Obama e rei Salman: as decisões do governo Obama, sobre a Síria e o acordo com o Irã, foram rejeitadas pelas monarquias sunitas (Kevin Lamarque / Reuters)
Da Redação
Publicado em 20 de abril de 2016 às 16h51.
Barack Obama iniciou nesta quarta-feira uma visita de dois dias à Arábia Saudita, um aliado histórico dos Estados Unidos, que ainda não digeriu bem a abertura de Washington em relação a Teerã.
O presidente americano desembarcou no início da tarde em Riad, capital do reino, e deve se reunir com o rei Salman, de 80 anos.
Na quinta-feira, Obama participa de uma cúpula com as seis monarquias do Conselho de Cooperação do Golfo (Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Omã e Catar).
Desta vez, a chegada do presidente americano não foi transmitida ao vivo em rede nacional, como aconteceu em sua visita anterior, em janeiro de 2015.
As decisões do governo Obama - da recusa a intervir na Síria contra o regime de Bashar al-Assad às negociações nucleares com o Irã, grande adversário xiita de Riad - foram rejeitadas pelas monarquias sunitas.
"Ainda que a visita seja apresentada como uma ocasião para reforçar a aliança, ela evidenciará até que ponto Washington e Riad se distanciaram nos últimos oito anos", segundo o analista Simon Henderson, do Washington Institute for Near East Policy.
"Para Obama, o problema central do Oriente Médio é a luta contra o grupo Estado Islâmico (EI). Para a dinastia Al-Saud, (o problema) é o Irã", resumiu Henderson, em um artigo publicado na revista Foreign Policy.
Contra aqueles que apostam em uma visita de despedida (a última de Obama antes de abandonar o poder) resumida em uma simples foto da família, a Casa Branca lembra da solidez de uma aliança que data da época de Franklin Delano Roosevelt, destacando os esforços conjuntos contra os extremistas no Iraque e na Síria.
"A relação sempre foi complexa (...) mas existe uma base de cooperação sobre interesses comuns, em particular a luta antiterrorista", declarou Ben Rhodes, assessor de Obama e vice-conselheiro de Segurança Nacional para Comunicações Estratégicas.
"Paz fria"
As monarquias esperam um reforço da ajuda militar americana - por si só muito elevada -, assim como ajuda para lutar contra ciberataques. Temem, em particular, que Teerã apoie dissidentes para fragilizar seus governos.
As monarquias sunitas também esperam que o presidente americano, que deixará o cargo em janeiro de 2017, articule um discurso firme contra Teerã.
Em um artigo publicado em meados de março na revista The Atlantic, Obama rejeitava o argumento de que "Irã é a fonte de todos os problemas" e convidava seus "amigos" sauditas a encontrar uma maneira de se entender com Teerã.
Sua proposta foi muito mal recebida em Riad.
Outra questão sensível e fonte de tensões recorrentes é o possível papel da Arábia Saudita nos atentados do 11 de Setembro nos Estados Unidos. Dos 19 sequestradores dos aviões, 15 eram dessa nacionalidade.
Congressistas republicanos e democratas apresentado um projeto de lei que permitiria levá-los à Justiça americana.
Vozes "silenciadas"
Na véspera de sua viagem, Obama quis explicar até que ponto se "opunha" ao texto.
"Se tornarmos possível o fato de levar outros países à Justiça, abrimos a porta para que indivíduos de outros países lancem continuamente ações legais contra os Estados Unidos", advertiu.
O Executivo americano espera que as conversas se concentrem na luta contra o EI, o qual sofreu vários golpes no Iraque, e em encontrar soluções para os conflitos da região.
Na Síria e no Iêmen, os tímidos esforços de paz mostraram, porém, nas últimas 48 horas, até que ponto são frágeis.
Em uma carta aberta a Barack Obama, a Anistia Internacional lhe pede que ponha a questão dos direitos humanos no centro das discussões, lamentando que as vozes dissonantes nas monarquias do Golfo sejam sistematicamente "silenciadas" com a desculpa da Segurança Nacional.
"Calar essas vozes - dos defensores dos direitos humanos, ativistas, jornalistas, líderes da oposição - se tornou rotina", lamentou a ONG.