Secretário de Estado Marco Rubio fala a jornalistas em viagem no Aeroporto Internacional John C. Munro Hamilton, em Hamilton, Ontário (Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 15 de novembro de 2025 às 18h31.
Última atualização em 15 de novembro de 2025 às 18h37.
Os Estados Unidos passaram a considerar obesidade, diabetes, câncer, doenças cardíacas, doenças respiratórias e outros problemas de saúde crônicos como fatores que podem levar à negação de vistos, segundo documentos internos divulgados pela imprensa americana. A medida integra uma nova etapa da estratégia de endurecimento migratório do governo Donald Trump.
A informação foi revelada inicialmente pelo Washington Post com base em um memorando assinado pelo secretário de Estado, Marco Rubio, e enviado a todas as embaixadas e consulados em 6 de novembro de 2025.
De acordo com os documentos divulgados, diplomatas agora devem avaliar:
Histórico de doenças crônicas do requerente, mesmo quando não contagiosas;
Possível custo financeiro ao sistema de saúde norte-americano ao longo do tempo;
Idade do solicitante, número de dependentes e eventuais deficiências na família;
Risco de dependência de serviços públicos, dentro da política conhecida como public charge.
A orientação amplia significativamente o escopo das avaliações médicas — antes voltadas quase exclusivamente a doenças transmissíveis — e autoriza oficiais consulares a negar vistos caso considerem que o candidato ou seus dependentes podem representar “alto custo médico futuro”.
Segundo dados citados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 16% dos adultos no mundo eram obesos em 2022, e 14% tinham diabetes no mesmo ano. Essas condições, apesar de comuns, passam a integrar a análise de risco financeiro das autoridades americanas.
Especialistas em imigração afirmam que essa mudança amplia o número de pessoas vulneráveis à negativa de visto, já que as condições citadas estão entre as doenças crônicas mais prevalentes no mundo.
Advogados consultados pelo Washington Post afirmam que as novas diretrizes não passaram pelo processo tradicional de revisão regulatória, o que normalmente inclui período de consulta pública. Com isso, a norma entra em vigor imediatamente e dá maior poder discricionário aos diplomatas.
Critérios de saúde, idade e composição familiar passam a ser interpretados caso a caso, o que, segundo especialistas, pode aumentar o número de negativas e retardar a análise de pedidos.
A mudança ocorre em meio a uma série de medidas adotadas pelo governo Trump para restringir imigração legal e ilegal. Entre elas:
Nova taxa de US$ 100 mil para aplicações do H-1B, uma das principais vias de profissionais qualificados;
Aumento de requisitos documentais para vistos de trabalho e estudo;
Triagem mais rigorosa em consulados, com prioridade para risco financeiro e vínculo com dependência governamental.
A diretriz mantém algumas exceções importantes. Refugiados, solicitantes de asilo e casos humanitários específicos não estão sujeitos à avaliação por “carga pública”.
No entanto, especialistas alertam que, na prática, mesmo candidatos isentos podem enfrentar atrasos adicionais devido ao novo padrão de triagem.
Organizações de direitos migratórios afirmam que a medida:
penaliza condições de saúde comuns em proporções globais;
aumenta a subjetividade nas entrevistas consulares;
pode criar discriminação indireta contra países com maior incidência de doenças crônicas.
Críticos ouvidos pelo Washington Post afirmam que autoridades americanas estão “buscando novas formas de negar vistos que antes seriam aprovados”.