negociações com os EUA está na China. Segundo Luis Oganes, chefe de pesquisa econômica do JP Morgan para a América Latina, o México investe 2,6% do PIB em infraestrutura, mas Obrador prometeu aumentar para 5%. "A China está muito interessada em investir em projetos mexicanos", disse Oganes, que acredita no incremento comercial entre os dois países. Por isso, se Trump pretende conter o avanço chinês na América Latina, segundo analistas, não pode se afastar do novo presidente do México.
O presidente do México, Enrique Peña Nieto, também colocou à disposição de Obrador sua equipe ministerial para realizar uma transição "ordenada e eficiente". Os dois se reunirão nesta terça-feira, 3, no Palácio Nacional e discutirão um dos temas mais controvertidos da campanha: a suspensão da construção do aeroporto internacional da Cidade do México, obra que custará US$ 13 bilhões.
Obrador assume a presidência apenas no dia 1º de dezembro. Até lá, ele anunciou que fará um giro por municípios, que ajudará sua equipe na elaboração do que ele chamou de "projeto de nação" - espécie de refundação do país.
Segundo os primeiros resultados divulgados pelo Instituto Nacional Eleitoral, ele deve obter 53% dos votos - votação que os mexicanos não viam desde os tempos em que o PRI fraudava as eleições. As projeções também indicam que ele terá maioria no Congresso. Sua coligação fará 65 dos 128 senadores e 255 dos 500 deputados.
Das oito eleições estaduais, seu partido, o Movimento da Regeneração Nacional (Morena), venceu em quatro - Veracruz, Morelos, Tabasco e Chiapas - e ainda elegeu Claudia Sheinbaum, a primeira mulher para comandar a Cidade do México.